Fiz uma estatística pensando na morte da bezerra (usar números pode ser contraproducente, nem sempre se alcançam os resultados que pretendemos), sobre os assuntos mais tratados no Avarias, e saiu-me que, muito à frente da política e da religião (assuntos tratados amiúde), vem o futebol, o tão vilipendiado futebol. Meditei com os meus botões e pensei valorizar ainda mais a política, não sei bem porquê. Dá-me a ideia que daqui até a à véspera de ir às urnas o assunto vai ser… impostos. A chamada Direita diz querer menos impostos e a chamada esquerda diz que não, assim está bem. Talvez não fosse má ideia, quando se fala em impostos, precisar a quem é que se quer baixar impostos. Por exemplo, o génio Passos Coelho, baixou impostos, à indústria, e subiu-os de uma forma astronómica ao trabalho. Por isso seria de especificar a quem é que se quer cortar no tal do imposto, só por causa de sabermos em quem votar. Isto para colocar mais um pontinho na secção política.
Agora para manter a média: há uma velha anedota, um bocado ordinária (atenção escuteiros, malta mais religiosa e motoristas de cargas perigosas: passem à frente), sobre uma pulga que se enche de frio porque costuma andar no bigode de um motociclista. Mais tarde uma amiga sugere-lhe que para andar mais quentinha deve refugiar-se dentro das calcinhas de uma rapariga. Ela diz que aprendeu a lição e irá fazê-lo. As pulgas voltam a encontrar-se. A quentinha, quentinha e a gelada, que devia estar quentinha, novamente gelada. Mas o que te aconteceu, não fizeste o que te disse, perguntou a quentinha? Resposta da pulga gelada: fiz o que me disseste e estava tão quentinha que me deixei dormir. Só que mais tarde acordei, gelada, no mesmo bigode do motociclista. Os programas da noite, nos chamados canais generalistas são mais ou menos como a pulga e o motociclista. A gente anda à volta com o comando televisivo, e mesmo que esteja a passar momentaneamente um programa sobre a ria de Aveiro, os pastéis de Belém ou a subida da Direita nas eleições alemãs (as pulgas), certo é que, dois minutos passados lá vem o futebol (o motociclista). E depois o futebol não o é, na realidade o jogo, mas sim a vida doméstica dos chamados grandes, Benfica, Sporting e FêCêPê. Os programas e os paineleiros competem então numa guerra permanente entre os clubes que eles representam e os sistemas tácticos vigentes, como se estivessem sempre a ensinar as letras às crianças que os ouvem. Sobram então, programas dirigidos a fanáticos, absolutamente a evitar por almas sensíveis. Não costumo ver canais brasileiros, mas ultimamente, talvez a reboque da transferência de JJ para o Flamengo, dou por mim a espreitar o PFC. O PFC passa jogos em directo e diferido e mantêm uns painéis que me devolvem à natureza prazerosa das grandes discussões sobre futebol. Pessoas inteligentes falam sobre memórias e vivencias de uma forma que nos remete para uma espécie de infância, acertada pelos tempos que correm. Com humor e presença de espírito. Sem que se percebam as linhas com que se cosem aos seus clubes preferidos. E quando se percebem, são eles a rir-se da situação.
Fernando Proença