Há só uma Terra! Há só uma raça Humana!

Há questões que nos bailam no espírito até que um dia, por uma série de razões, tomamos consciência da importância que podem ter. Está neste grupo a questão do racismo ou, para ser mais politicamente correcto, do etnicismo. É sabido que o racismo, tal como o conhecemos, é uma construção popular baseada na escravatura. Explico-me: quando os escravos eram produto das guerras entre povos etnicamente idênticos, não havia por isso qualquer distinção étnica entre escravos e homens livres.

Estão neste caso, por exemplo, os espartanos e os atenienses, que se guerreavam frequentemente, originando mutuamente escravos (a que chamavam servos). E digo homens livres porque, na chamada pátria da democracia, só os homens eram livres! As suas mulheres, mesmo quando não eram o produto dessas guerras, pouco mais eram que escravas. Depois vinham os servos, o verdadeiro espólio das guerras. Todos, contudo, com características étnicas e culturais semelhantes. A mobilidade dos povos era, nesta época inicial da Europa, uma constante, e as invasões sucediam-se, de Este para Oeste. As diferenças entre etnias eram mais culturais que de constituição física, embora estas pudessem também existir. Não será por isso de estranhar que a palavra que designa escravo mergulhe as suas raízes na que designa eslavo, tal como a de servo se confunda com sérvio (da Sérvia), em função das guerras empreendidas. O nomadismo era ainda dominante e foi assim que chegaram à Europa os ciganos (que erradamente herdaram essa designação por se atribuir a sua origem ao Egipto – gitano, em espanhol, gypsy em inglês), oriundos do norte da Índia (e cuja outra designação remete para rom que em sânscrito significa “homem de casta baixa vivendo de tocar música”). Também os judeus, tal como outros povos semitas oriundos do Médio Oriente (como os fenícios ou os cananitas), migraram para Ocidente. E todos, dos nórdicos e eslavos aos semitas, por aqui foram ficando (provavelmente por impossibilidade de então vencerem o mar)! Somos por isso uma mistura difícil de definir em termos étnicos e, talvez por isso, seremos simultaneamente norte-europeus, indo-europeus e mediterrânicos vivendo na ponta oeste da Europa! A verdade é que toda a Europa, com mais ou menos fusão, se encontra no “mesmo barco”! Data do século XV o início da “mistura étnica global”, com os portugueses, depois os espanhóis e em seguida os outros europeus, a “invadirem” o Mundo “de ninguém” tanto para Oeste como para Este, tanto para Sul como para Norte! Foi assim que, cruzando os sete mares, se foram conhecendo (“descobrindo”) outras etnias e outras culturas, do Brasil à Índia, da África à China e à Oceânia. Na verdade, enquanto os desertos os dividem os povos, são os mares que os unem, como Fernão de Magalhães então provou. Desde então, lentamente, foram esses povos sendo incorporados na nossa própria mistura, originando miscigenações sucessivas que hoje nos são evidentes, quer por “cá”, quer por “lá”, onde quer que seja esse “lá”! E o mesmo aconteceu, mais ou menos lentamente, com todas as etnias.

É já no século XVI mas sobretudo nos séculos XVII e XVIII que se dá a grande ruptura social: a transformação de territórios de troca em campos produtivos exige uma mão-de-obra que a Europa não comportava nem os povos autóctones eram capazes de fornecer ou estavam sequer dispostos a isso. É assim que toma corpo esse formidável movimento de transferência de africanos (previamente escravizados), do seu continente de origem para as Américas. Embora de muito menor amplitude e de forma um pouco diferente, iniciava-se o mesmo tipo de movimento da Ásia para as costas orientais das Américas. Porquê as Américas? Porque a sua penetração era, para os europeus, bastante mais fácil que a africana. Basta ver que as grandes explorações africanas são efectuadas por Livingstone, Stanley, Ivens, Serpa Pinto e outros, já em finais do século XIX! A escravização de africanos e o seu transporte sobretudo para as Américas é de tal forma imensa que passou a associar-se quase automaticamente a escravatura a estas etnias, o que nunca foi verdadeiro. Desta associação deliberada decorreu a desvalorização social dessas etnias que não tem, naturalmente, qualquer correspondência com a realidade e ainda menos qualquer tipo de comprovação científica. Se tal ainda fosse necessário, bastaria o Projecto Genoma Humano, realizado já no final do século XX, para provar o contrário. Este Projecto analisou geneticamente as diferentes “raças” e os resultados apontaram para diferenças genéticas insignificantes entre elas. Mais, que mesmo o determinismo ambiental e o neodarwinismo, não evidenciaram ter provocado diferenças genéticas entre os seres humanos. Em suma, este estudo mostrou que as diferenças genéticas entre uma pessoa negra e um caucasiano não existem e que por isso não há várias raças mas, simplesmente, uma única raça humana! É por tudo isto que qualquer atribuição de uma característica exclusivamente ou maioritariamente a um povo carece geneticamente de qualquer fundamento. Caíram assim por terra todas teses geneticistas que pretendiam justificar a existência de “raças eleitas”, em detrimento de todas as outras (que, naturalmente, seriam inferiores). É a Ciência ao serviço da Humanidade!

