JORNAL do ALGARVE (JA) – Quais são as razões que estão na base da sua candidatura?
André Gomes (AG) – Razões de coração para esta decisão tenho-as de sobra. O Algarve é o meu território afetivo, a minha casa, onde casei, tive filhos e a quem já dediquei 20 anos de trabalho, 15 deles na área do turismo. Atrevo-me, com esta candidatura, e porque, como o poeta, ‘tenho em mim todos os sonhos do mundo’, a levar mais alto e ainda mais longe o principal destino turístico do país (…) o melhor, o mais diversificado, o mais sustentável, o mais inovador, o mais capacitado.
JA – Quem o acompanha nesta jornada?
AG – O mandatário da candidatura é o empresário Renato Pereira, do Júpiter Hotel Group. Alberto Mota Borges, diretor do Aeroporto Internacional de Faro, integra a lista como candidato a membro da Comissão Executiva. Para a Mesa da Assembleia Geral, Hélder Martins, da AHETA, recandidata-se a novo mandato de presidente, enquanto Isolete Correia, da Associação Portuguesa de Portos de Recreio, propõe-se na qualidade de secretária da Mesa da Assembleia Geral. Para a Comissão Executiva, apresenta-se, além de Alberto Mota Borges, Fátima Catarina, atual vice-presidente da RTA e candidata a novo mandato.
JA – Em caso de vitória, o que quer fazer de diferente na RTA?
AG – Julgo que há aqui um nível em que posso fazer algo diferente e tem a ver com o facto de já trabalhar nesta casa há cinco anos como dirigente intermédio. A ser eleito, seria o primeiro presidente que já passou por essa estrutura e isso permite-me ter um conhecimento pleno daquilo que são as nossas dificuldades operacionais, os nossos procedimentos, a forma de funcionar e nomeadamente aqueles obstáculos que temos de ultrapassar e travar todos os dias.
JA – Relativamente ao mandato de João Fernandes, considera que ficou alguma coisa por fazer?
AG – Não seria coerente comigo próprio se agora, depois te der dado um contributo durante estes cinco anos para a estratégia e tendo dado corpo à mesma através da organização de muitas ações, viesse dizer que tinha sido mal feito e que a estratégia não foi a mais correta. De todo… A minha candidatura será na linha da estratégia seguida pelo atual presidente, João Fernandes, que subscrevo na íntegra.
JA – Qual vai ser a sua estratégia?
AG – Em termos estratégicos, a nossa aposta vai continuar a passar pela diversificação da nossa oferta, pela valorização e pela capacitação dos nossos agentes. Julgo que há aqui algum trabalho que podemos fazer também ao nível do estreitamento de relações entre aqueles que são os membros da Assembleia Geral, algumas das associações representativas do setor que por uma razão ou por outra têm uma participação menos ativa ao nível da atividade da entidade regional. É um ponto que poderemos reforçar…
JA – Pode dar-nos alguns exemplos?
AG – Falo, portanto, da relação com os empresários. Consigo identificar melhor os bons exemplos e a verdade é que temos bons exemplos em todas as áreas. Em determinadas áreas conseguimos dinamizar trabalhos fantásticos e alguns deles são até inovadores… Recordo-me, por exemplo, neste último mandato, durante a pandemia, em que em conjunto com a Associação Portuguesa de Portos de Recreio foram definidas as regras do Clean & Safe para as praias e para as áreas portuárias e portanto foi uma coisa completamente nova que foi impulsionada pela Região de Turismo do Algarve, com o apoio de uma das associações que faz parte da entidade regional. Temos muitos outros exemplos de trabalhos que desenvolvemos com o NERA e com outras associações, mas julgo que poderemos fazê-lo também com mais ainda. Quanto mais agentes envolvermos, sejam eles do setor público ou do setor privado, vai ser certamente melhor.
JA – Quais serão as suas prioridades enquanto presidente?
AG – No que toca a prioridades, volto a falar da diversificação e valorização da oferta e do produto turístico da região. Em segundo lugar, queremos aumentar a promoção do destino, alicerçados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas. Depois a diversificação das fontes de financiamento, o fortalecimento das parcerias público-privadas e a melhoria da qualidade dos serviços e das infraestruturas turísticas são outros dos objetivos que procuramos almejar. Friso também a importância de incentivar o empreendedorismo. Uma das grandes causas que me irão mover durante todo o período do mandato será o subfinanciamento da RTA. A verba do Orçamento de Estado atribuída às entidades regionais de turismo tem-se mantido inalterada desde 2016 e isto reflete um forte desinvestimento no turismo do Algarve. É uma luta antiga da RTA que anteriores presidentes travaram sem o sucesso desejado, mas a que me proponho juntar com energia redobrada. Também estou empenhado na alteração da reforma da Lei n.º 33/2013, que estabelece o regime jurídico da organização e funcionamento das entidades regionais de turismo… Há muito que a RTA prova, à semelhança de outras regiões de turismo, que tem condições para maior autonomia administrativa e financeira…
JA – Como pensa resolver o problema da escassez de mão de obra no setor?
