Doentes com Sida comem estrume de vaca

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O estômago não deve estar vazio quando se tomam os medicamentos. Na falta de comida é a solução que resta.

Doentes com Sida na Suazilândia estão a comer estrume de vaca para acompanhar a medicação que tomam. Neste momento, o país atravessa uma situação terrível de seca e fome. Como é preciso haver algo no estômago para os anti-retrovirais assentarem, os doentes por vezes recorrem a essa solução última, misturando o estrume com água.

Quem fez a denúncia foi Joseph Souza, deputado pela divisão administrativa de Lugongolweni. Membros do governo criticaram-no logo, mas ele não recuou: “Afirmo que algumas pessoas em medicação anti-retroviral andam a comer estrume de vaca, e existe ampla evidência desse facto. Podem vir aqui e confirmar vocês próprios”, disse a jornalistas.

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Não é a primeira história relacionada com a ingestão de estrume de vaca que aparece nas manchetes. Há anos, o então porta-voz do parlamento comeu algum que havia roubado do kraal real – um kraal é uma área onde se guardam animais – durante uma festa religiosa. Foi demitido por isso, e parece também por outros motivos (ver à frente)

O que agora está a acontecer tem um nível de gravidade completamente diferente. E não por acaso, acontece sobretudo no Lubombo, uma região especialmente afetada pela seca. “Que algumas pessoas tenham optado por comer estrume de vaca parte-nos o coração, e mostra quão grave a situação se tornou”, afirma Thembi Nkambule, diretor do SWANNEPHA, a rede de solidariedade para pessoas com Sida.

Mais de 20% de infetados

A Agência Nacional de Gestão de Desastres, a quem cabe a distribuição de alimentos, culpa a situação económica do país. Cada um dos seus centros recebem 420 sacos de alimento, o que está longe de ser suficiente para as necessidades.

“Nalgumas áreas, por exemplo no meu círculo, vemos na contingência de distribuir um saco de comida com 50 quilos a 10 famílias. Pode-se imaginar quanto é que cada família leva para casa”

Há muito que a Suazilândia, um pequeno país junto a Moçambique e à África do Sul, se destaca por indicadores negativos. Do seu estimado milhão e pouco de habitantes, uns 190 mil têm Sida. São cerca de vinte por cento da população. (Se se adotarem os números oficiais de um censo recente, a percentagem sobe aos 26%).

Entre os adultos na casa dos vinte, metade têm o vírus! A taxa de mortalidade é a mais baixa do mundo.

13 esposas, cada uma em seu palácio

A miséria e a doença não impedem que o rei Mswati, último monarca absoluto da África subsariana, tenha atribuído um palácio a cada uma das suas treze mulheres. Com uma fortuna pessoal algures entre os cem e os duzentos milhões de dólares – não contando o alegado trust fund de dez mil milhões que o seu falecido pai lhe deixou – o rei está bem protegido dos sofrimentos dos seus concidadãos.

Só não consegue escapar a algumas aflições universais, como se vê pelo recente comunicado da Swaziland Solidarity Network a propósito da demissão de um ministro:

“Uma vez mais, o Rei Mswati recorreu às suas táticas infames e infantis, sobrepondo questões privadas aos assuntos de estado quando demitiu o ministro da justiça por ter um caso com a sua duodécima esposa, LaDube. Isto nada tem de novo, uma vez que ele também forçou os dois anteriores porta-vozes do parlamento a demitirem-se, um por ter roubado estrume de vaca e o outro por também se ter envolvido com outra das suas mulheres”.

JA/Rede Expresso
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