CANELA MAIS FINA: Se pudéssemos regressar ao séc. XV…

Opinião de Luigi Rolla

Que a América do Norte (EUA e Canadá) é mais desenvolvida do que a América do Sul (Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, etc.), penso não suscitar dúvidas a ninguém. Já as opiniões são contrastantes quando buscamos as razões para tais diferenças. Há dias, em conversa com um meu Amigo sobre este tema, ficou claramente demonstrado “que da discussão não nasce a luz”, e a própria pesquisa em publicações ou na net, onde encontramos milhentas referências ao tema, as opiniões são díspares e diametralmente opostas.

Porquê o Sul é pobre e atrasado, e o Norte é rico e desenvolvido? Eu penso, no caso do continente americano, que é devido à idiossincrasia dos colonizadores (ingleses, franceses, holandeses, portugueses, espanhóis e italianos) e o meu Amigo atribui a disparidade ao clima.

As respostas mais comuns são: […] – «É um enredo histórico/cultural que originou várias velocidades de progresso; o frio Norte favoreceu uma organização mais consociativa e consequentemente mais forte; os anglo-saxónicos invadiram o Norte da América, enquanto o Sul foi deixado aos latinos de segunda geração… protestantes contra católicos, rigor contra hipocrisia, regras concretas contra a anarquia burocratizada.

No Sul há uma desconfiança atávica para com palavras comuns como “leis”, “anticor-rupção”, “democracia”, “bens comuns”, “equidade social e fiscal”, “dignidade do trabalho”, que embora percebidas através dos media como necessárias e justas não chegam a atingir o profundo do coração.»

A América do Sul tem um subsolo riquíssimo, tem condições ideais para a agricultura e tem um clima estupendo, é no entanto cem vezes mais pobre do que a América do Norte, onde os EUA e o Canadá atingiram níveis de opulência jamais alcançados. A mesma disparidade dá-se na Europa, mas esta não entra nesta minha análise, porquanto o continente americano foi descoberto, conquistado e evangelizado. Digo evangelizado, porque também há quem encontre na religião a razão do desnível: o Norte influenciado pelo protestantismo e o Sul pelo cristianismo. Confesso que não encontrei uma justificação para a sua influência no desenvolvimento dos dois continentes.

Segundo um recente estudo […] – «Os quatro factores que impulsionam a riqueza de um Estado são: que tenha acesso ao mar, recursos naturais (petróleo, gás, carvão, etc.), condições favoráveis para a agricultura, e que o seu clima seja temperado ou frio. Quanto mais factores dos mencionados coincidam num Estado, mais rico este será.»

Outros estudos sobre esta disparidade fazem menção a circunstâncias como o colonialismo desenvolvido nas regiões cálidas do globo, que relegou muitas delas na pobreza, já que o domínio colonial leva consigo menos ocasiões de desenvolvimento para os países colonizados e uma maior dependência do exterior.

Douglass C. North (Prémio Nobel da Economia em 1993) defende que […] – «A América do Norte foi colonizada por colonos britânicos, que levaram consigo a estrutura dos direitos de propriedade e a 1ª revolução Industrial que se tinha desenvolvido naquele tempo na Grã-Bretanha. Dado que os britânicos não consideravam as colónias da América do Norte como importantes para o seu próprio desenvolvimento, deixaram-lhes uma grande liberdade em seus governos. Num contexto de relativa liberdade política e económica com um marco de oportunidades de recursos sem fim e com boas instituições o resultado foi a gradual evolução de uma sociedade livre nas décadas que precederam a independência.»

Assim como, para North […] – «A América Latina, pelo contrário, foi colonizada por latinos de segunda geração, para explorarem o ouro, a prata e outras riquezas. A estrutura institucional resultante foi o monopólio e o controlo político por parte de Madrid e Lisboa. A independência dos países da América Latina, no século XIX, levou-os a seguir o exemplo dos EUA e as constituições dos países latino-americanos foram redigidas com esse objectivo. Os resultados, no entanto, foram radicalmente diferentes. A América Latina sem uma herança de governos livres, politica e economicamente, teve como resultado inúmeras guerras civis que tentaram preencher o vazio deixado pelos governos ibéricos.»

O livro “Geopolítica da Fome” (1951), de Josué de Castro, tem um capítulo intitulado O clima, esse cavalo de batalha […] – «Pela descrição das condições de alimentação, as mais das vezes desfavoráveis, nas terras tropicais da África negra, não se vá pensar, um tanto apressadamente, que seja o factor clima a criar condições adversas ao trabalho e originar solos pobres e facilmente esgotáveis, o principal factor da miséria alimentar do continente. Tanto não é o clima o eixo do problema que, mesmo na região extra-tropical, vamos encontrar certos grupos humanos com condições de alimentação iguais ou mesmo piores do que as observadas na África Equatorial ou Tropical. É o caso da União Sul-Africana e dos territórios britânicos da África do Sul: A Basutolândia (NdoA: – actual Lesoto), a Becuanalândia (NdoA: – hoje território da República Sul-Africana) e a Swazilândia (NdoA: – actual Reino da Suazilândia).»

Tal como reza o título desta crónica, teríamos a resposta às nossas dúvidas se pudéssemos rebobinar “o filme” da História retrocedendo ao séc. XV e fazer com que fossem os latinos a colonizar a América do Norte e os anglo-saxónicos a fazê-lo na América do Sul, verificaríamos então se, com a troca de colonizadores, as Américas de hoje seriam as mesmas…

Luigi Rolla

 

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