Centro de Simulação Clínica quer formar médicos de qualidade

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No Centro de Simulação UAlgTec Health, localizado no último andar da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve (UAlg), a expressão "trabalhar para o boneco" ganha um novo sentido. Neste 'hospital', criado para desenvolver as competências dos futuros médicos da região, há tecnologia de ponta que permite simular desde as bases da medicina até ao quadro clínico mais raro em 'bonecos' que podem ser programados para perder sangue, entrar em insuficiência cardíaca ou até chorar. Na Academia algarvia estão a formar-se profissionais que querem resgatar "o projeto de saúde de qualidade na região"

Se para exercer uma qualquer profissão é exigida experiência, imagine-se o caso da Medicina. Praticar, repetir e simular são os imperativos para qualquer jovem aprendiz da prática clínica, cada vez mais contestada pelos utentes, em particular os do Serviço Nacional de Saúde.

Alexandre Baptista

Alexandre Baptista, médico (intensivista) no Hospital de Portimão, professor auxiliar na UAlg e diretor do Centro de Simulação ajuda-nos a perceber esta ideia: “O Centro foi uma necessidade percebida desde cedo pela Faculdade de Medicina. É o local onde os alunos podem errar e se preparam para promover práticas médicas de qualidade, com responsabilidade e zelo pela segurança e bem-estar dos doentes. Não podemos errar quando se chega ao hospital”, vinca.

Perante os tempos conturbados que se vive na Saúde, com todas as deficiências e lacunas que todos nós já conhecemos, perceba-se a importância de projetos como o UAlgTec Health – proporcionar aos alunos de Medicina a oportunidade de estarem, desde o primeiro momento, em contacto com simuladores que apresentam quadros clínicos diversificados, é investir na qualidade e na melhoria contínua das prestação de cuidados médicos nos nossos hospitais, com um impacto positivo na performance das equipas e na evolução dos doentes.

A dinâmica da simulação, conhecida por hands-on (em português o recorrente “meter as mão na massa”), é também, na ótica do intensivista, “a melhor forma de encurtar a curva de aprendizagem dos alunos que têm de ter a capacidade de estar em contacto com aquilo que muito raramente surge nos hospitais ou com situações extremas” que os preparam para dar resposta, sem vacilar, em contexto hospitalar.

Os ‘bonecos’ de que falávamos no início são, como em qualquer hospital, o centro das atenções e das preocupações dos formandos que passam pelo Centro de Simulação. Em rigor técnico, trata-se de simuladores de baixa, média e alta fidelidade que são as cobaias para um um vasto leque de cenários clínicos (raros ou comuns) que surgem nas enfermarias, consultas, salas de urgência e emergência, cuidados intensivos, blocos operatórios, mas também unidades médicas como a obstetrícia e a imagiologia.

Ao longe, os simuladores parecem reais. De perto, são estranhos (e assustadores, diríamos), mas a verdade é que os ‘doentes’ do doutor Alexandre e dos seus alunos pestanejam, conseguem ter diferentes aberturas oculares com várias cores escleróticas, perdem sangue, suam, têm falta de ar, gritam ou podem estar na iminência de uma paragem cardiorrespiratória. Mas as simulações não se fazem sozinhas… Em cada sala existem paredes espelhadas que escondem o(s) formador(es) que vão ‘brincando’ de forma computadorizada com os ‘bonecos’. Um simulador de alta fidelidade ronda os 70 a 80 mil euros.

No UAlgTec Health tudo funciona como num hospital. Os alunos têm ao seu dispor equipamento para simular uma consulta; intubação nasal; procedimentos invasivos na área pediátrica; partos, manobras obstétricas (com recurso a uns óculos de realidade virtual) e cuidados materno-infantis; ecografias (com auxílio de imagens anatómicas e realidade aumentada); incubação de prematuros; cuidados geriátricos em fim de vida e até cirurgias laparoscópicas (técnica menos invasiva que utiliza pequenas incisões para realizar grande variedade de procedimentos cirúrgicos).

A sala de urgência onde os alunos são confrontados com diversos casos clínicos

Retenção de médicos faz parte das prioridades
Com uma área útil aproximada de 900m2, o Centro de Simulação é também um projeto desenhado com o objetivo de incentivar a retenção de médicos na região através do incremento da oferta formativa pós-graduada na área da prática clínica.

Neste sentido, o responsável deixa o apelo: “Venham ter connosco e aprendam aqui (…). Acredito que ter numa região desfavorecida como o Algarve – uma região que sempre foi vista pelos maus motivos e que os únicos bons motivos encontrados são o bom tempo e a praia -, a existência de um centro de simulação destes, tão bem equipado, de alta fidelidade e tão abrangente nas áreas que simula, seja um ponto de cativação para os jovens médicos que estão fartos dos centros urbanos, mas que querem continuar a ter acesso às novidades tecnológicas. No país, é dos centros de simulação melhor equipados e dos mais estimulantes para a prática médica”, afirma.

“Os profissionais quando nos visitam ficam de boca aberta com o nível de tecnologia que aqui temos”, acrescenta.
Questionado sobre a perda de qualidade da prestação de cuidados na região e no país, Alexandre Baptista reconhece que “existem pontos a serem melhorados”, mas defende “a qualidade dos cursos de Medicina em Portugal”. Contudo, frisa que “o que interessa é que esteja disponível a formação”.

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Os simuladores podem chorar, perder sangue ou até gritar

Projeto que aproxima CHUA da UAlg
Para o clínico, o Centro de Simulação é “um ex-libris daquilo que deve ser o ensino e o treino dos jovens médicos”, “um projeto para uma saúde de qualidade do Algarve” e “um excelente exemplo do investimento público que é feito na Saúde”.

Relativamente ao ponto da atual relação entre a Faculdade de Medicina da UAlg e o CHUA, Alexandre Baptista disse ao JA que “no dia da inauguração do Centro, foram dados os primeiros passos para voltar a reatar a ligação entre as duas instituições”.

“Noto que agora há vontade de ambas as lideranças para que se estabeleça um convénio entre as instituições – algo forçosamente necessário. Só vejo vantagens em podermos ter esta ligação forte e consolidada”, termina.

Inaugurado oficialmente no dia 1 de março de 2023, Centro de Simulação da UAlg representou um investimento de dois milhões de euros, verba cofinanciada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) da União Europeia, através do Programa Operacional Regional do Algarve 2014-2020 (CRESC ALGARVE 2020).

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