E agora para algo completamente igual

A televisão tem destas coisas: um cidadão cumpridor (em princípio) das suas obrigações fiscais orienta os olhos para a televisão e não é que no meio de todas aquelas notícias sobre novos e velhos governos lá vem Passos Coelho a perorar sobre a família, sempre rodeado pela fina flor da enxúndia (e mais um ou outra personagem). Palavra que por auto sugestionamento e por breves momentos, ainda pensei que o senhor em causa estava encoberto por uma fina camada de bruma, vinda sabe-se lá de onde (Alcácer Quibir ou Santa Comba Dão; riscar o que não interessa), só para pôr os pontos nos Is na rebaldaria que por cá vai. Sabendo o Avarias que nesta situação se pode aplicar perfeitamente o sagrado princípio segundo o qual um relógio parado está certo duas vezes durante o dia, quer notar o mesmo Avarias que dá muito trabalho manter a posição de Passos Coelho, a fazer que está meio fora e meio dentro. O nosso antigo e de má memória primeiro-ministro, deve ter pensado, enquanto compilava os textos para o livro, que deve continuar numa espécie de espera activa, zona onde ainda inscreveu uma vinda ao Algarve para tratar da imigração à Ventura, e agora um livro de instruções para organizar almoços de Páscoa em família e, pressuposto subliminar, abortos do lado de lá da fonteira espanhola. Sobre o excelso amor pelo tal núcleo familiar, convém, se calhar, termos algum distanciamento crítico, pelo menos se pensarmos que grande parte das violações de menores é feita na mama no seio da tal família, aparentemente sagrada, só para vos recordar dados científicos e não mera conversa de café. A questão que quero defender é que não é bom o tal distanciamento entre os extremos: se o Avarias se rebelou contra os propósitos da chamada cultura Woke importada directamente dos Estados Unidos, muitas vezes sem nenhuma relação com a nossa realidade, sempre à procura de novos inimigos reais e imaginários para aplicar a perspectiva de uma certa esquerda, também há-de lutar, com as poucas forças que lhe restam, contra a brigada do reumático, beatos e fascistas à portuguesa (misturados com boas e ingénuas almas que não percebem como apenas são úteis), como se o mundo tivesse parado há exactamente cinquenta anos. É no meio deste arrazoado de opiniões e pontos de vista que Passos Coelho se mantém como reserva moral de uma certa direita, pronto para substituir Cavaco Silva no recrutamento para um futuro governo (a memória é curta e a dos tugas ainda mais) ou presidência da república, que sonhar não paga imposto. Sobre tal cargo mantenho a firme convicção que prefiro um PR palavroso e troca-tintas que diz e desdiz, do que Passos Coelho, pessoa em que alguém, num outro mundo, ganharia muito dinheiro se um dia o comprasse pelo dinheiro que vale e vendesse pelo que ele pensa que vale.

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