Morreu o Nuno Júdice e contra isso nada podemos. Morreu e nem a sua poesia, nem a sua ficção, nem os seus ensaios atenuam a dor da sua partida. Fica a convicção – com que compensamos a ausência dos escritores e dos artistas – de que revisitando a sua obra nos reencontramos com eles. Ao que parece ser certo é que morrem
sempre cedo aqueles que amamos. É uma evidência. Assim como o facto de o corpo ser inegociável.
O poeta, nascido na Mexilhoeira Grande, em 1949, afirmou-se em com a publicação de “A Noção do Poema”, na coleção Cadernos de Poesia, da editora Dom Quixote e, desde esse longínquo ano de 1972 tornou-se uma voz ímpar e consensual, na media em que os consensos poéticos são possíveis no panorama da poesia portuguesa contemporânea.
No que diz respeito ao Algarve, pertencia a uma geração de ouros, rara em qualidade e em número, da qual apenas resta Casimiro de Brito mortos que já eram António Ramos Rosa e Gastão Cruz.
Não seria justo para o poeta que este pequeno espaço se assumiu-se como uma espécie de elogio fúnebre. Seria pouco. Muito pouco para a dimensão e a excelência do poeta, do professor e do cidadão comprometido com o seu tempo.
Estou certo que o Nuno Júdice não me recriminaria se a propósito da sua morte saísse das lágrimas e dos lamentos que se devem nestas ocasiões e caminhasse em direção ao amanhã.
Há uns anos participei numa tentativa gorada, como tantas outras, no sentido de pressionar o Governa a criar um museu de arte contemporânea, no Algarve. Nesse caso particular todos os argumentos eram vencidos pela circunstância de sermos, à altura – e ainda continuar a ser – das poucas, senão a única, região do país onde não existe um equipamento dessa natureza.
Quando me associei à iniciativa estava plenamente convencido da sua necessidade e pertinência.
No entanto, refletindo sobre a produção cultural na região, e de autores nascidos no Algarve, a primazia da literatura como a «arte» em que a região mais se distinguiu era evidente.
Se as artes visuais têm tido um peso marginal naquilo que se poderá considerar o contributo da região para uma estimativa nacional das artes plásticas já o caso das letras é bem diferente. Convém relembrar que morreu, há bem pouco tempo, o Manuel Baptista, que durante décadas foi o único artista nascido no Algarve com obra reconhecida e a integrar os principais circuitos de arte contemporânea, públicos e privados, nacionais e a ver o seu trabalho representado nas coleções de arte contemporânea mais relevantes.
E, é essa razão que me tem levado a pensar o quão oportuno seria uma casa dedicada às letras, no Algarve. Um museu da literatura, um centro dedicado à poesia, tanto importa. O que não deixava de ter sentido era um espaço onde se guardasse a memória e desse a conhecer o Pentateuco, o primeiro livro impresso em Portugal, João de Deus, Manuel Teixeira Gomes, os poetas futuristas algarvios, com Carlos Porfírio e Lyster Franco à cabeça, o Prisma de Cristal e os Cadernos do Meio-Dia que foram um momento de vanguarda e transformação da moderna poesia portuguesa.
Em Vila Nova de Famalicão, a Fundação Cupertino de Miranda criou uma «Torre Literária», onde, ao longo de 14 salas e 4 andares se desenvolve a exposição «Louvor e Simplificação da Literatura Portuguesa». Fosse o Minho a terra natal de António Aleixo, António Ramos Rosa, Assis Esperança, Casimiro de Brito, Gastão Cruz, Lídia Jorge, Maria Aliete Galhoz, Nuno Júdice, Teresa Rita Lopes.