“Construção de um aeroporto em Paderne” e “ponte internacional do Guadiana”

E o bailinho da Madeira à espera do anticiclone dos Açores

Afinal, já se descobriu de onde levantaram voou os aviões que sobrevoaram Albufeira durante a passagem de ano. Diga-se um acontecimento arrepiante, para quem não estava a par de tanta magia luminosa e com o mundo a cruzar-se por guerras aqui, guerras ali, houve, como foi o meu caso, que pensou no pior.

Pois agora sabe-se que os aviões partiram do «Aeroporto de Paderne», coisa tão estranha, que em conversa com o meu amigo Arménio Aleluia Martins, este até me disse: – É pá, Neto, aeroporto de Paderne? Estás aqui e estás a ser internado!

A verdade é que mesmo que a minha informação não esteja correta, certo é que algumas dúvidas corriam a meu favor, mas do facto não voltei a falar com o grande Arménio, este extraordinário decano da Imprensa Regional, pois mesmo que acabem com os jornais, não acabam com os decanos.

– Aeroporto de Paderne? Ó Neto, tu não bates bem!

– Então aqui vai, amigo Arménio:

A 14 de Janeiro de 1977, o Jornal do Algarve, que naquele tempo já existia, então dirigido por José Barão, homem notável, a quem o Algarve tanto deve, dava destaque na primeira página à seguinte notícia:

PREVISTA (POR ENQUANTO A LONGO PRAZO) A CONSTRUÇÃO DE UM AEROPORTO EM PADERNE

Depois, na leitura do texto, confirmamos sim senhor, que ainda que a longo prazo, até agora não aconteceu, nem o de Lisboa, que já tem mais de 60 anos, previa-se para Paderne um Aeroporto. Querem ver que o Dr. Carlos Rolo, Presidente da Câmara de Albufeira vai pegar na ideia! Eu bem os avisei. Então vamos à notícia:

“Inquirido pelos jornalistas no decurso da conferencia de Imprensa dada recentemente pela Região de Turismo num hotel de Lisboa (Já nessa altura os jornalistas do Algarve, não tinha classe para escutarem a voz da Região de Turismo), disse o chefe do Distrito, dr. Almeida Carrapato que decorriam em bom andamento as obras de ampliação da aerogare do aeroporto de Faro, fazendo parte dos planos do Governo a ampliação das pistas, de forma a convertê-lo em aeroporto internacional. Mas o Governo tinha ainda outra preocupação: a construção de outro aeroporto (além de beneficiações do de Portimão), que será instalado na zona de Paderne, centro geográfico da Província, e onde não existem terrenos classificados para a agricultura. Esta construção será de longo prazo. Aludindo às estradas, disse estarem em andamento trabalhos de ampliação e supressão de curvas e que, «em matéria de estradas e caminhos municipais vicinais, fez-se mais em dois anos e meio, que nos 20 anos antes do 25 de Abril.»

Jornal do Algarve de 14 de janeiro de 1977, dando conta que está “Prevista (por enquanto a longo prazo) a construção de um aeroporto em Paderne”

Acerca da ponte sobre o Guadiana, afirmou o dr. Almeida Carrapato, que não têm sido as autoridades portuguesas quem mais tem contrariado o projecto. Em 2 de Outubro, tiveram uma entrevista com o governador civil de Huelva que lhe prometeu ir pôr a questão ao seu governo, e fê-lo. Escreveu-lhe já, dando as melhores esperanças, estando certo de que a construção começará ainda em 1977».”

O curioso é que já em 1970, também se falava da Ponte Internacional do Guadiana e senão vejamos renovando a memória com a leitura de meia dúzia de linhas, do Decreto-Lei n.º 212/70:

“Decreto-Lei n.º 212/70 Convenção entre Portugal e Espanha para a Construção de Uma Ponte Internacional sobre o Rio Guadiana, assinada em Madrid em 2 de Abril de 1970 Usando da faculdade conferida pela 2.ª parte do n.º 2.º do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte: Artigo único. É aprovada para ratificação a Convenção entre Portugal e Espanha para a Construção de Uma Ponte Internacional sobre o Rio Guadiana, assinada em Madrid, em 2 de Abril de 1970, cujo texto em português vai anexo ao presente decreto-lei. Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Marcello Caetano – Rui Manuel de Medeiros d’Espiney Patrício. Promulgado em 6 de Maio de 1970. Publique-se. Presidência da República, 14 de Maio de 1970. – AMÉRICO DEUS RODRIGUES THOMAZ. […]”

