CARLOS ALBINO

SMS 395 – Não somos donos nem senhores

O Turismo (com letra maiúscula) foi lançado no Algarve, para o Algarve e com o Algarve, como uma atividade sustentável e para dar sustentabilidade à região que muitos sonharam que viesse a ser Região com letra maiúscula. Decorridas décadas o turismo é uma atividade com letra minúscula embora esmagadora da região que ficou assim, com letra minúscula, agora por isto, depois por aquilo e sempre porque, não tanto o Estado mas os que se foram tornando profissionais do estado e em grande parte sem serem estadistas, janais quiseram perder o abecedário das maiúsculas do centralismo cego, da burocracia estulta e do sistema de mordomias em que a política se converteu enchendo de bolor a democracia, o tal bolor que é o pai do autoritarismo e que faz filhos até dizer basta sem que os democratas disso se dêem conta. E na hora da desgraça ou da fatalidade que ronda a desgraça, que é também a hora dos acertos de contas irracionais e a hora em que também todos julgam perceber de tudo e cada um mais do que os outros, os que beneficiaram ao longos dos anos desta ilusão alimentando-se desta como as cigarras de verão – cantaram muito e humilharam as formigas, como na fábula – calam-se na vaga esperança de que a tempestade passe, porque se passar retomam a atividade de sempre. Houve um erro estrutural na região, um tremendo erro e que foi o de se ter “programado” o desenvolvimento do Turismo sem o pressuposto da eficaz e efetiva integração na região – os hotéis pousaram como se fossem aviões e, como tal, também preparadinhos para levantar voo, a agricultura ficou espatifada a troco de um prato de lentilhas, as pescas estão nas lonas e se o mar é rico é para os nadadores-salvadores precários, a indústria é escassa, o artesanato ficou nos resquícios depois de vinte anos com as chaminés moldadas em Leiria, os serviços vivem do que uns 400 mil residentes podem pagar se receberem de quem pousou, o Estado alegremente cobrou que se fartou sem reinvestir proporcionalmente no local da cobrança, as grandes superfícies têm as caixas registadoras no Algarve mas a contabilidade lá em cima, por aí adiante, para não falar do regabofe dos dinheiros a fundo perdido, dos subsídios não escrutinados, dos planeamentos cozinhados, etc. E sendo assim, se o Alberto João Jardim fosse de Monchique, nestas circunstâncias, pouco mais seria que um Luís Filipe Madeira e sucedâneos, e se o Carlos César fosse de Tavira duvida-se que ganhasse alguma vez a câmara de Faro como Macário Correia ganhou. E temos dito. Não somos donos e senhores dos destinos da terra, nem tínhamos que ser, mas a sustentabilidade poderia não ser hoje uma figura de ficção. Como é. Estamos nas mãos dos operadores que operam e dos ilusionistas que fazem truques.

Flagrante Prémio SMS 2010 de Jornalismo: Precisamente no Dia de Reis deste 2011, decidiu o júri atribuir o prémio que não dá ouro, nem prata, nem sequer incenso, mas dá gosto e honra, ao jornalista Nuno Couto, por acaso do Jornal do Algarve. E com isto, uma homenagem à juventude que prossegue a chama de fazer do jornalismo não uma causa com segundas intenções mas uma defesa do interesse público. Prossiga Nuno Couto, que o José Barão, se fosse vivo, dir-lhe-ia o mesmo ou melhor. Nuno Couto junta-se assim a Idálio Revez (2005), a Carlos Branco ((2006) e a João Prudêncio (2007), porquanto o júri decidiu não atribuir os  prémios relativos a 2008 e 2009, por falta de ouro, de prata e até de incenso.

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