Desavenças entre Merkel e Sarkozy agravam risco dos “periféricos”

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A probabilidade de default de Portugal, Irlanda, Itália e Espanha está de novo em alta. Os juros da dívida de Itália a 10 anos mantém-se acima de 6%

O mercado secundário da dívida abriu hoje com as yields (juros implícitos) dos títulos soberanos de todos os “periféricos” – Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha – em alta, agregando, também, a Bélgica e a França, segundo dados da Bloomberg.

Em destaque o caso das yields dos títulos do Tesouro italiano a 10 anos que se mantêm a subir acima da linha laranja dos 6%, que ontem ultrapassaram. As yields das obrigações espanholas a 10 anos estão, também, a subir no patamar dos 5%, tendo aberto em 5,53%.

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No caso português, as yields das obrigações do Tesouro estão também em alta, tendo aberto com os seguintes valores: 17,9% para as OT a 2 anos; 17,2% para as OT a 3 anos; 15,09% para as OT a 5 anos; e 12,16% para as OT a 10 anos.

A probabilidade de incumprimento da dívida soberana – uma avaliação feita pela CMA DataVision sobre o risco de default num horizonte de cinco anos – abriu em alta nos cinco “periféricos” da zona euro.

Risco de default português acima de 62%

O risco de default português está, de novo, acima de 62% e a probabilidade de incumprimento para a Irlanda aproxima-se dos 50% (apesar do relatório positivo da troika sobre a aplicação do plano de ajustamento por Dublin, divulgado ontem). A pressão sobre Itália continua e Espanha voltou a re-entrar, hoje, no “clube da bancarrota” para o 10º lugar, desalojando, de novo, a Croácia.

O entra-e-sai de Espanha neste TOP 10 do risco mundial é um sinal claro dos problemas atravessados pelo país vizinho, à espera de eleições. Espanha havia saído do “clube” a 22 de setembro e reentrou a 18 de outubro, tendo saído de novo ao final desse dia.

O “clube da bancarrota” conta, agora, com cinco membros do euro: Grécia, que lidera com 91% de risco, Portugal em segundo lugar com 62%, Irlanda na 6ª posição com 49,5%, Itália no 8º lugar, com 33,1%, e Espanha no último, com 28,8%. Ao “clube” pertence, ainda, a Hungria, membro da União Europeia, mas não da moeda única. A Hungria está na 9ª posição, com 31,3%.

A Bélgica – que tem sido o sexto em linha no stresse da zona euro – já ultrapassou ontem o nível dos 300 pontos base no preço dos credit default swaps (cds, seguros contra o risco de incumprimento), valor em que se mantem hoje na abertura. A diferença com Espanha é de menos de 90 pontos base. Em termos de yields há, ainda, uma separação de 5 pontos percentuais entre os dois países.

Merkozy enerva os mercados

Os mercados financeiros estão cansados dos ziguezagues da chanceler Merkel, pressionada fortemente pelo Parlamento em Berlim, e do presidente Sarkozy. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, garantiu que “há um acordo total” entre Berlim e Paris, mas, segundo o jornal francês Le Figaro, citando fontes que presenciaram o encontro dos dois dirigentes, a “atmosfera era glacial, apenas interrompida pelo anúncio do nascimento da filha” do casal presidencial francês.

Os investidores estão hipersensíveis ao adiamento sucessivo de decisões pela União Europeia e a zona euro. Desde quarta-feira que se têm sucedido notícias sobre cimeiras entre os dois líderes da zona euro, sobre desacordos sobre os pontos críticos e sobre a realização da cimeira europeia de domingo.

Ontem as bolsas mundiais caíram quase 1% e o sector financeiro cotado em bolsa quebrou um pouco mais, cerca de 1,3%. Os principais contributos negativos foram das bolsas europeias e asiáticas. No mercado dos credit default swaps ligados à dívida privada, três bancos viram o custo dos seus cds subir acima de 5% – o Santander, o Bank of America e o Crédit Agricole.

No último comunicado conjunto de Merkel e Sarkozy – um duo já cognominado de Merkozy – aponta-se para uma cimeira adicional, “o mais tardar”, a 26 de outubro (próxima quarta-feira). O folhetim terá de terminar, de alguma forma, até à cimeira do G20 que decorrerá em Cannes, em França, a 3 e 4 de novembro.

O aviso dos ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20 foi claro – ou os europeus põem em ordem a casa ou entra em força o Fundo Monetário Internacional como garante que as crises europeias – da dívida soberana, bancária e económica – não contagiam o mundo e o empurram para nova recessão global e pânico financeiro generalizado.

Hoje inicia-se em Bruxelas, ao final da tarde, a reunião do Eurogrupo (ministros das Finanças da zona euro) seguindo-se até domingo uma série de encontros. Uma nova cimeira entre Merkel e Sarkozy deverá ocorrer no sábado.

JA/Rede Expresso
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