A história é como o algodão e embora, como lemos antes, o primeiro passo tenha sido dado em 1970, quando os governos de Portugal e Espanha assinam um convénio para a construção da ponte, que aqui lembramos na citação do Decreto-Lei n.º 212/70 e o facto de 1977, o Dr. Almeida Carrapato, ter uma enorme esperança que as obras começariam ainda nesse ano de 1977, só quatro anos depois, em 1981, foi decidida a localização definitiva.

E neste longo faz, não faz, e até poderia ter aparecido uma luz aos responsáveis, para que a Ponte um dia pudesse suportar as velhas linhas da CP, só no início de 1989 começavam as obras. Dois anos e meio depois, para a 22 de agosto de 1991 a ponte ser aberta ao trânsito.

Portanto, como vimos antes, os olhares com que «sacrificam o Algarve», com um novo futuro, sempre foram tardios e envolvidos em estranhas neblinas. E por isso, não cansa repetir, que temos que ter um outro olhar para com a Região, não com as fanfurrices dos leilões que tanto estão na moda, mas antes numa exigência de competência, mas de igual modo, que a esta competência se possa também somar razões de respeito e compromisso dos responsáveis governamentais pelo Algarve, pela sua importância estratégica, mas de igual modo no peso que tem na economia do País, olhando de caras e sem máscaras para o turismo.

Num altura em que se devia estar a discutir o futuro do Pais, com um olhar critico, mas prenho de avaliação séria sobre o programa dos partidos, andamos cada vez mais enleados neste ciclo que nos tem abanado o futuro, que é o ciclo das dúvidas e da corrupção, e como se fossemos crianças a quem se oferece um chupa, chupa para nos calarmos, emergem e renovam-se novos escândalos e desafios, sobre a falta de transparência, um deles, e que grande, assola a política/empresários, coisa perigosa, e que nos chega da Madeira, esperando que este temporal, como muitos outros não seja defendido por um qualquer anticiclone dos Açores.

No mesmo dia, baralha-se e saiu o mesmo, ou seja, Sócrates e Carlos Silva, voltam a entrar na rota da justiça. Na Madeira, descobre-se, que afinal o Albuquerque era outro, nada tinha a ver com o Mouzinho, das mil guerras em Moçambique. E com o Albuquerque vem o Calado (que se calhar falou demais), o Avelino e o Custódio. Tem sempre um Custódio. Depois, vem outra vez o Custódio, o Avelino, o Calado e o Albuquerque e andamos nisto, com um deles até ter a felicidade que eu nunca tive, de viajar num avião da Força Aérea Portuguesa.

Não sei como é que vamos sair daqui, num tempo em que a imprensa solta as amarras a anda à cabeçada como autênticos carrinhos de choque. Pena, que o Presidente da República, no Congresso dos Jornalistas, tivesse evocado apenas um lado do sermão e não completado, que há mais imprensa para lá do patronato, para não evocarmos que há mais imprensa que aquela do mau jornalismo, que é aquele que está a ser amordaçada pelas leis que impede os jornais de diretos de publicidade, com leias claras e às claras,

E este zigue zague legislativo, que também está a matar a imprensa, neste caso a Regional, que nunca imaginei ser amordaçada, num ano em que estamos a viver a felicidade intensa da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril.

Com ou sem coisas antigas, olhemos ao futuro com esperança, mas acabemos com o jornalismo que vive a vender amendoins e pilhas e por vezes incapaz de trilhar o caminho certo, isto é, o jornalismo sério, que como recorda Henrique Monteiro, na edição do Expresso (p39) desta semana, para citar G.K. Chesterton (1874-1936) romancista e jornalista inglês, que lembra. «No Geral, o jornalismo consiste em dizer “Lord Jones está morto’ a pessoas que nunca souberam que Lord Jones estava vivo».

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