Vai Andando Que Estou Chegando

Estou de volta a casa. O motivo principal é o agendamento para sábado da segunda doze da vacina o que me garantirá uns meses de imunidade. Oxalá o serviço a que sou chamado funcione com a eficácia da primeira vacina como aqui tive ocasião de sublinhar.

Deixo Minorca onde tenho vivido a maior parte do meu tempo e espero, desejo, que assim continue. Num espaço no qual, na edificação principal, está hasteada uma bandeira de Espanha, o que em si mesmo significa um posicionamento político, para além de nos dar a direcção e densidade dos ventos que por aqui sopram. A não ser em casos muito especiais e só pelo espaço de um dia, de resto, não vislumbro motivação para hastear uma bandeira do meu País numa das minhas varandas. O gesto reflecte, a meu ver, uma realidade que representa um problema que está política e culturalmente, longe de estar resolvido, atravessando todo o universo deste grande país, após mais de quarenta anos de ditadura franquista. Na Catalunha continuam sem se entender na formação de um novo governo, após as já distantes eleições, enquanto na Comunidade de Madrid, de cujas eleições se saberá esta semana o resultado, o final da campanha foi palco de uma radicalização da extrema-direita e do Podemos na qual ficou como símbolo, do que se pode adivinhar para o futuro próximo, as cartas ameaçadoras dirigidas ao líder do Podemos e alguns Ministros do actual governo, ameaças, cuja proveniência está por aclarar embora, não há que ser de todo ingénuo, se aproximam do discurso e posições políticas assumidas pelo Vox, partido de extrema-direita.

Vivo assim entre dois mundos o que nem sempre constitui uma situação de conforto. Pelas diferenças de cultura e de hábitos de vida, apesar de todos os esforços que de todas as partes são feitos para aprofundar a integração de todos e em particular a minha, situação confortante pela tertúlia que mantemos, aberta, em torno de posições, em múltiplas circunstâncias, manifestamente distantes.

No contexto de um vasto território rural, ocupamos um extremo do mesmo, acompanhados de uma graciosa cadela que defende o seu território com energia perante o desafio de um gato preto que tenta invadi-lo. São frequentes as visitas de corvos de bico amarelo e outras aves exóticas de que não conheço o nome. Espaço de longos silêncios, por vezes até ensurdecedores, a justificar uma saída ao encontro de pequenas elevações fortemente arborizadas e prados verdes habitados por animais que produzem uma das principais riquezas da ilha verde: carne, leite e queijo.

Volto a casa num ambiente marcado pelas últimas decisões nas quais a substituição do estado de emergência, no qual nos foi condicionado o exercício de liberdades, pelo estado de calamidade, o que conduziu o governo a aligeirar as normas que no último ano nos conduziram, a bem da defesa da saúde da população, a uma situação de prisão sem grades.

Respira-se agora um novo ar o que nos pode permitir convívio familiar mais próximo e o mesmo propiciará com amigos. A abertura das fronteiras significa um balão de oxigénio, numa economia fortemente marcada pela pandemia. A situação que se vive é, em si mesmo, e em primeiro lugar uma vitória da ciência, do SNS e de todos os seus abnegados trabalhadores, médicos, enfermeiros e demais profissionais, a que se pode juntar as medidas cautelares que foram sucedendo, de acordo com os graus de infectados e mortos pelo Covid.

Chegamos aqui gerindo o complexo problema da ausência de vacinas, e a sua distribuição e aplicação, resistindo a soluções fáceis que nos poderiam conduzir, num País pequeno e sem grandes recursos, a situações bem mais graves daquelas que suportamos. Mas ao ponto a que chegamos também o devemos à consciência e actitude da maioria do nosso povo, sem a qual tais resultados seriam difíceis senão impossíveis de alcançar. É verdade que houve e todavia existem excepções, como é normal em toda a nossa história, comportamento que devem ser punidos sem contemplações. Mas o rumo está traçado, é nele que nos devemos manter.

Carlos Figueira
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