HÉLDER CARRASQUEIRA

A CRISE IV

Crise financeira, problemas no imobiliário e na banca

 Num ápice, aquilo que alguns economistas já haviam alertado que poderia vir a acontecer começou a tornar-se realidade. O barril de petróleo sobe de 80 para 140 dólares, assim como o preço das matérias-primas (em virtude da crescente procura da China e da Índia) e dos alimentos, devido a maus anos agrícolas. O efeito na economia é uma subida da inflação, com a consequente subida da taxa de juro.
A estagnação da economia americana e o aumento do desemprego, levam à desvalorização do dólar, induzindo mais inflação pela via das importações. Como foi então referido na imprensa, estávamos perante a tempestade perfeita com efeitos devastadores a meio de 2008.
Assim:
Com a subida dos juros e sem poupanças acumulada, muitas famílias entram em incumprimento nos empréstimos hipotecários, muitos deles concedidos acima das possibilidades dos mutuantes em caso de acontecer uma situação difícil como esta;
Como a oferta de casas no mercado já era excessiva, acresceram as casas daqueles que não conseguiam pagar as hipotecas que foram colocadas à venda. O excesso de oferta numa conjuntura de travagem da economia, levou a uma queda abrupta do imobiliário;
A banca, grande proprietária do imobiliário fica com “o problema nos braços”: por um lado deixou de receber uma fatia significativa dos pagamentos regulares dos empréstimos concedidos; não pode executar as hipotecas no mercado porque não há compradores; com a desvalorização das casas (que constavam nos seus activos com o valor de mercado antes da crise), a banca vê os seus rácios de solvabilidade entrarem rapidamente no vermelho. Acumula rápidos prejuízos e perfila-se uma situação de bancarrota.
Nesta conjuntura e como era espectável, a bolsa sofreu um crash com as empresas a verem desaparecer uma parte do seu valor de mercado.
A situação assumiu foros de grande gravidade e preocupação devido ao denominado risco sistémico.
Como referimos no artigo anterior, os empréstimos hipotecários tinham sido espalhados pela banca mundial através da “titularização de créditos”, além de ser normal o financiamento dos bancos no mercado interbancário. Logo, se um grande banco falisse, poderia arrastar outros para uma situação muito difícil. Acresce a provável corrida dos depositantes que tentariam levantar os seus depósitos quanto antes e as empresas que com o banco se relacionavam, que também ficariam com problemas sérios. Nestas circunstâncias e na dúvida que se instalou, a banca fica sem liquidez, quer para fazer face a novos empréstimos de apoio à economia, quer para devolver os depósitos aos cidadãos.
Para evitar que o caos se instalasse, as autoridades monetárias acorrem em socorro da banca:

1.Injectam dinheiro nos bancos;                          

2. Disponibilizam financiamento a custo zero;               

3. Dão garantias sobre futuros empréstimos;           

4. Baixam a taxa de juro;

5. Nacionalizam bancos à beira da falência.

Estas medidas têm naturalmente um preço, ao encontro da famosa frase “não há almoços grátis”: quem paga o desvario da imprudência da gestão bancário deste género são os contribuintes pois, os pródigos estavam a receber apoios e os prudentes, fazem sacrifícios e ajudam os pródigos. Porque politicamente esta era uma situação difícil de sustentar, a administração americana deixou cair (falir) o conhecido banco Lehmon Brothers, o que contribuiu para o acirrar da desconfiança generalizada dentro do sector financeiro. Deixaram de se emprestar entre si pois havia dúvidas sobre qual a verdadeira dimensão dos problemas financeiros de cada banco e do risco de bancarrota em que incorriam. Estávamos pois perante uma difícil situação de risco sistémico na banca que os governos tentavam evitar a todo custo.

* Professor na ESGHT – Universidade do Algarve

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