Aos que temiam um Governo radical de esquerda, fruto do apoio maioritário conseguido no Parlamento com o entendimento com BE, PCP e PEV, António Costa quis deixar claro: o seu Governo será um Governo moderado. No programa e na atitude.
O novo primeiro-ministro optou por uma intervenção a apelar à serenidade, a lembrar que o tempo que vivemos (“de muitas incertezas e enormes desafios”) “a todos exige um esforço adicional de diálogo e compromisso”: “Este é o tempo da reunião. Não é de crispação que Portugal carece, mas sim de serenidade. Não é altura de salgar as feridas, mas sim de sará-las”. Dirigindo-se nomeadamente ao seu antecessor, sentado na primeira fila, à sua frente, reiterou: “O bom conselheiro desta hora não é o despeito ou o desforço”. Até porque, acrescentou, “não progrediremos com radicalizações”.
E garantiu: “A conduta do XXI Governo pautar-se-á, pois, pela moderação”. Será moderado no programa: se vai prosseguir uma política alternativa à austeridade, será uma alternativa “realista, cuidadosa e prudente”. E será moderado na atitude.
“Um momento inteiramente normal”
Para o Presidente da República, uma “bicadinha”, subtil, mas ainda assim percetível: “Este Governo nasceu da recusa da ideia de que não haveria alternativa à política que vem sendo prosseguida e a sua posse por V.Exa. é a prova de que a democracia gera sempre alternativas”.
Nesta linha de raciocínio, “arrumou” a questão da (muito) discutida legitimidade ou não de um Governo feito à margem dos vencedores das eleições de 4 de outubro: “Com a entrada em funções deste Governo termina um momento político, certamente complexo e delicado, mas inteiramente normal numa democracia parlamentar”.
E agora, mãos à obra
Assumindo não ignorar ou minimizar nem “as muitas dificuldades” que tem pela frente, nem “as restrições” que hão-de limitar e condicionar a ação do Governo, o primeiro-ministro assegurou estar “confiante”. Tanto no projeto, como na “solidariedade da maioria parlamentar que lhe manifestou apoio”.
Sobre a linha de atuação que irá prosseguir, garantiu o empenho em virar a página da austeridade – conforme repetiu ao longo de toda a campanha eleitoral: “A austeridade não gera crescimento, nem a desvalorização interna [gera] prosperidade”, justificou. Para prometer “outras reformas”, assentes “no conhecimento e na inovação, na modernização do tecido empresarial e da administração pública, na valorização do território e dos seus recursos, na promoção da saúde, no reforço da coesão e na redução das desigualdades”.
Cristina Figueiredo (Rede Expresso)