CRÓNICA DE FARO: "Quanticus"

E Deus disse: «Haja Tempo/Surja Espaço», substantivos que configuram em plena criação poética, mais uma obra do conhecido médico e alma grande na ação anti-diabética em terras do Algarve, que é o dr. Eurico Dias Gomes. Intitula-se «Quanticus» e é nesse tempo e nesse espaço que, tal como agora aconteceu ao longo destas quatro dezenas de poemas, em milénios da história da Humanidade, a mensagem surge sublime (porque de uma pureza como as águas do Neiva), contagiante (de um contágio reverente) e a dialogar com os sentimentos maiores, como o são o cântico à Natureza, o encontro entre os homens ou o diálogo acontecido consigo mesmo. Tem este médico escritor, no percurso gémeo havido com outros clínicos e plumitivos portugueses (Miguel Torga, Fernando Namora, Bernardo Santareno…) ou no caso regional de outros nascidos nesta Terra Mãe (com relevo para Emiliano da Costa, talvez «o mais algaravista dos poetas algarvios..») essa rara e pertinaz vocação de sentir o transcendente na vida e morte concretizados a cada instante. Mas acontece que este minhoto, nascido em terra de Barcelos e de há muito assumido algarvio, prosseguindo, por exemplo Júlio Dinis, tem o suave encanto, de descrever em matizes sublimes a paisagem envolvente, dela não se excluindo mas figurando como obreiro integrado no que o rodeia – «Foz do Neiva» – No Verão o rio fica verde…; «Jacarandás» – Este Varão tarda/até os jacarandás estão frios secos mudos/E os azuis não acontecem…»; «Ilha de Faro» – Só nos é dado escutar/O doce cadenciado marulhar…

Tal como sucedera com anteriores livros, onde inclusive acontece um testemunho antropológico, com tradições, lembranças, jogos, a petizada irmã de décadas idas, o Dr. Eurico Gomes, lega-nos a sua vivência íntima e missiva da fraternidade que descobre em cada gesto. «Quanticus» teve uma merecida apresentação naquele fim de tarde outonal («O fim da tarde é calmo/Não corre ponta de vento/As folhas da figueira do quintal/ Ficam quietas secas mudas…), no Clube Farense, em plena «Calle Mayor» da capital sulina e uma digna moldura humana. Usaram da palavra o Eng. Augusto Miranda (presidente daquela centenária Instituição), o autor, o ilustrador José Maria Oliveira (que desenhou uma dúzia de excelentes gravuras, bem merecedoras de uma edição numerada) e o sempre apreciado «mestre» Afonso Dias, que cantou, declamou e afirmou «Eurico Gomes é um homem de afetos que escreve poesia limpa, escorreita e lírica, que convive muito com as suas memórias e que, para além do homem de ciência se interroga com uma solidão serena que com ele convive..».

João Leal

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