HÉLDER CARRASQUEIRA

A CRISE VI

As agências de rating e as dificuldades na zona euro

Para apoiar os investidores nas suas aplicações a nível internacional foram criadas as denominadas agências de risco de crédito. Como o nome indica, estas empresas dedicam-se a analisar a solvabilidade de empresas e Estados que emitem dívida nos mercados internacionais, (por exemplo, através de obrigações), classificando-as em diferentes níveis através da atribuição de uma letra (notação de rating). As principais agências são a Standard & Poors, Moody’s e Finch. Quanto maior for o risco de uma obrigação entrar em incumprimento menor é a sua classificação. Ex. de classificação simplificada da capacidade de pagamento dos empréstimos: AAA- Elevada; BBB- Mediana; CCC- Pouca; D- Sem capacidade de pagamento.
No contexto da sua missão, o trabalho destas empresas não deixa de ser controverso. De facto, o pronúncio destas agências pode ter sérias implicações sobre uma empresa alvo da sua análise ou sobre um Estado pois, em função da sua opinião podem aumentar o preço dos juros a pagar. As análises de risco emitidas antes da crise a que acima nos referimos falharam redondamente no caso das empresas (banca e seguros nomeadamente) que trabalham com produtos muito estruturados; todavia, a sua análise no caso do risco dos países continuou a ser vista como fiável e um referencial para os tomadores de dívida pública. Neste contexto, estas agências continuaram o seu trabalho sendo que num cenário em que os Estados fecharam o ano de 2009 com défices orçamentais de 14% (Grécia) ou 9,4% (Portugal), a necessidade de emissão de divida no mercado, tornou mais tensa a relação dos Estados com a notação de rating emitida pelas agências.
Face à situação atrás exposta, o preço do crédito para um país como a Grécia que apresenta um risco já significativo (notação BBB, para um défice orçamental de 14% e um endividamento de 124,9% ou seja, todo o valor do PIB de um ano já não é suficiente para pagar a dívida), é diferente dos demais países. Sendo na Zona Euro a Alemanha considerado o país com menos risco de não honrar os seus compromissos, a diferença do prémio de risco (spread dos juros de obrigações a 10 anos – empréstimos) exigido pelos mercados para emprestar dinheiro aos vários países tendo como referência a Alemanha, sobe significativamente (3,1% para a Alemanha contra mais do dobro para a Grécia).
Nesta situação, fica um país como a Grécia e por conseguinte a sua população, com um pesado encargo pois pagar divida com juros tão elevados face aos parceiros, é um pesado fardo (sendo consequência de se ter vivido acima das possibilidades, recorrendo ao crédito alheio, situação agravada subitamente com a crise económico-financeira em que o mundo mergulhou). Do ponto de vista de quem empresta, o elevado nível dos juros é atractivo. Porém, quem garante que a Grécia irá continuar a honrar os seus compromissos ou seja, a pagar os juros e a devolver o capital emprestado no final do período?
Neste caso entram em campo outra invenção dos mercados financeiros ou seja, os CDS – Credit Default Swaps. Este instrumento não é mais que um seguro do crédito ou seja, quem o faz garante que em caso de incumprimento assumirá o risco de retornar o dinheiro investido. Naturalmente exige em troca um prémio ou seja um pagamento a priori, cujo montante varia em função do risco. O valor do prémio é cotado em pontos pelo que a sua evolução acaba por não ser neutra, influenciando também desta forma a taxa de juro que os tomadores de empréstimo acabam por pagar.
A título de exemplo, a 4 de Fevereiro de 2010, os CDS atingiram um valor de 245 pontos base para Portugal e 425 para a Grécia ou seja, os investidores, para se protegerem de um default (falência) tinham que pagar respectivamente €24.500 e €42.500 por cada milhão emprestado. Para enquadrarmos melhor esta situação, no próximo artigo faremos uma breve abordagem ao funcionamento dos mercados financeiros.

*Professor na ESGHT – Universidade do Algarve

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