FERNANDO REIS

Impostos versus cortes na despesa pública

O país está a bater mesmo no fundo, não tanto já pela crise económica internacional, mas pela falta de vergonha de quem nos governa. O que hoje é verdade, amanhã é mentira. Hoje diz-se que não vai haver portagens nas SCUT nem mais aumento de impostos, amanhã faz-se precisamente o contrário. E como se isso não bastasse, num meio de um diferendo com a oposição, em particular com o PSD, em torno do Orçamento de Estado para o próximo ano, recebemos a visita de um senhor mexicano, Angel Gurria, que enquanto governante no seu país deixou muito a desejar, mas que agora, na qualidade de secretário-geral da OCDE vem justificar as medidas de austeridade preconizadas pelo PS e apelar ao consenso entre Sócrates e Passos Coelho. Não se esquecendo de sublinhar que Portugal já não tem mais margem para cortar na despesa pública e que não lhe resta outro caminho que não seja o do aumento de impostos. É a todos os títulos inaceitável esta ingerência nos nossos assuntos internos. Esta é mais uma forma de pressão a juntar a outras, a que temos assistido ultimamente, por parte de certos especuladores internacionais, que tudo têm feito, perante a passividade do nosso governo, para agravarem, ainda mais, os juros da dívida pública nos mercados externos.
Já aqui referimos e voltamos a sublinhar, agora, que não se podem pedir mais sacrifícios aos portugueses, quando do lado do governo e das empresas públicas, continuam a esbanjar-se milhões de euros, sem qualquer preocupação com a despesa.
Sacrifícios sim, quando o mal está a ser distribuído de forma equitativa por “todas as aldeias”, quando não, o povo não gosta. Soa a hipocrisia, a falsidade. E a “panela” pode rebentar a qualquer momento. O pior ainda pode estar para vir.
Numa altura em que comemoramos o centenário da República, é bom lembrar as semelhanças entre a actual situação do país e aquela que se vivia então e que conduziu à Revolução Republicana.
Antes de mais taxas e novos aumentos, do hipotético corte do 13.º mês e de congelamentos na função pública – e porque têm que ser só estes trabalhadores a pagar a crise? Os cidadãos querem ver exemplos concretos de poupança, por parte do governo e das empresas públicas.
Vamos esperar para ver!

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1 COMENTÁRIO

  1. “No interior da crónica do Director”

    A CEE do Snr, Barroso está a “comer-nos as papas na cabeça”

    Então a CEE que hoje sabe tudo, e tudo nos impõe, a nós que somos um país periférico e estamos mais expostos a qualquer crise europeia ou mundial e que por isso mesmo mereceríamos mais cuidado e acompanhamento para que quando os países ricos se constipassem nós não entuberculizássemos de seguida? E fomos entuberculizados por quem? Pelo lixo tóxico da ganância da economia de roleta provocada pelos bancos, ou pelas nossas asneiras enquanto povo? Claro que foi pelos agiotas que disseram: «comprem casa, carro, viagens, endivedem-se, sejam felizes com o nosso crédito e com os “spreads” mais baixos do mercado…»

    Agora, é o défice “para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo”; este vocábulo viaja desde 2007 na boca da Ferreira Leite, quando em 2007 dizia que era preciso baixar o défice. Entretanto foram fazendo uma política de foguetório, banquetes e festas com excursões para irem sublimando o povo, cada Câmara à sua maneira na caça aos votos. Ele tem sido “representações medievais” que custam os olhos da cara aos dinheiros públicos, na sublimação do povo a realçar o etnocentrismo regional e as bravatas grosseiras como se o feudalismo (leia-se senhorialismo ibérico), alguma vez tivesse defendido os interesses dos mais fracos que não fosse o de explorá-los, o mais escravisadamente que pudessem. E agora voltará a acontecer-nos o mesmo.