AG – Gostava de ter soluções miraculosas. De facto, há algum trabalho que tem sido feito e que tem que ser prosseguido. Até foi iniciado pelo atual presidente em conjunto com as associações e com os empresários do setor. Os empresários prepararam-se cada vez mais e melhor para a escassez de recursos humanos que todos sabíamos que íamos atravessar, não só na região e a nível nacional, e até a nível internacional. Aqui a nossa vizinha Espanha debate-se, neste momento, precisamente com o mesmo problema e tem procurado, quer a nível do setor público, quer do setor privado, encontrar soluções. Não é uma solução que surge de um momento para o outro… Passa pela construção de habitação e nisso também temos o empenho forte por parte do Governo, em conjunto com as câmaras municipais na construção e aquisição de habitação para profissionais de diferentes áreas. Repare-se que também não é um problema que só afeta o turismo. Afeta a saúde, a educação, as forças de segurança… Portanto, todo o contributo que a área do turismo e os seus agentes poderem dar para resolver esse problema, cá estaremos para ajudar.
JA – O Algarve é uma das regiões que mais contribui, mas é das que menos recebe. Deviam existir mais ajudas, mais apoio, mais verbas para o Turismo?
AG – Sem dúvida. Como disse, as entidades regionais de turismo, hoje em dia, estão claramente subfinanciadas. Não é só a do Algarve, mas a do Algarve acaba por nos custar mais porque todos nós temos noção daquilo que é o peso e contributo que o turismo do Algarve dá para a economia nacional, não só para a economia do turismo, mas para toda a economia nacional. Aliás, recentemente um membro do Governo, salvo erro o ministro das Finanças, voltou a referir a importância do turismo para o dinamismo económico a nível nacional. Era importante também que esse dinamismo e que esse contributo tivesse equivalência naquilo que é o financiamento para as entidades regionais de turismo.
JA – A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve será um apoio fulcral, portanto…
AG – A CCDR é um dos nossos parceiros do presente, do passado e continuará a ser, claramente, no futuro. A partir do momento que é o organismo que faz a gestão dos fundos estruturais e que com eles desenvolvemos inúmeros projetos que nos permitem muitas vezes não só alavancar aquilo que é a nossa atividade corrente, como também novos projetos, claramente que a CCDR tem um papel fundamental e contamos com o seu apoio.
JA – De que forma pretende cunhar o seu mandato como presidente da RTA?
AG – Com a marca Algarve, em primeiro, que é uma marca com um valor e com um reconhecimento internacional fantástico. Em inúmeras iniciativas a que vou lá fora é incrível ver o reconhecimento que as pessoas têm pela marca Algarve. Infelizmente, muitas vezes na região não verificamos o mesmo reconhecimento e a mesma valorização. E isso era uma das coisas que eu gostava de mudar. Gostava que no final do meu mandato houvesse um maior reconhecimento por parte de todos os agentes do setor turístico e não só turístico para com essa marca. Ao nível da casa, gostava de deixar uma casa mais robustecida, com mais capacidade de financiamento e com condições para continuar a levar a cabo o trabalho que se tem vindo a fazer.
JA – Como lida com as críticas à sua candidatura?
AG – As críticas fazem parte. Estou de consciência tranquila… Com algum sentimento de injustiça que não vem de agora, mas que vem ao longo daquilo que é a minha vida profissional. Porque independentemente do que faço ou deixo de fazer, acaba sempre, por parte de algumas pessoas, ser relacionado com o facto de ser filho de… Agora mais recentemente por ser marido de. Mas como eu costumo dizer, as pessoas são livres de dizerem o que entendem. Tenho pena que isso seja o argumento político por parte de alguns agentes na região…
JA – Está a falar do PSD/Algarve?
AG – Repare que também tenho apoio por parte de responsáveis políticos nesta candidatura… Até inclusive do PSD… Portanto, não coloco a questão de ser o PSD. Colocarei, quanto muito, a questão sim, nalguns agentes que infelizmente vamos tendo na região e que é esse o argumento que utilizam.
Sobre André Gomes
André Gomes, filho da presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, foi dirigente da Juventude Socialista a nível local, regional e nacional, licenciando-se em Direito pelo Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, em Portimão. Trabalha há 15 anos na área do Turismo, tendo nos últimos cinco anos ocupado o cargo de diretor do Núcleo de Promoção, Animação e Informação Turística da RTA. É casado com Ana Varges Gomes, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).