João Frizza: Do Algarve para os palcos de La Féria

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Um sonho de criança tornou-se realidade. Desde pequeno, João Frizza sempre quis pisar grandes palcos e trabalhar
com os maiores nomes do teatro. De um pequeno grupo de escola nasceu uma companhia e posteriormente oportunidade de trabalhar juntamente com Filipe La Féria, desde 2011. Até ao final do ano, o jovem de Vila Real de Santo António é um dos protagonistas do musical “Espero Por Ti no Politeama”, em cena no Teatro Politeama, em Lisboa

João Frizza em cena com o espetáculo “Amália”

já uma presença habitual nos palcos portugueses e nas produções de Filipe La Feria. João Lopes, conhecido no meio artístico como João Frizza, quis ser ator desde pequeno.


“Desde que eu me lembro que sempre achei que era isto que eu queria fazer”, começa por dizer o jovem natural de Vila Real de Santo António ao JA.

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Durante a sua infância, o ‘bicho’ do teatro foi alimentado com as idas ao teatro, no Algarve, e pelo seu gosto de se mascarar e de cantar.
No entanto, a paixão tornou-se mais forte quando foi assistir o musical “Amália”, de Filipe La Féria, na sua terra natal, na altura com 8 ou 9 anos. “É mesmo isto que eu quero!”, pensou.

Além de ser aquilo que mais ambicionava, existia já outro objetivo profissional, e de sonho: trabalhar com Filipe La Féria, um dos maiores nomes do teatro a nível nacional.

“Foi aí que eu também descobri que havia teatro musical. Sabia que havia comédias e revistas, mas teatro musical era uma coisa que não estava bem dentro dos meus horizontes. Foi aí que eu percebi que existia e que era isto que eu queria, com a pessoa que eu queria e era a este nível que eu queria trabalhar”, acrescenta.

A sua alcunha artística, João Frizza, “aconteceu naturalmente”. Num dos seus trabalhos, “havia mais do que um João Lopes no elenco” e “há um sítio nos teatros que são as frisas”, onde o ator passava algum tempo sentado.

“Frisa para aqui, Frizza para ali. Pegou e adotei. Aconteceu naturalmente”, explica.

Para João, o teatro musical “é um género super completo: há que cantar, dançar e representar. Depois há a cenografia, os figurinos e outras áreas do teatro no seu expoente máximo”.


Como referências e inspirações, além de Filipe La Féria, Frizza tem uma grande admiração por Marina Mota, José Raposo, Joaquim Monchique, Simone de Oliveira, Alexandra, Fernando Fernandes e Vanessa.


“Com as pessoas com quem trabalho há muitos anos, acabamos sempre por nos inspirarmos uns aos outros, porque todos temos o mesmo espírito de luta”.

O ator confessa que trabalhar com Filipe La Féria “é muito exigente”

Primeiros passos na escola

Com cerca de 14 anos, João formou um grupo de teatro escolar e outro amador, de onde nasceu mais tarde o II Acto, a sua companhia de teatro.

“Isto nasceu depois da inspiração do La Féria. Nasceu depois de ver as coisas dele. Tentávamos mais ou menos fazer as coisas como ele, porque era uma influência muito grande. Como miúdos, nós víamos e queríamos fazer como ele”, explica Frizza ao JA.

A primeira peça deste grupo foi a “Cinderela do Século XXI”, entre os anos 2004 e 2005 e, a partir daí, João nunca mais parou.
“A partir daí, todos os anos tentamos sempre fazer alguma peça em Vila Real de Santo António. A minha intenção é de nunca largar essas pessoas, que também foram importantes”, refere.

A cada ano que passa, é já como uma tradição: o Centro Cultural António Aleixo, na sede de concelho, recebe sempre as suas produções, com lotação esgotada.

“O facto de nós sermos miúdos e termos pessoas a pagar bilhete para ver-nos era ótimo. Na altura não era pela qualidade, mas era porque simpatizavam e queriam ver o sonho a acontecer. Nós não largamos isso, porque é uma forma de retribuir esse carinho e gratidão que essas pessoas nos deram”.


