Avarias: Uma questão de bom senso

Para nos convencermos de que a “nova normalidade” é igualzinha à antiga, aí está o ataque ao autocarro do Benfica e mais uma duzentas e oitenta provas (como a que demonstra que António Costa continua a ser melhor político a dormir que todos os outros acordados*), que todos os dias temos ocasião de verificar. Como aquela pergunta de saudação, “então tudo bem?”, a que respondemos sempre sem pensar, também a parvoíce do “vai ficar tudo bem” entrou como cão em vinha vindimada e se pensam que não é bem assim peçam a opinião aos proprietários dos bares e discotecas. Mas começando pelo princípio: os jogadores do Benfica que apanharam com vidros do autocarro e os outros que viram a sua casa grafitada, experimentaram (experienciaram, como se diz, parvamente, agora), como os velhos hábitos, para o bem e para o mal não nos largam. Em artigo anterior, perorava sobre que era bom que voltassem os usos que nos tornam tugas de corpo e mente, (malandrice, inveja, cagança) mas não era preciso tanto; alguém se enganou nas proporções e medidas. E dispensávamos a violência gratuita. Outro dia ouvia o senhor pivô do canal 11, defender a existência de claques organizadas (todos temos uma agenda, característica extensiva aos canais de desporto…), presumo que para bem do país, mas ainda falta prová-lo, como o uso de hidroxicloroquina para curar a maluquice em presidentes. Não sei em que cartilha aprendeu esta gente: está mais que provado que as tais claques não passam de refúgio para delinquentes, que as usam a seu bel-prazer para fornecer droga e bandeiras do clube a eventuais interessados. Décadas de protecção, laxismo e conversa fiada sobre legislação (tudo características tugas), criaram um monstro que só não é mais intrusivo porque os tipos das claques também serão laxistas e cagões. Agora, uma coisa é uma coisa e a outra, outra: jornalistas tratam os vândalos que andaram a perseguir jogadores do Benfica como a “ala radical dos no name boys”, suponho eu à falta de melhor. O costume de nomear uma facção como “ala radical” parece-me ser da política (ou da religião misturada com a política) e não para tipos para quem a política interessa tanto, como a vida sexual das marmotas a mim. Tratar gente rasteira que só está interessada em violência, como se fossem aprendizes (mesmo maus aprendizes) de políticos não me parece certeiro, mesmo para tipos como eu que não os têm na melhor das contas.

* António Costa continua a ser muito melhor que concorrência, veja-se de onde veja. Agora, convidou António Costa Silva (ACS) para fazer de grande planificador, sem ser ministro. ACS deu uma entrevista, que podia ser dada por todos nós, em que afirmou que serão as energias alternativas, os portos, o digital e as estadas que nos vão salvar; nada que não tenha sido dito antes. A questão é que ACS não é um boy, mas antes uma personalidade que não se enquadra no universo PS e (parece) não precisar do tacho. A direita atirou-se ao ar, porque disse que se tinha feito o mesmo com António Borges – duramente criticado por Costa, na altura. A questão é que Borges não dava entrevistas a dizer que as auto-estradas eram boas para nós, mas antes lembrava, sempre que podia, que eramos todos uns preguiçosos (menos ele e poucos mais) e ganhávamos muito para o que fazíamos (não extensível ao senhor). Essa é que é a diferença entre Costa e muitos outros políticos; pode ser implacável e pouco escrupuloso, mas talvez não nos insulte sempre que abre a boca.

Fernando Proença

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