Face aos níveis de pluviosidade que se registaram na última semana um pouco por todo o Algarve, Pedro Valadas Monteiro, presidente da Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve afirma que “qualquer precipitação é bem-vinda, principalmente numa região que está tão carente de água”.
Ao JA, recorda que “há cerca de um mês e meio atingimos um dos níveis mais baixos de sempre em termos de reservas de águas superficiais – cerca de 20% apenas”. Fazendo contas com a precipitação que tem vindo a ocorrer desde dia 1 de setembro, e particularmente nos primeiros dias do mês de dezembro, “os números revelam que a tendência de declive negativo na pluviosidade que se registou durante este ano comece a infletir de uma forma mais pronunciada na zona do Sotavento e sobretudo nas barragens de Odeleite e do Beliche”.
Desde dia 4 dezembro até ao dia 12, a Barragem de Odeleite e a Barragem do Beliche “somam uma capacidade total de armazenamento que ronda os 176 milhões de metros cúbicos”, contabiliza o diretor, que acrescenta que “só com a chuva dos últimos dias, no Sotavento, devemos ter uma variação positiva em termos de reservas na ordem dos 10%”, o que considera “bastante positivo”. Esta variação reflete-se num encaixe de “16 milhões de metros cúbicos” na zona do Sotavento, onde a precipitação tem sido “muito mais significativa” do que no Barlavento.
No Barlavento, no início do mês de dezembro, “a precipitação tem sido bastante inferior e por isso o afluxo de água às albufeiras também tem sido menor”, constata. Naquela ponta da região, o encaixe total de água nas barragens da Bravura, Odelouca, Funcho e Arade, traduziu-se apenas em cerca de “duas centenas de milhares de metros cúbicos”, sendo que a situação que gera maior preocupação está relacionada com a Barragem da Bravura, que desde setembro “deve ter encaixado apenas cento e tal mil metros cúbicos”, estima.
Precipitação desproporcional troca às voltas a agricultores
Em termos globais, desde o dia 4 de dezembro, e segundo Pedro Valadas Monteiro, tivemos cerca de 90 a 95 milímetros de precipitação média acumulada, números mais pronunciados no Sotavento, com cerca de 130 milímetros; 100 milímetros no centro da região e entre 40 a 50 milímetros no Barlavento, quase metade do que caiu no resto do Algarve.
De acordo com a DRAP, os concelhos que se continuam “muito afetados” pela situação de seca que se tem vindo a prolongar nos últimos anos pluviais são Lagos, Aljezur e Vila do Bispo. Tanto no centro da região, como a Sotavento, a situação tornou-se “menos grave em termos de precipitação e no que toca ao volume de água nas barragens”.
Neste momento, graças aos tempo chuvoso que se regista, “começamos a observar o escoamento superficial, ou seja, qualquer chuva que vá caindo agora tem uma eficácia muito maior na recarga das barragens porque a água escoa mais facilmente e faz com que comecemos a ter uma variação positiva e um reforço da água armazenada nas barragens”, clarifica.
Para o presidente da DRAP Algarve, “o ideal seria termos chuvas mais moderadas para encher as ribeiras e evitar as situações de cheias a que assistimos, mas de facto precisamos que continue a chover durante mais uns meses para podermos ter água suficiente… Os níveis no Barlavento ainda estão muito abaixo da média e preocupam”, refere. Nesse sentido, deixa uma mensagem aos algarvios: “temos de continuar a ser eficientes, reduzir as perdas e utilizar a água da forma mais racional possível em todos os setores da atividade e nas nossas casas”.
No Algarve, a situação mais preocupante vive-se na Barragem da Bravura, em Lagos, que está apenas com 9% da sua capacidade de armazenamento. Com níveis reduzidos estão também as barragens do Arade (26,9%), Beliche (27,1%), Odeleite (34,1%) e Odelouca (32,8%), segundo dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).
Mais precipitação no litoral “não ajuda”
João Garcia, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves Lagoa e Portimão disse ao JA que “as chuvas localizadas não têm ajudado” e que a precipitação se tem sentido mais na zona litoral “quando fazia mais falta na serra”. O responsável explica que a Barragem do Arade (Silves) “está dependente das descargas da Barragem do Funcho” e que a Ribeira do Arade “só agora começou a correr, mas com um caudal reduzido e que leva a barragem a subir pouco mais de um centímetros por dia”.
Naquelas localizações, “não existe a possibilidade de ir buscar água à Ribeira de Odelouca” que também está com um caudal baixo, situações que deixam os regantes “na expetativa, mas com esperança sobre o que está para vir”, apesar de considerarem que as últimas chuvas tiveram mais influência a Sotavento, onde já há terrenos encharcados e aptos para a escorrência, do que no Barlavento, “a zona mais fustigada pela ausência de precipitação”, reforça o responsável daquela cooperativa agrícola.
Apesar de a Ribeira do Arade já estar a correr, João Garcia admite que “a próxima campanha agrícola continua em perigo” e que tudo vai depender “onde a chuva cair” nos próximos meses.
Eficiência hídrica é prioridade
Segundo a DRAP Algarve, nos últimos anos têm sido feitas “obras significativas para o aproveitamento hidroagrícola”. No Sotavento, a título de exemplo, o sistema de aproveitamento “é novo e não tem muitos problemas de fugas”. Por outro lado, tal como adianta Pedro Valadas Monteiro “a associação de regantes prevê, no Plano Regional de Eficiência Hídrica, instalar um conjunto de caudalímetros para monitorizar de forma rápida qualquer perda” naquele território.
A zona mais crítica em termos de perdas de água era o Barlavento, onde atualmente existem dois sistemas: “Silves-Lagoa-Portimão, a maior obra que está a ser feita em termos de regadios públicos a Sul do Tejo (excluindo o Alqueva), onde já foram investidos mais de 24 milhões de euros desde 2019. É graças ao processo de pressurização (converter os canais a céu aberto para que a água seja distribuída em condutas) que esse perímetro de rega teve uma redução das perdas “na ordem dos 300%”. Após as obras no último bloco (Odelouca), “as perdas vão reduzir-se àquele que é o máximo técnico permitido neste tipo de aproveitamento, na ordem dos 5%, passando assim a ser um dos aproveitamentos hidroagrícolas com menos perdas a nível nacional”.