Avarias: Um dia vou ter um projecto e lavo desde já as mãos

Com os planos que por aí vão, mais o trabalho que os canais de informação têm para arranjar assunto, mesmo que sejam – como na maior parte dos casos – um não assunto, sucedem-se os programas sobre portugueses que não conseguiram passar a crise (muitos) e os que contornaram (alguns).

Do que tenho visto, o que fica é uma língua de pau que tudo iguala: uma das frases da semana, talvez a que me impressionou mais, veio da boca de uma responsável sobre não sei quê, a respeito de uma conversa que metia projectos (hoje, toda a gente tem projectos) que não me lembro o teor, afirmava, que tudo dependia agora dos “parceiros sociais, actores diversos”.

Esta mania dos actores, do estar em cima da mesa, da resiliência (resiliência em vez da muito portuguesa “superação”, não vos faz corar?), torna os discursos um aborrecimento. A outra frase de época, excepcionalmente tola, terá sido proferida por uma jornalista na CMTV, em que se perguntava a uma senhora (uma popular?), num qualquer dia da semana passada (a contar do dia em que escrevo): “… diga-me então, como é que está a desconfinar?”.


A Antena 3 (agora um pouco de rádio, podem aumentar o volume) tem uma rúbrica (disponível em podcast, como a restante programação) que se chama “Fricção Científica” apresentada por Isilda Sanches. Trata-se de um pequeno apontamento sobre temas – como o nome indicia – científicos. Geralmente, avanços na ciência, mas também podem ser mitos desmontados, com base em estudos (hoje existem estudos sobre quase tudo e mais um par de botas), pequenas curiosidades etc.

A que ouvi no dia vinte e três do ano da graça de dois mil e vinte um versava sobre as consequências de se lavarem as mãos que se tornou – felizmente – um hábito com o vírus da moda. Como se sabe e ao longo da história, a lavagem das mãos poupou mais vidas do que muitos avanços científicos, mas agora havia de aparecer um estudo qualquer que mostrasse exactamente, que não há bela sem senão. Pois não se perdeu pela demora: descobriu-se que com a fossanguice que por aí vai com tudo, também a lavagem das mãos em excesso, iria fazer aparecer montes de bactérias nos ralos e nos canos. E que isso pode ser um problema para a saúde pública, ou lá como se chama. E depois? É melhor andar com as mãos sujas? Dizer isso é mais ou menos fazer um estudo sobre o nascimento e chegar à triste conclusão que nascer não é assim tão bom, porque um dia vamos morrer.

Não percebo, mas este é o tipo de estudo, opinião ou notícia que as televisões gostam de mostrar: levam semanas a dizer que se devia abrir o comércio e as restantes actividades económicas, para quando as mesmas abrem correrem à procura de dados que provem que isso sobe os contágios, pelo que devia – não vejo outra hipótese – continuar tudo fechado. Adiante.

Fernando Proença

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