Metiam-se em barcos, eram enganados, acabaram mortos. Uma tragédia

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São quase sempre jovens. Partem às vezes muito novos, com treze, catorze anos. Não é raro irem sozinhos, sem família a apoiá-los. Os traficantes chegam a oferecer-lhes a viagem, ou a fazer um preço baixo, sabendo que o lucro principal vem depois. Metem-se em barcos sem condições, cuja lotação normal é bastante inferior à quantidade de pessoas que seguem neles, e fazem a perigosa viagem até à Tailândia. Uma vez aí, são levados para zonas na selva, onde ficam retidos em condições subhumanas, sujeitos a todo o género de maus tratos. Até as famílias pagarem.

Nas últimas semanas, as cenas dramáticas envolvendo embarcações carregadas de migrantes no mar de Andamão – tão angustiantes como algumas a que temos assistido no Mediterrâneo – despertaram a atenção internacional para o situação dos Rohingya, a minoria muçulmana que Myanmar despreza ao ponto de nem os considerar cidadãos nacionais. Desde que as velhas tensões explodiram em conflito aberto em 2012, muitos Rohingya têm tentado abandonar o país em busca de uma vida melhor, ou simplesmente de vida. Mas a viagem com frequência traz-lhes ainda mais desgraça.

Nas últimas semanas, o mundo tomou conhecimento de algo para que organizações de direitos humanos alertavam há anos: a existência de campos, junto à fronteira entre a Tailândia e a Malásia, onde os traficantes de pessoas mantêm os migrantes enquanto contactam as respectiva famílias por telefone e exigem um resgate. Se as famílias não puderem pagar, é bastante provável que aconteça algo de mau ao seu filho ou irmão.

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Obviamente, estando essas zonas bastante policiadas e militarizadas tanto de um lado como do outro, o negócio só pode ter lugar com a cumplicidade das autoridades. Ao que parece, alguns dos campos são, ou eram, dirigidos por polícias. A Malásia acaba de anunciar a prisão de dois deles (vários outros encontram-se formalmente sob investigação) após a descoberta de 139 campas, cada uma com um corpo, no norte do país. Já na semana passada haviam surgido campas do lado tailandês da fronteira.

A Tailândia é vista sobretudo como um lugar de passagem, pois o objectivo dos migrantes é habitualmente a Malásia, cujas autoridades costuma fechar os olhos ao influxo de mão de obra barata, útil ao país. Quer os Rohingya quer o outro grande grupo de viajantes, os Bangladeshis que emigram por motivos económicos, aproveitam a passividade das autoridades. Mas essa mesma passividade, se tiverem azar, pode ser-lhes fatal.

RE

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