Contas por cima, quando algum dos meus quatro fiéis leitores puser o olho sobre este artigo, já teremos ido votar para os órgãos de poder local (como se costuma dizer) estarão escolhidos e a vida, em geral, estará em vésperas de entrar nos carris à espera que chegue Novembro e a publicidade aos perfumes, sinal de que o Natal está à porta, mas não a abram que pode ser um ladrão ou alguém a oferecer droga.
Por falar nisso: os tempos de propaganda eleitoral são as maiores perdas de tempo de que há memória, principalmente na óptica do utilizador.
Pareço um gajo do antigamente – e, em parte sou-o – amante do Portugal antigo e reaça de primeira água, mas não, a verdade é que sou um liberal dos três costados e um democrata só um nível abaixo de exemplar. E agora sim, que os meus amigos já têm os sentidos preparados: no momento em que o Avarias devia ser verdadeiro arauto da decência por contraponto à indignação das redes sociais (só para vos fornecer uma ferramenta de análise), eis que acaba por ceder em toda a linha ao ver políticos nas ruas (as célebres arruadas, palavra de um mau gosto exemplar) a tudo fazerem para serem eleitos: é compreensível, mas aborrece. Vou ser um pouco mais consistente na minha ideia; que prometam isto, aquilo ou outra coisa, tudo bem. Que andem de bicicleta ainda vai que não vai. Afinal, andar hoje (amanhã e depois) de bicicleta, está muito acima do nível de, por exemplo, ajudar velhinhas a atravessar a estrada.
Qualquer dia hão-de descobrir que os carros de mula são sustentáveis e então ver-se-ão os candidatos às juntas de freguesia do centro de Lisboa ao comando desse trinómio animal – máquina – mulher/outros géneros/homem. A questão da bicicleta está arrumada, falta o grande problema que dá pela designação de “andar nos transportes públicos sem temer pela própria vida”.
Para os candidatos, andar em transportes públicos, envolve certamente uma preparação atempada e competente. Primeiro há que escolher o autocarro (comboio, eléctrico ou metro) da frota que oferece as melhores condições. Se se tratar de um político da oposição, de certeza que escolherá o pior autocarro, o que deita mais fumo preto, mas esta análise os sociólogos que a façam. Depois da escolha vem a desinfecção, que agora vem a talho de foice por causa do vírus danado, complementada por um esfreganço geral, finalizando as operações com uma passagem de gel por todas as superfícies que podem entrar em contacto com a pristina pele dos candidatos em causa.
Se tudo correr bem e os deuses ajudarem, a viagem será curta e produtiva (em termos de caça ao voto). Eu sei o que tudo isto representa para um candidato, desabituado da vida normal, frequentar esses antros do vício que são os transportes públicos não deve ser fácil.
Reconheço que os putativos candidatos devem ter uns momentos de nervos, sem dormir durante a noite, pensando o que lhes pode acontecer de mal, mas não temam, as eleições chegaram e tanta vida ao lado do povo, irá ter um fim. Daqui por quatro anos lá voltará o mesmo, mas como diz a populaça “enquanto o pau vai e volta, folgam as costas”.
Fernando Proença