AVARIAS: Natal normal

Escrevo no dia de Natal, ele próprio, rebolando-me nos cadeirões, petiscando aqui e ali. É o que me apraz dizer nesta altura, nestes dias maus/bons (riscar o que não interessa) de família, como ouvimos repetir – até à exaustão – nestes dias. E quem o repete? As redes sociais, a televisão e os jornais. Eu vejo melhor (coisa contrária ao que pensava), este sistema de estarmos à mesa e nos sofás, com a parte da família que gostamos, mas também com a que nos é indiferente ou mesmo com os primos, cunhados e irmãos contra quem temos umas contas a ajustar. É o contrário do que se chama a comunidade das redes sociais. Nesse caso só aceitamos como amigos, ou lá como se chamam, os que respeitam exactamente os nossos postos de vista. É evidente que isso não é uma verdadeira comunidade. Numa comunidade as pessoas discutem e, em princípio, até podem (já nem digo devem) ter opiniões antagónicas. Isso obriga-nos, digo eu, a ouvir o outro lado e porventura adoptá-lo uma ou outra vez. Mas não sou eu que vou dizer-vos nada. Nesta altura do campeonato, ainda se podiam pôr a pensar que tenho uma teoria sobre qualquer coisa, e é mentira. No entanto continuo com uma ou outra perplexidade: por exemplo ter descoberto que um grupo de músicos portugueses (por acaso, ou não, ligados à chamada música pop mais alternativa, seja lá o que isso for) resolveu fazer um espectáculo ao vivo em que o resultado da bilheteira será entregue, segundo penso, aos Médicos sem Fronteiras. Será uma espécie de Natal dos Hospitais em versão mais sofisticada e culta. A mim parece-me sempre um misto entre uma jogada de promoção e uma caridadezinha. Sabem que eu sou mau. Como o que vi num noticiário sobre um hotel de cinco estrelas que, percebi, ofereceu almoço a um grupo de sem-abrigo. Acho bem (quem pode não achar?), mas tenho as minhas dúvidas sobre a ingenuidade da iniciativa: a notícia não referia o nome do hotel, mas num plano inicial da peça, passaram a fachada do dito, tempo mais que suficiente para ser reconhecido. Para mais gostava de saber o que aconteceria a um daqueles sem-abrigo, se, por exemplo, num dia muito frio resolvesse procurar abrigo por umas horas no espaço do tal hotel (ou outro qualquer) de cinco estrelas. Davam-lhe um pontapé no rabo, isto se não chamassem a polícia para ajudar a acabar com o resto do assunto. Penso que seja a isto que se chama espírito de Natal. De resto os noticiários são uma irritação crescente para quem é velho como eu. Sempre as mesmas reportagens, os mesmos hoteleiros da Serra da Estrela, os mesmos fabricantes de pastéis de feijão; o bacalhau, as mercearias finas. E para a semana (Ano Novo) que vem, no sentido de quem escreve este artigo, os hoteleiros serão os do Algarve, a ocupação e os camones que dizem estar muito mais calor do que lá na terra deles. No entanto a minha imagem deste fim-de-ano, foi a de uma manifestação que alguns residentes de Alepo resolveram fazer como forma de comemorar o final dos combates (por agora…). Via-se numa das praças centrais da cidade um taque de guerra virado ao contrário. Como se pode virar uma bisarma daquelas, num espaço central, plano e exíguo? Que raio de violência é capaz o ser omano, como se diz em Olhão?

Fernando Proença

 

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