Direção da ACTA “perplexa” com perda de financiamento

Luís Vicente salientou que a candidatura da ACTA só ficou de fora porque “já não houve dinheiro”

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A direção de A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) reagiu com “perplexidade” à exclusão definitiva do financiamento para o apoio sustentado das artes e advertiu que a decisão coloca em causa o emprego de 12 pessoas.

O diretor artístico da ACTA, Luís Vicente, criticou a tutela da Cultura por ter recusado reforçar o montante disponível para o Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes (DGArtes), deixando a companhia sem financiamento, apesar de ter tido 71,61% no concurso para os apoios quadrienais.

“É uma reação, antes de mais, de perplexidade, e depois naturalmente de indignação e de uma certa revolta, porque isto é mandar para o lixo 25 anos de trabalho de uma estrutura e mandar para o desemprego 12 pessoas”, afirmou Luís Vicente.

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Questionado sobre se a não concessão do apoio à ACTA vai implicar o final da atividade e a perda de trabalho para os seus colaboradores, Luís Vicente respondeu que “não é inevitável”, mas sublinhou que ainda não há uma solução para assegurar a atividade cultural e itinerante realizada pela companhia em todo o Algarve.

“Estamos ainda a avaliar, não tenho falado com jornalistas porque estamos ainda a avaliar uma série de aspetos, nada disto está ainda encerrado”, reconheceu, alertando que a perda dos apoios torna “muitíssimo mais difícil” o funcionamento da ACTA e deixa todos os seus integrantes “completamente esgotados”.

Luís Vicente lamentou que a decisão esteja também a pôr em causa “o próprio funcionamento do Teatro Lethes”, uma das salas de espetáculo mais emblemáticas de Faro, onde a companhia está sediada e onde se realizam atividades sete dias por semana.

“Temos [no Teatro Lethes] muita gente a vir para cá, a trabalhar toda a semana. De segunda-feira a domingo, vêm para aqui pessoas, temos aulas de dança, de expressão dramática, várias classes de alunos, vários professores”, assinalou, reconhecendo que agora “fica tudo em risco”.

O diretor da ACTA lembrou ainda que a companhia é a única que anda com um autocarro transformado em teatro a percorrer todo o distrito de Faro com espetáculos itinerantes, que levam a Cultura aos 16 concelhos da região.

“Evidentemente, deixa de existir na região a única companhia de Teatro que presta este tipo de serviço”, acrescentou.

Luís Vicente salientou que a candidatura da ACTA só ficou de fora porque “já não houve dinheiro”, e criticou a verba disponibilizada pela tutela da Cultura para os apoios, considerando que “o orçamento devia ser superior ao que é” e lamentando que o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, não tenha acedido aos pedidos do setor para incrementar a verba disponível.

O diretor da ACTA considerou que a modelo de atribuição de apoios “tem de ser revisto” e não sofrer apenas ajustes consoante a vontade de quem está na tutela.

“O que está errado é o sistema, isto tem de ser um trabalho de fundo, com alterações de fundo e substanciais, tem de ser uma criada uma coisa nova, não é isto assim, porque assim anda na zona do remedeio e, todos os anos, quando chega esta altura, andamos aqui com o coração nas mãos, como se costuma dizer, com pessoas a passarem mal”, argumentou, frisando que “nesta altura já há pessoas com ordenados em atraso durante vários meses, três e quatro meses”, e “não se pode trabalhar assim”.

No concurso quadrienal de 2018-2021, a ACTA recebeu uma classificação de 70,5% (abaixo da pontuação deste ano) e foi apoiada com 1,13 milhões de euros ao longo dos quatro anos.

No Programa de Apoio Sustentado, na modalidade de Teatro, para o próximo quadriénio, a ACTA foi uma de sete estruturas excluídas, face a 48 apoiadas.

Na quarta-feira, o ministro da Cultura rejeitou, numa audição parlamentar, um aumento de financiamento dos apoios sustentados às artes só para responder à contestação do setor, mas admitiu discutir o modelo dos próximos concursos.

Nessa audição, o presidente da comissão parlamentar de Cultura, Luís Graça (PS), pediu para ser substituído na condução dos trabalhos para se dirigir ao ministro, enquanto algarvio e deputado eleito por Faro, e lamentar a perda de apoio atribuído à ACTA.

“Não posso deixar de demonstrar o meu desconforto face às consequências para o Algarve do desfecho do concurso sustentado às artes, designadamente da área do teatro”, afirmou Luís Graça, realçando que, no âmbito das quotas regionais, o único projeto apoiado nos quadrienais do Teatro é o de uma estrutura sediada em Lisboa, no caso, o Teatro do Elétrico.

O deputado, que é também líder da distrital de Faro do Partido Socialista, acrescentou: “Parece-nos – e eu sou deputado do PS e defendo o Governo – que este Governo, que promove a subsidiariedade, que promove o acesso à cultura, que tem como objetivo central a coesão territorial, que estabelece no seu programa o desenvolvimento das zonas periféricas, não pode aceitar o resultado deste concurso sem uma reflexão sobre as consequências.”

“O espírito do edital, ao fixar um número limite de estruturas a apoiar, não vai no sentido que sejam afinal financiadas estruturas de Lisboa em concorrência com as que existem ou sobrevivem nas regiões periféricas”, sublinhou, dando como exemplo hipotético o caso de um curso aberto em Lisboa pela Universidade do Algarve, com financiamento estatal, que tivesse como consequência a extinção do apoio financeiro à Universidade de Lisboa.

Luís Graça rematou: “A ACTA sem este apoio fica em risco e nós ficamos mais pobres”.

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