Figuras do PSD/Algarve contestam escolha de autarca de Cascais

Miguel Pinto Luz tem sido um dos nomes mais falados da última semana no que toca à política regional e nacional. Natural de Lisboa, tem 46 anos, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica, número dois do PSD e vice-presidente da Câmara de Cascais, Para surpresa de muitos, especialmente das concelhias do PSD/Algarve, foi escolhido por Luís Montenegro para encabeçar a lista da AD pelo círculo de Faro, o que gerou polémica e muitos comentários nas redes sociais a reclamar o lugar para Cristóvão Norte (que defende que Pinto Luz poderá ser muito útil ao Algarve). O JA foi ouvir algumas figuras sociais-democratas da região sobre "um senhor de Lisboa"

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A expetativa pairava no ar. As listas de candidatos da Aliança Democrática às eleições legislativas de 10 de março foram oficialmente anunciadas no Conselho Nacional do PSD, que decorreu no dia 15 de janeiro, em Lisboa.

Para contextualizar, é importante recordar que a Aliança Democrática (AD) é uma coligação política de centro-direita, formalizada no passado dia 7 de janeiro, formada pelo Partido Social Democrata (PPD/PSD), pelo CDS – Partido Popular (CDS–PP), pelo Partido Popular Monárquico (PPM) e personalidades independentes.

Para surpresa de muitos, ficou-se a saber, nesse dia, que o círculo de Faro da AD será encabeçado pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais (distrito de Lisboa), Miguel Pinto Luz, enquanto o líder da distrital do PSD/Algarve, Cristóvão Norte, irá em segundo.

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Na segunda-feira (dia 15), Cristóvão Norte reagia na sua página de Facebook: “Integrarei a lista da Aliança Democrática no segundo lugar pelo Algarve. O meu compromisso com a minha região e o meu país mantém-se inabalável. Tudo farei para mostrar que é possível construir uma alternativa melhor para a vida de todos nós. Obrigado a tantos que me têm manifestado o seu apoio”.

À chegada ao Conselho, o ex-deputado manifestou “todo o apoio” ao novo cabeça de lista da AD, referindo que foi “uma escolha do presidente do partido”. Sem indicar nomes ou estruturas, Cristóvão Norte assumiu aí que houve quem discordasse da escolha de Luís Montenegro no PSD/Algarve e que havia um “documento que estava a ser trabalhado por algumas pessoas”.

Concelhias discordam da decisão
O documento de que falava era uma carta assinada pelas 16 concelhias do PSD/ /Algarve, enviada ao presidente do PSD a “expressar o desagrado” por o líder do partido “não escolher Cristóvão Norte como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Faro”.

A carta, que circulou esta semana na imprensa, refere que é “inaceitável escolher um candidato sem residência ou ligação efetiva à região” e fala num “grande descontentamento” entre os militantes do PSD no Algarve.

A escolha das concelhias tinha Cristóvão Norte como protagonista, contudo, ainda que não seja cabeça de lista, o segundo lugar deverá garantir-lhe a eleição como deputado da Assembleia da República, contrariamente ao que aconteceu nas últimas eleições legislativas (quando ficou excluído por Rui Rio).

Cristóvão Norte

Cristóvão Norte sai em defesa de Pinto Luz
Apesar de todo o alarido que resultou da escolha de Montenegro, Cristóvão Norte saiu em defesa do antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações (durante o XX Governo), declarando que, embora vindo de fora, “Miguel Pinto Luz, pelas matérias que tem tratado, designadamente o turismo, as infraestruturas, que são matérias em que o Algarve está particularmente carenciado, assenta que nem uma luva nos problemas fundamentais da região”.

Em exclusivo para o JA, Cristóvão Norte afirmou que Miguel Pinto Luz lhe assegurou estar “absolutamente comprometido com as matérias fundamentais do Algarve”.

