Inacreditável! Mesmo Harlem Désir, o habitualmente muito discreto e muito “redondo” líder do Partido Socialista francês, criticou frontalmente o chefe de Estado. Reagindo à posição do Presidente socialista, Désir, disse que Leonarda, de 15 anos, deveria regressar a França para prosseguir os estudos, mas “evidentemente com os irmãos e a mãe”.
A decisão de François Hollande de propor a separação da jovem da sua família foi criticada pela esquerda, pela direita e pelos observadores. Todos a consideram como um estranho compromisso entre os que no Governo e no PS pediam, em “nome da moral”, o regresso da toda a família cigana, de nove pessoas, a França, e os que apoiavam a posição da administração, da policia e do ministro do Interior, Manuel Valls.
A “síntese” de Hollande entre as duas linhas defendidas no PS e no Governo sobre o caso foi duramente recebida pela esquerda comunista, pelos ecologistas, pela direita e pela extrema-direita. Os termos com que todos a qualificaram foram graves e fortes: “ridícula”, “desumana”, “palerma”, “burrice”, “incompreensível”.
Leonarda não aceita decisão de Hollande
A propósito deste caso, Hollande anunciou que no futuro a escola será protegida e que a polícia não deverá intervir no seu interior nem no decorrer de atividades escolares no exterior. Leonarda foi detida por diversos agentes quando estava numa excursão com colegas e foi humilhada. “Até lhe perguntámos se ela tinha matado alguém!”, explicou um camarada do liceu, que viajava ao seu lado.
Leonarda já respondeu ao Presidente. Disse que pretende regressar a França, “mas com toda a família”. “No Kosovo não quero ficar, nem a língua falo!”, exclamou ela, que nasceu em Itália, filha de um pai natural do Kosovo.
Este caso deu origem a diversas manifestações de estudantes em toda a França contra o ministro do Interior, Manuel Vals, que eles comparam aos anteriores do mandato de Nicolas Sarkozy. No entanto, dois terços dos franceses apoiam o polémico socialista e mais de 80 por cento não desejam que Leonarda regresse a França.
A decisão de François Hollande sobre este “caso Leonarda”, que acabou por não agradar a ninguém, poderá fazer cair ainda mais a sua popularidade. Algumas sondagens indicam que menos de um quarto dos franceses o acham “um bom Presidente”.
Daniel Ribeiro (Rede Expresso)