Diálogos do antes e do depois

Bem vistas as coisas, não interessa o alvo do que é isso “do antes” e “do depois”. Foi sempre assim e assim será, enquanto esta cultura do aproveitamento seja de quem for perdurar, desde que seja para atingir um fim. Atingido o fim, os meios descartam-se com a maior das facilidades, os compromissos morais são esquecidos, e, como diz o povo do tempo da feira, vira o disco e toca a mesma música. E é também assim que nos aproveitamos uns aos outros até ao desaproveitamento final. É esta a base e a explicação da desinserção, um dos piores males do País mas que atingiu níveis escandalosos nesta ponta a sul.

Desinserção de gente que circula numa dada sociedade, vive desta, com esta e aparentemente para esta, mas que em nada participa e quando dá mostras disso por conveniência, faz teatro. E há teatro do bom e do mau. O bom é quando há coordenação e coerência entre o coração e o cérebro sobre o que se diz e se assume. É mau, quando o cérebro trabalha mas o coração não sente, ou quando o coração se mostra comovido mas o cérebro é faca cada vez mais afiada. Quando o volume da gente desinserida extravasa a definição de sociedade organizada, nem se pode chamar a isso sociedade, mas amálgama. Cada um segue o seu caminho mesmo que inserido com calculada generosidade no seu grupo de interesses, seja no caso da escola, do partido, do clube, do centro de poder, da escada ou escadote da saúde, da empresa, seja onde for. Em cada uma destas áreas, as coisas apenas saltam cá para fora, quando há bloqueio interno à beira da explosão na corporação de interesses. Antes não, e depois também não. Os professores calam-se, os médicos omitem, os políticos fazem-se esquecidos, os populistas espreitam na esquina que tapa a origem da insídia, os falsos aliados acrescentam às três virtudes da moralidade aparente uma quarta virtude da traição, e, como hipótese de sobrevivência neste jogo cruel, grande parte da sociedade fecha-se em casa entregando-se ao sono de sofá. Os números da abstenção no breve período de mágoas com as contas eleitorais, acabam por explicar o teatro do bom e o teatro do mau que todos fizeram em extrema cumplicidade, e no caso do que se passa nesta ponta sul do País, o coração dificilmente pode dizer que é da terra e o cérebro também dificilmente pode evitar ser visto como carta fora do baralho.

Na verdade, o Algarve é uma esplanada onde um enormíssimo número de gente desinserida vê o mar. Os desinseridos, noutras regiões, normalmente são poetas, romancistas, pintores, bailarinos, etc. Aqui são presidentes disto ou daquilo, chefes daqui ou dalém, delegados desta doutra ramagem, eleitos no diálogo do antes ou no depois em que já se sabe tudo.

A desinserção é a arma de destruição massiva do Algarve. E quem não sente, não é filho de boa gente.

Flagrante paciência: E como os erros hospitalares, sobretudo os provocados por incúria e por desdém pelos que parecem zés-ninguém, se curam com os bisturis usados nos mesmos erros, é só questão de haver um Ministério da Saúde a Sério. Aguardemos com paciência.

Carlos Albino

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