Escrevo estas primeiras linhas, momentos antes do Portugal – Lituânia, primeira etapa da – quase – sempre omnipresente calculadora portuguesa (desta vez só dependíamos de nós…, ) para tudo o que respeita a campeonatos do Mundo e Europa e o que mais se arranjar. Se olharmos para o copo meio cheio, podemos dizer que sem a selecção de futebol não tínhamos uma fatia da nossa dose de suspense anual. Hoje, como quase sempre, a polémica com Cristiano Ronaldo anima as nossas tardes desportivas. Agora foi o veterano Capello que, para o mal e para o bem não tem papas na língua, veio dizer que o nosse menine doure, há três anos não fazia um drible. Para nós, tugas, foi um descalabro e até ouvi dizer, a um daqueles comentadores que se dizem de grande capacidade argumentativa, calma e pudor intelectual, que essa era a opinião de alguém que estava na reforma. Ou seja: a uma opinião supostamente rasteira, responde-se com outra ao nível abaixo de metro de Lisboa. Estamos pouco habituados às críticas (mesmo que sejam estapafúrdias e esta não o é, completamente: pensa o “Avarias”) e se for sobre Ronaldo pior um pouco. As garras afiam-se, suamos e ficamos para matar quem nos fez a afronta.
As segundas linhas deste texto, aparecem já depois do tão esperado Luxemburgo – Portugal, que acabou a dispensar a tal calculadora; agora os sérvios que façam o trabalho de casa. Os tugas levaram uma semana a falar da relva, que nos dias de hoje já não se pode jogar naquelas condições, que é um batatal, o que é meio caminho andado para que os jogadores incorporem a conversa e as desculpas quando se dirigem à chamada comunicação social, e, principalmente quando entram dentro do campo. No Luxemburgo, com mais portugueses que luxemburgueses nas bancadas, pareceram sempre amedrontados, atrás de jogadores de segunda divisão, voluntariosos e pouco mais. Dá todo o ar que Portugal já se adaptou definitivamente às alterações climáticas e os jogadores parecem só saber jogar sobre uma mesa de bilhar, com tabelas aquecidas. Se chove um pouco mais e o campo não é tão bom, em vez de se calarem e esforçarem por se adaptar, continuam em campo como se fizesse um sol radioso, com passes e triangulações e toques de calcanhar que só funcionam com campos impecáveis. E depois desculpam-se, que é também um desporto nacional. Mas lá se qualificaram, sem brilho é certo, mas qualificaram. Também podem dizer que não fomos os primeiros, fazer isso e ganhar depois. Lembram-se da Dinamarca que foi apurada, só porque a Jugoslávia (na altura unificada e em guerra) foi preterida, e no fim limpou aquilo com uma pinta do caraças? Além de mais não tinham Fernando Santos como treinador nem Ronaldo, que continua a não driblar ninguém há pelo menos um ano: mas marca golos.
Fernando Proença