    Neste momento com as actuais medidas, mais as que virão em Janeiro regrediremos mais de quarenta anos. Tudo voltará ao antes de 1969, e aos tempos da ditadura, desta vez decretada por algum FMI. Então a CEE, não tinha conseguido ver há três anos atrás, que esta política despesista das autarquias, ministérios, empresas públicas e quejandos, era incomportável para um país que sempre importou 2/3 daquilo que come? A CEE, não sabia que a maioria das autarquias estavam afogadas em dívidas e empréstimos bancários?

    A quem conveio toda esta situação a não ser aos especuladores do antes, que são os mesmos de hoje com que nos agitam como sendo os grandes papões. Mas então, não nos foi dito que com a CEE, finalmente iríamos ter um nível de vida igual aos países do centro da Europa?

    Mas logo a seguir, o que aconteceu, foi que trocámos uma nota de cem escudos por uma moeda de duzentos escudos. Quase tudo alegremente passou a custar o dobro, menos os ordenados da maioria do povo, que quase estão iguais de há dez anos a esta parte. De seguida, o pequeno comércio “deu o berro” e começou a fechar, por via do esmagamento das grandes superfícies que foram abrindo furiosamente por todos os concelhos, liquidando o pequeno comércio tradicional de proximidade, gerador de emprego, a começar pelos pequenos comerciantes que tiveram que mudar de ares. De seguida abateram-se as pescas e antes já tinha começado o desmonoramento da agricultura.

    Em política a memória é curta. Em 2007, o PS, contestava as medidas da Ferreira Leite para conter o défice, na mira de vir a ganhar as eleições legislativas… e ganhou. E durante estes últimos anos, Sócrates não só não cumpriu os 100 mil empregos prometidos, bem como o tal “défice” incomodativo da altura passou a ser uma incomodidade absoluta, que ele nem se demite e tão pouco consegue fazer seja o que for para o evitar, a não ser à custa dos mais desprotegidos deste país, que é o trabalhador mais humilde carregado de despesas e sem dinheiro para a prestação da casa, fora o resto, mais uma taxa de desemprego galopante, numa crise que está a tomar contornos sem precedentes. Porque quando éramos pobres, sem tantos bancos, poupávamos, porque sabíamos que não podíamos gastar mais do que aquilo que ganhávamos. Agora, disseram-nos, incentivaram-nos a contrair empréstimos e a tornarmo-nos proprietários à força, condenando a nossa mobilidade. Porque se não há emprego no norte vamos para o sul, ou seja para onde fôr. O que acontece, é que tão pouco se consegue vender a casa, com a agravante de os bancos estarem a desvalorizá-las. Não há saída para esta política de agiotagem.

    Nos anos sessenta andámos (eu), debaixo das balas que silvavam pelas paredes da baixa de Lisboa, numa correria tresloucada (pareciam que estavam drogados com qualquer substância anfetamínica para tanta ferocidade que demonstravam) os “guardas da polícia de choque” do Capitão Maltez da PSP, sediada em Oeiras. Varriam as ruas das Baixa e dos Restauradores à coronhada, ao tiro e à bastonada. Algumas a mim ninguém me tira. Ficaram marcadas para todo o sempre da minha existência. Ou dos carros da tinta azul, que nos marcavam, para de seguida sermos encarcerados no Governo Civil para interrogatório e mais umas chapadas. Naqueles tempos, afinal, o que queríamos acima de tudo era não ir quatro anos para tropa com o risco de por lá ficarmos numa terra de ninguém, ou virmos estropiados, como aconteceu a muitos amigos meus de infância.

    Na tarde do 25 de Abril, quando nada ainda estava decidido e era perigoso lá estar, já nós estávamos no Largo do Carmo, muito antes do Salgueiro Maia ter chegado com o chaimite e alguma pequena artilharia. E gritámos e aplaudimos, demos força, no fundo fomos nós que naquela tarde e ali, fizemos a revolução. Depois à noite fomos para a António Maria Cardoso, onde novamente estivemos sob fogo da PIDE que voltou a matar.

    Não foi por esta “democracia” que eu estive no Largo do Carmo, naquela tarde. Foi por uma outra esperança e mais bem estar para todos nós, portugueses e trabalhadores!

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