Estudo revela condições precárias e esgotamento entre jornalistas portugueses

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Um estudo realizado pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ), em parceria com a Casa da Imprensa e a Associação Portuguesa de Imprensa (API), destaca “uma situação preocupante” na indústria jornalística portuguesa, foi revelado no dia 17 de outubro.

O “Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal” revela que 48% dos jornalistas portugueses enfrentam níveis elevados de esgotamento, enquanto 18% sentem “exaustão emocional a um nível alarmante”.

Realizado entre abril e maio de 2022, o estudo reúne dados de 866 jornalistas ativos e aposentados em 119 concelhos de Portugal. Os resultados apontam para “condições de trabalho precárias, sobrecarga laboral, conflitos éticos, degradação da qualidade do trabalho e dificuldades na conciliação entre a vida profissional e familiar como principais causas do esgotamento profissional”, lê-se no comunicado de imprensa divulgado pela API.

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Segundo o inquérito e o estudo que se seguiu, os jornalistas portugueses “estão sob pressão constante devido a metas irrealistas e prazos apertados, que não coincidem com suas disponibilidades, qualidade e formação”. O assédio moral, “principalmente por parte de chefias e/ou patrões”, também foi identificado como uma preocupação, em particular para as mulheres na profissão.

O desgaste nos profissionais do jornalismo em Portugal “explica-se com uma série de diferentes variáveis e evidencia a existência de uma clara incompatibilidade entre a vida familiar e profissional, sobretudo para as mulheres”. O estudo permite perceber que quem recebe menos “está mais desgastado”, cenário que piora “quando há ameaça de desemprego”. Também o assédio moral contribui “significativamente para a situação de desgaste”, que se agrava com os conflitos com a hierarquia que é mais evidente nas mulheres.

Os dados apontam para uma média de filhos por jornalista de apenas 1,04, abaixo da média nacional de 1,38. Esta baixa taxa de natalidade entre os jornalistas é atribuída “a dificuldades na conciliação entre trabalho e vida familiar, agravadas pela instabilidade financeira e pela insegurança no emprego”, aponta.

O Sindicato dos Jornalistas, a Casa da Imprensa e a Associação Portuguesa de Imprensa, organizações envolvidas no estudo, “estão comprometidas, dentro das respetivas esferas de ação, a unir esforços e usar estas conclusões para melhorar o apoio aos seus associados”, afirma.

O “Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal” é fruto de um trabalho de investigação coordenado por Raquel Varela e Roberto della Santa, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e contou também com o apoio da Federação Europeia dos Jornalistas (FEJ). São coautores do trabalho Duarte Rolo, João Areosa e José António Antunes (Observatório para as Condições de Vida e Trabalho, FCSH/UNL) e Henrique Silveira, Miguel Amaral e Beatriz Santiago (Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa).

Números a destacar

·     48% do universo inquirido apresenta níveis elevados de esgotamento;

·     18% apresentam níveis de exaustão emocional que variam entre um nível muito elevado e extremamente elevado;

·     38% apercebem-se de problemas mentais decorrentes do próprio trabalho jornalístico;

·     15% dos respondentes ao inquérito declara ser alvo de assédio moral, e a maioria destes (93%) declara ser alvo desse assédio por parte das chefias e/ou patrões, sendo uma parte (7%) por colegas;

·     Cerca de 50% dos jornalistas que responderam ao inquérito trabalham mais de 40 horas por semana e aproximadamente metade trabalha mais de dez horas semanais em períodos noturnos;

·     Um terço dos respondentes considera que há um desequilíbrio ruinoso entre a vida pessoal e a profissional;

·     52% são casados ou vivem em união de facto, 33% são solteiros, 14% são divorciados;

·     A média de filhos é de 1,04, abaixo da média nacional de 1,38 filhos por mulher;

·     40% não têm filhos, 26% têm um filho, 27% tem dois filhos;

·     36% dão conta de que o salário auferido condiciona a prática profissional;

·     80% dos respondentes possui formação superior: 20% com bacharelato ou licenciatura pós-Bolonha; 34% com licenciatura pré-Bolonha, 11% com pós-graduação e especialização; 14% com mestrado integrado, 2% com doutoramento e 19% com ensino secundário. 7% estavam, na altura do inquérito, a estudar;

·     Sobre a formação complementar, 59% dizem não ter tido, 12% sim, por iniciativa da empresa, e 29% por iniciativa própria;

·     54% estão inquietos com a precarização da produção jornalística atual;

·     82% dizem que o ritmo de trabalho transformou as rotinas produtivas;

·     49% admitem ter vivido situações de censura ou autocensura;

·     52% foram bloqueados no acesso às fontes por autoridades do Estado, mercado ou sociedade civil;

·     42% foram confrontados com problemas éticos por causa do trabalho;

·     48% sentem-se inseguros com a sua situação precária;

·     62% não encontram apoio na resolução de questões éticas das rotinas laborais;

·     1225 euros é a remuneração média líquida dos jornalistas respondentes no ativo.

Consulte o estudo completo aqui.

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