Com o II Acto, que surgiu “de uma brincadeira de crianças”, a companhia já percorre o país em digressão, principalmente com espetáculos de teatro musical direcionado para os mais pequenos.


Este ano, pretende regressar à sua terra natal com a sua companhia de teatro “para fazer qualquer coisa”, provavelmente “alguma peça que já tenhamos feito, para o verão”.

No entanto, João confessa que “não houve um apoio útil da autarquia durante a pandemia de covid-19”, numa altura em que “financeiramente, as coisas complicaram-se muito”.

“Tivemos um ano sem trabalhar e o apoio da autarquia foi zero. Por isso é muito difícil fazer alguma coisa nova. A situação é difícil, mas vamos fazer uma peça que já tenhamos apresentado antes, atualizada”.

Os espetáculos que costuma apresentar em Vila Real de Santo António, contam sempre com um elenco diversificado, com a participação de atores profissionais e amadores, muitos deles residentes no concelho.

“Tento sempre juntar pessoas de Vila Real de Santo António com atores profissionais, para dar os dois lados: o profissional e o amador, demonstrando a união”.

O II Acto foi oficializado em 2009 e atualmente fazem parte 10 pessoas fixas, além daqueles que vão contratando como freelancers “das mais diversas áreas, desde atores a criativos”.

ualmente, sobe ao palco do Politeama com “Espero por ti no Politeama”.

A luta pelo sonho

Após acabar o ensino secundário, João Frizza parte para Lisboa “com o objetivo de estudar teatro. E assim fez.

“Na altura, fui para o Chapitô, mas não me identifiquei com o curso. Não era bem aquilo que eu queria fazer”, confessa.

Acabou por abandonar aquela instituição de ensino, inscrevendo-se numa academia para um curso de teatro musical com Wanda Stwart e Henrique Feist.

Um ano depois, recebe o primeiro convite. A diretora da academia, que estava a produzir uma peça de teatro, convida João para integrar o elenco, uma vez que o protagonista tinha ido para outro projeto. “Foi o meu primeiro trabalho a sério”, salienta.

Já no segundo ano do curso, começa a ver o seu sonho no fundo do túnel: consegue uma audição privada para o Fiipe La Féria, através de um professor.


“Consegui ir e fiquei. Já nem fiz o terceiro ano do curso. Comecei a trabalhar e não parei mais”, explica João ao JA.


Em 2011 subiu ao palco do Casino do Estoril, com “O Melhor de La Féria”, ao lado de nomes como Alexandra, Henrique Feist, Vanessa e Fernando Fernandes (FF). Dois anos depois, foi com o mesmo musical para o Porto.

Com algumas interrupções e outros projetos pelo caminho, foi a partir de 2015 que começou a trabalhar a 100% com o seu encenador de sonho.


Para lutar por este sonho, João teve de tomar a decisão que muitos jovens algarvios são obrigados a fazer: deixar a sua terra natal.
“Tive de me mudar para Lisboa. Eu acho mesmo que é impossível escolher esta profissão e não estar em Lisboa. Sei que há algumas coisas no Porto e no Algarve, mas não é o suficiente para que se consiga viver só disto, na maioria dos casos. É em Lisboa que o mundo acontece. É aqui que acontece a vida”, refere Frizza.

Além da representação, a música é outra das paixões do algarvio, mais precisamente o fado, que entrou na sua vida “como desporto”.
“Sempre gostei muito de cantar fado, mas nunca fiz disso uma profissão, foi sempre por gosto. Nos últimos anos, esse gosto começou a intensificar-se um pouco mais e é uma área que ando a explorar e a ver onde me pode levar”, refere.

O ator acrescenta que “vivemos num país onde a área da cultura é completamente incerta” e que “quanto mais ferramentas tivermos, mais fácil vai ser”.

“A exigência é o segredo”

A partir de 2018, João Frizza passa a ser assistente de Filipe La Féria e a fazer parte da equipa das produções do Teatro Politeama.


