EDITORIAL – Um país de tanga
Vinte seis anos depois da adesão de Portugal à CEE, através da assinatura do respectivo Tratado, em 12 de Junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, pela mão de Mário Soares, muita gente se questiona, hoje, se valeu a pena esse passo. Muito deste euroceticismo deve-se, sem dúvida, à grave situação em que se encontra hoje o país e à perceção de que na União Europeia é cada vez maior o fosso que separa os Estados ricos dos pobres. É o próprio Mário Soares que, num artigo publicado no jornal “El País”, a propósito do actual momento que vive a Europa, põe o dedo na ferida criticando a “suposta superioridade da Alemanha em relação aos restantes Estados Membros” que, de uma forma mais ou menos evidente, lhe vão obedecendo, não se coibindo de vaticinar, mesmo, se se persistir neste rumo, o fim da UE.
Mário Soares diz que na UE desapareceu “ a igualdade e a solidariedade entre os Estados” e que “a Grécia, Espanha e Portugal podiam ter-se oposto às exigências de uma Alemanha que os lançava para a recessão. Mas não tiveram coragem de o fazer”.
E, efectivamente, reflectindo sobre o que foi para Portugal este quarto de século de integração Europeia, o que se constata é que, por entre os erros cometidos pelos sucessivos governos, as fraudes e incompetências e a má aplicação de muitos dos fundos que nos chegaram, há razões para não estarmos felizes com este casamento, ainda que nos agrade a ideia de uma casa europeia comum, como idealizou Jean Monnet.
O país modernizou-se, temos portugueses nos mais altos cargos europeus, mas continuamos a estar entre os mais pobres. Sem agricultura, sem pescas, sem indústria e com um turismo debilitado, Portugal está na eminência de ter que vir a pedir ajuda externa, porque a austeridade dos PECs não foi suficiente para convencer os mercados e as agências de rating, sedentos de sangue, que somos capazes de reduzir o déficit das contas públicas.
Vinte e seis anos depois da adesão à CEE, temos um país moderno mas de tanga!