“É um excelente quadro do PSD e estou convicto que o papel de grande relevo que tem no mapa político nacional poderá ser muito útil ao Algarve, se ele quiser. E eu sei que quer. Vamos colaborar, lado a lado, nesse propósito. Eu alio-me a quem possa ajudar o Algarve”, garante.

Na semana em que foi eleito, em entrevista à CNN, Pinto Luz frisou que tem “ligações familiares” ao Algarve, pela via “de um avô paterno”, e também a nível profissional, por lidar “com questões de turismo”, o que parece não ser (de todo) suficiente para quem vê o autarca de Cascais como “forasteiro” ou “paraquedista”.

Twitter recorda críticas de Pinto Luz aos “paraquedistas”
Em 2009, o vice-presidente do PSD era crítico do que chamava serem candidatos “paraquedistas”. O agora cabeça de lista da AD pelo círculo de Faro escreveu, em novembro de 2009, no então Twitter (hoje, X), que um candidato “vai de paraquedas para o Algarve para ser deputado e agora faz uma tentativa de regresso a Lisboa. Descrédito total”. Recorde-se que o cabeça de lista do PS por Faro nessas legislativas foi João Soares. As eleições tinham-se realizado dois meses antes, com a vitória de José Sócrates.

Francisco Amaral
Francisco Amaral

Militantes deixam duras críticas
Em reação à escolha de Miguel Pinto Luz para representar a região no Parlamento, Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, disse ao JA que “é o centralismo de Lisboa a falar mais alto”.

“Mais uma vez o Algarve e os algarvios não são respeitados como tem acontecido com os últimos governos. Só se lembram que o Algarve existe para virem de férias em agosto. O novo hospital central, a requalificação da EN125 no sotavento, o desesperante problema da seca, a desertificação e empobrecimento da serra, são outros exemplos de falta de respeito. O poder político algarvio têm sido uns cordeirinhos mansos, lamentavelmente”, critica o social-democrata.

Antes, no dia 16 de janeiro, Francisco Amaral já tinha reagido no Facebook: “O ainda deputado Dinis Faísca foi relegado para uma posição secundária, não elegível, na lista de deputados do PSD/Algarve. Ele foi ‘só’ o candidato autárquico com maior subida do PSD no Algarve. Duplicou a votação do PSD no concelho de Tavira. Nao ganhou a Câmara de Tavira por uma escassa centena de votos (…) Exerceu funções profissionais e vocacionais em vários concelhos algarvios do sotavento ao barlavento. Seria, sem dúvida, uma mais valia eleitoral para o PSD/Algarve. Há candidatos que duvido que ganhem eleições nas suas ruas e só a sua presença faz perder votos. Lamento, pois sou do PSD por amor à camisola e não por oportunismo pessoal e político. E calar, não faz o meu jeito”, contesta.

António Cabrita

“Uma desvalorização da nossa região”
Questionámos António Cabrita, antigo presidente da direção da Confraria do Atum de Vila Real de Santo António e militante do PSD, sobre o que pensa da polémica decisão.

“O cabeça de lista da AD pelo Algarve é um senhor de Lisboa”, afirma, referindo-se à nomeação de Miguel Pinto Luz como “uma renovada desvalorização da nossa região”.

“Então não há militantes e quadros por cá?”, questiona.

“A partir de agora, vem o outro fazer que conhece a zona e até descobrirá que tem alguma ligação ao Algarve. É mesmo assim, só servimos no verão e para estes cromos passarem por cá a ‘banhos’”. Pelo que a mim me toca, encerro por aqui a minha participação na campanha eleitoral”, disse ao JA.