“É um trabalho que exige muito tempo e muita concentração, mas é super prazeroso porque é fazer tudo desde o momento da folha em branco e ver tudo a ser criado. É fazer parte do caminho todo, até ao final. São caminhos que as vezes demoram um ano”, explica.
No entanto, trabalhar com o La Féria “é muito exigente”, mas esse é o segredo, segundo Frizza.


“A exigência é o segredo da qualidade das coisas que ele apresenta. É realmente muito exigente, é cansativo até, porque são muitos dias e horas de trabalho e ensaios. Mas depois tens o outro lado que é compensador, que é um resultado final que não se consegue noutro sítio. Este perfecionismo todo que existe faz com que os espetáculos dele sejam mesmo diferentes”, refere.

Para João, trabalhar com Filipe La Féria é como “uma escola informal”, uma vez que as pessoas que trabalham com ele “estão constantemente a aprender”.

“Eu digo sempre que a minha escola a sério foi aqui. Foi aqui que aprendi 90% das coisas que eu sei sobre o que é fazer teatro e montar um espetáculo, com rigor e disciplina. E por isso vale a pena todos os dias”, confessa.

Frizza salienta ainda que, “a nível de teatro musical, o Filipe La Féria é a minha grande influência. Como encenador, é o expoente máximo.

Para as crianças, “Rapunzel” é a mais recente produção

“A cultura é segura”

Quando surgiu a pandemia de covid-19, no início de 2020, João Frizza estava a iniciar os ensaios para uma nova peça, que iria substituir a “Severa”.


“Tínhamos acabado a ‘Severa’ no domingo e estávamos em ensaios. Tivémos de parar”, explica. Já em relação ao II Acto, todos os musicais infantis “ficaram para trás”.

No verão do ano passado, ainda conseguiu levar a palco do Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António, uma peça de teatro de comédia.

Já em relação ao teatro musical, com Filipe La Féria, apenas voltou a pisar um palco um ano e três meses depois do aparecimento do vírus.


“Finalmente conseguimos voltar a trabalhar como deve ser. Começámos no teatro com a ‘Rapunzel’ a 1 de maio, para as crianças, e estreámos o novo musical no dia 26, quando o Governo levantou as restrições horárias”, acrescenta.

Para ver o novo musical, “Espero Por Ti no Politeama”, o público não necessita de fazer um teste de diagnóstico à covid-19 à entrada do espaço, uma vez que a sala tem uma lotação reduzida com 350 pessoas e a regra apenas se aplica a recintos com mais de 500.

O novo espetáculo de revista-cabaret vai estar em cena “até o público querer” e marca a reabertura do Politeama. “Nós ficamos em cena os meses que o público permite ficar. Há peças que duram oito meses, um ano ou dois. Esta, felizmente, está a correr muito bem e espero que, pelo menos, fique até ao final do ano”.

A revista é uma sátira à atualidade de Portugal, abrangendo as áreas social, política, desportiva e artística, com um elenco que inclui Vanessa, FF, Filipa Cardoso, Filipe de Albuquerque, Bruna Andrade, Élia Gonzalez, Paulo Miguel Ferreira, Paula Ribas, Jonas Cardoso e, claro, João Frizza, que também ficou a cargo da dramaturgia.

Esta produção conta com a participação de entre 60 a 70 pessoas, subindo ao palco do Teatro Politeama, em Lisboa, de quarta-feira a sábado pelas 20:30 e ao fim-de-semana às 17:00.

“É importante dizer que o teatro é seguro. Todas as normas são cumpridas, a cultura é segura, não temos qualquer caso positivo associado a nós e somos testados semanalmente. À entrada, é medida a temperatura e há desinfeções. As pessoas só têm de usar mascara”, conclui.


Os bilhetes estão disponíveis na Bilheteira Online (BOL) e no edifício do teatro.

Além do teatro, João concilia sempre este trabalho com dobragens de filmes de animação para produtoras como a Netflix ou Disney+.

Para o futuro, está em mãos um projeto com a cantora Anabela, no seu próximo álbum, além da produção de uma nova peça de teatro infantil e de outro musical, previstos para o próximo ano.

Gonçalo Dourado

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