Por tudo isto, qual o interesse de saber a génese étnica do Adolf Hitler ou do Volodymyr Zelensky, no intuito de lhes atribuir características que a Ciência rejeita enquanto tais? Por isso, também não interessa saber qual a origem do Serguei Lavrov ou do Vladimir Putin, do Joe Biden ou de qualquer outro dirigente mundial ou local! Será por isso absurdo atribuir aos arianos características supostamente superiores a outros povos, quando se sabe que, por exemplo, muita da investigação e dos cálculos que puseram o primeiro americano no espaço foram feitos por um grupo de mulheres negras, ainda durante o bem recente tempo da segregação racial nos Estados Unidos. Todos nós somos fruto do que cada um constrói por si mesmo! Cada ser humano é único e homogeneamente diferente dos demais! Somam-se, naturalmente, a essas características únicas, a educação e a cultura, venham elas do berço ou da escola. É por tudo isso que a educação é fulcral neste mundo cada vez mais miscigenado em que orgulhosamente vivemos e que é o nosso, da raça humana, em comunhão com todas as outras raças de bichos e com todos os vegetais e minerais que nos acompanham nesta fascinante aventura que é a vida no Planeta Terra. Concentremo-nos nisso porque “Há só uma Humanidade!” tal como “Há só uma Terra!”

Fernando Pinto

Arquiteto

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1 COMENTÁRIO

  1. As teorias supremacistas assentam em premissas que não têm a mínima sustentabilidade e só podem ter por base a ignorância, visto que o homem é, geneticamente, o mesmo, independentemente da latitude ou longitude.

    Com efeito, se, por abstracção, colocássemos, durante algumas centenas de gerações, um negro a viver, permanentemente, nos países nórdicos da Europa e um nórdico, num país africano, o negro tornar-se-ia, literalmente, num nórdico e o nórdico num negro.

    O corpo humano tem, em todas as suas vertentes, uma fantástica capacidade de adaptação ao meio ambiente que o rodeia, o que, aliás, explica o porquê de a espécie humana ter conseguido sobreviver, face a condições extremas, designadamente, às longas glaciações que teve de enfrentar.

    No caso que acima colocámos, como a incidência da luz solar, nas latitudes ao Norte, é manifestamente mais fraca do que no continente africano, a pela do negro libertar-se-ia do excesso de melanina, o pigmento proteico que escurece a pele e cuja função, como se sabe, é proteger-nos da agressividade dos raios solares e tornar-se-ia clara, assim como os olhos passariam de castanhos ou negros para uma tonalidade azul.

    Não é por acaso que, no final das nossas férias, como resultado das idas à praia e exposição continuada ao Sol, o nosso corpo fica mais moreno, devido à melanina que sintetiza para uma protecção suplementar.

    Os próprios caracteres fisionómicos do seu corpo adaptar-se-iam ao meio ambiente, mais frio.
    Ou seja, devido a que, no ambiente africano, o ar é mais rarefeito, devido às temperaturas mais elevadas, as narinas, que, nos autóctones são mais largas, de modo a permitir uma maior entrada de oxigénio, transformar-se-iam num nariz mais afilado
    O cabelo negro, em carapinha, a fim de o tornar mais denso e aumentar a protecção à cabeça, face aos raios solares, perderia a melanina e tornar-se-ia liso e claro ou louro.
    Os próprios lábios, tendencialmente mais grossos nos africanos, seriam revertidos para mais finos.
    A própria altura média do corpo tornar-se-ia maior, exemplo que se pode tomar de uma planta com défice de luz solar, que tem tendência para “espigar”, como é vulgar dizer-se, sendo que não tenhamos receio de tomar este exemplo, visto que uma planta é um ser vivo como nós e sujeita às mesmas condicionantes do meio ambiente.
    Em resumo, o negro de que falámos, no início, estaria, no final de alguns milhares de anos, totalmente transformado num nórdico, com todas as suas características, que hoje conhecemos, seja nos habitantes da Suécia ou Noruega.

    Opostamente, o nórdico teria ganho todas as características de um qualquer africano.

    Igualmente, não têm qualquer razão de ser os dotes intelectuais superiores atribuídos por certas mentes distorcidas aos brancos caucasianos.
    Dou, como exemplo, as mentes de brilhantes matemáticos que nos têm vindo, ao longo dos tempos, da Índia, pátria que criou e deu ao mundo a chamada “numeração árabe”, mas que de árabe nada tem, visto que foi apropriada pela Império Árabe, aquando do seu domínio por aquelas paragens.

    Apenas como nota de rodapé e a propósito da escravatura de que tanto se fala, hoje em dia, permita-se-me um pequeno comentário.
    Algumas organizações tendenciosas, neste país, vêm, de vez em quando, a público, atirar à face dos Portugueses, por manifesta maldade – mais do que por desconhecimento –, o labéu de que fomos um país esclavagista, procurando, inclusive, reescrever a nossa própria História, de que eu, como Português e nascido em Portugal (sublinho este ponto), muito me orgulho.
    É óbvio que todos devemos abominar, aos olhos dos dias de hoje, a escravatura do ser humano, tome ela a forma que tomar.
    Eu escrevi “aos olhos dos dias de hoje” e não como era entendida há séculos, prova de que o respeito pela pessoa humana evoluiu.
    Um outro aspecto que algumas dessas organizações branqueiam é que, muito mais esclavagistas do que os Portugueses, foram os negreiros árabes, além de que igualmente escondem de que alguns sobas de aldeias indígenas vendiam muitos dos seus próprios súbditos como escravos.
    A verdade, quando é reposta, pode não ser agradável, mas deve valer como informação e não escamoteada.

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