“Não se pode negar que tenha uma forte ligação ao Algarve”

Mendes Bota

Falámos também com José Mendes Bota, antigo presidente da Câmara Municipal de Loulé, parlamentar e diplomata da União Europeia. Sobre a vinda de Pinto Luz para encabeçar a lista da AD pelo Algarve, afirma: “Sempre fui desfavorável à ocupação de lugares nas listas de candidatos em distritos como o Algarve que elegem poucos deputados, sem uma ligação plausível pessoal, residencial ou profissional com as áreas que irão representar. Não mudei de opinião. Eu próprio, em 2009, fui vítima de uma situação dessas”, referindo-se à eleição de Bacelar Gouveia como cabeça de lista do PSD por Faro, em 2009, recorda.

“Mas não se pode considerar Miguel Pinto Luz propriamente um ‘forasteiro’. Tem um pai de origens algarvias e residente em Porches, onde desenvolve a sua atividade empresarial e uma mãe que foi proprietária de farmácia em Albufeira. Não se pode negar que tenha uma forte ligação ao Algarve. Repare que até o seu nome Luz vem de seu bisavô António da Luz da aldeia de mesmo nome”, observa.

Apesar de considerar a decisão “inesperada”, afirma que, tendo em conta eventuais prejuízos da decisão, “o impacto dos candidatos distritais na votação é muito marginal” e explica: “A primeira opção dos eleitores é pelo candidato a primeiro-ministro, pela sua opção partidária ou pela utilidade do seu voto.

Registe-se também que o recurso a candidatos exteriores ao Algarve se verifica noutros partidos”, nota.

Questionado sobre a leitura das críticas de Pinto luz aos candidatos “paraquedistas”, em 2009, Mendes Bota defende o novo presidente da distrital do PSD: “Pinto Luz já foi secretário de Estado, é o número dois de uma das principais autarquias do País e é vice-presidente do PSD, onde lidera áreas fundamentais para a nossa região, como o turismo, a saúde ou as infraestruturas e a mobilidade. É um peso pesado da política portuguesa. Está muito acima do ‘paraquedista’ que aterrou em Faro em 2009”, considera.

Perante uma alegada encruzilhada da falta de representatividade e força política da região, defende que “o que falta em Portugal é um sistema eleitoral misto que contemple o voto preferencial e os círculos uninominais. Aí sim, os eleitores têm uma palavra a dizer na escolha dos seus representantes. Tal como está, vota-se em listas fechadas pelos diretórios partidários”, elucida.

Desaparecimento de políticos “com carisma”
Indo ao encontro de uma ideia que escreveu na semana passada noutro jornal da região, perguntámos a Mendes Bota onde estão os candidatos “com carisma”. “O carisma nasce com a pessoa, forma-se pelas circunstâncias históricas, mas também se conquista pelo trabalho, pela coerência nas atitudes, pelo carácter afinado por princípios éticos, e pela assunção de riscos na defesa dos seus ideais e convicções.

Quando tudo isso falha, desaparecem os políticos carismáticos. No caso do Algarve, uns morreram, outros reformaram-se. Tenhamos esperança na nova vaga”, respondeu.

Questionado sobre o que tem falhado aos deputados eleitos pelo Algarve, o diplomata deixa para os eleitores “essa tarefa de julgamento”. Contudo, gostaria “que fosse mais evidente o que os diferencia em defesa do Algarve. O menu reivindicativo parece sempre o mesmo”, conclui.

Sobre a leitura que faz da onda de críticas a Pinto Luz, Cristóvão Nortel desvaloriza: “As listas estão feitas. Esse assunto é passado. Agora vamos apresentar um grande programa para o Algarve. E depois vamos cumpri-lo, que é o que interessa. O Algarve não pode continuar em ponto morto”, vinca em declarações ao JA.

“Quanto a mim, apenas posso humildemente agradecer todas as manifestações. Ao longo dos anos as pessoas têm sido muito boas para mim”, conclui Cristóvão Norte.

A lista definitiva do PSD às eleições de 10 de março inclui ainda Ofélia Ramos, atual deputada e antiga diretora da Segurança Social no Algarve, em 3.º lugar, seguida de Cristiano Cabrita (4.º), vice-presidente da Câmara de Albufeira.

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