Ex-inspetores da PJ alertam crianças e pais sobre os perigos da internet

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Gonçalo Amaral e Paulo Pereira Cristóvão com a vereadora Conceição Cabrita

DOMINGOS VIEGAS

Mais de 200 pessoas reuniram-se na última sexta-feira no Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António, para ouvir Gonçalo Amaral e Paulo Pereira Cristóvão, ex-inspetores da Polícia Judiciária (PJ), falar durante cerca de três horas sobre crianças desaparecida e sobre os perigos que a internet pode ter para as crianças.

De acordo com Paulo Pereira Cristóvão “dez por cento dos abusos sexuais a crianças têm origem em crimes informáticos”, através da internet, “…e estes números são apenas os que chegam ao conhecimento da PJ”, sublinhou. Aliás, a utilização da internet por parte dos pedófilos para cativar as crianças e para praticar abusos sexuais acabou por ser o tema que despertou mais curiosidade e que mais questões levantou por parte da plateia que encheu por completo aquele espaço cultural da cidade pombalina.

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Gonçalo Amaral defendeu que “a melhor forma de evitar que tal aconteça é prevenir” e que a educação “deve começar em casa e não no meio escolar”. “Não podemos ter tabus com os nosso filhos. É preciso falar de tudo com eles”, pois a internet “pode ser uma porta maravilhosa de conhecimento, mas também pode ser uma porta tenebrosa dos maiores males”, alertou, numa clara alusão às redes sociais e aos chats.

Ainda em relação à prevenção, Paulo Pereira Cristóvão foi mais longe e defendeu mesmo que as crianças não devem usar a internet sozinhas. “Não se põe um automóvel nas mãos de uma criança porque esta não está habilitada para o conduzir. Então, porque é que lhe dão a internet?”, exemplificou.

“Se a criança quer internet, consulta-a na sala e em família”
“Estamos a democratizar muito cedo o que não deve ser democratizado e, para muitos pais, também é cómodo deixar a criança sozinha com a internet para não os chatear. Mas aqui não tem que haver democracia. Se a criança quer internet, consulta-a na sala e em família. A privacidade da criança é quando está a tomar banho. Fora disso não tem que haver privacidade nenhuma”, defendeu Paulo Pereira Cristóvão.

Os dois ex-inspetores recordaram que não é possível definir o perfil físico de um pedófilo e que a internet é uma forma muito fácil de este travar contacto com crianças: “O pedófilo estuda até à exaustão, por exemplo, a forma que as crianças têm de escrever no MSN, para que seja visto como mais um igual a elas. São autênticos travestis psicológicos. Conhecem os jovens porque falam com eles, conhecem os seus gostos, como por exemplo as músicas…”, alertou Paulo Pereira Cristóvão, explicando que “o que lhes dá prazer não é consumar o ato sexual, mas sim o ato de caçar e as coisas que têm que fazer para ir subindo na confiança do alvo”.

“Devemos estar atentos a alterações de comportamento”
Os ex-inspetores deixaram ainda alguns alertas sobre indícios que podem ajudar a perceber se uma criança está a ser vítima de abusos sexuais.

“Devemos estar atentos a alterações de comportamento. Quando uma criança de sete ou oito anos parece estar a crescer muito depressa, quando começa a ser demasiado arrumadinha, a não brincar com aquilo que seria normal para a sua idade… tudo isto pode indicar que se está a passar alguma coisa”, explicou Gonçalo Amaral, sublinhando que “os vizinhos e os professores também devem alertar quando notarem algo de estranho”.

Pegando nesta ideia de que o meio que rodeia a criança pode ajudar a alertar, e recordando que os abusos não acontecem apenas através da internet, Gonçalo Amaral lembrou o caso da Joana, a menina desaparecida na aldeia da Figueira. “Chegámos à conclusão de que a criança era violada pelo padrasto, quando foram ouvidos os vizinhos e os professores”. Neste sentido, “a Comissão e Proteção de Crianças e Jovens de Portimão, mais uma vez, falhou”, afirmou o ex-inspetor.

“E não foi nenhuma vidente que nos disse isso. Posteriormente, através de análises, detetámos vestígios de esperma na roupa interior e na cama da criança. E dizemos isto com toda a convicção e com toda a clareza”, acrescentou Paulo Pereira Cristóvão.

Ainda em relação aos crimes sexuais praticados com crianças e jovens, Gonçalo Amaral defendeu que alguma legislação deve ser repensada. “Choca-me que, perante o Código Penal, aos 14 anos uma criança passe a poder dizer sim e o que poderia ser considerado um abuso deixa de o ser. No entanto, para votar é só aos 18 anos”, lamentou.

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