Morcegos cavernícolas estão em declínio no Algarve

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O alerta é da associação Almargem, que não compreende como a situação chegou a este ponto tendo em conta “os meios utilizados e os esforços desenvolvidos por parte do ICNF ao longo de todos estes anos”

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O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) divulgou recentemente um relatório relativo ao período 1988-2012 do Programa de Monitorização de Abrigos Subterrâneos de Importância Nacional para os morcegos cavernícolas. Entre os 76 abrigos considerados, as populações de morcegos sofreram um decréscimo em 30% desses abrigos e um aumento em 20% dos abrigos. Nos restantes 50% a situação é estável (14%) ou indeterminada (36%).

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Relativamente às nove espécies consideradas neste relatório, três apresentam populações globalmente estáveis, enquanto o morcego-rato-pequeno se encontra em nítido declínio, sendo que, para as restantes cinco espécies, a situação é indeterminada.

A Associação Almargem considera aquele declínio “verdadeiramente injustificável”, tendo em conta “os meios utilizados e os esforços desenvolvidos por parte do ICNF ao longo de todos estes anos, os quais implicariam uma monitorização mais adequada dos habitats cavernícolas e das populações de morcegos que aí encontram o seu principal refúgio”.

Refira-se que todas as espécies em causa estão protegidas pela legislação nacional e europeia, o que deveria obrigar o Estado português a desenvolver medidas activas de conservação.

No Algarve há seis abrigos classificados como sendo de importância nacional, situados em Alcoutim, Aljezur (2), Loulé (2) e Lagoa, enquanto outros cinco foram despromovidos “porque não têm sido visitados ultimamente ou porque as suas colónias de morcegos quase desapareceram”, lamenta aquela associação ambientalista.

Apenas em dois dos abrigos de importância nacional situados na região houve uma melhoria significativa das respectivas populações de morcegos. É o caso do abrigo “Aljezur I”, com aumento consistente das populações de morcego-de-franja (Myotis escaleirai) e de morcego-de-ferradura-mourisco, bem como do abrigo “Loulé I”, com aumento das populações de morcego-de-peluche e de morcego-rato-pequeno.

O abrigo “Loulé II” (Rocha da Pena) tem vindo a perder uma grande parte dos seus efectivos, acontecendo o mesmo no abrigo “Loulé III” (Fonte Benémola) onde as colónias de morcegos praticamente se extinguiram, razão porque este abrigo, um dos mais importantes há 25 anos atrás, foi desclassificado.

A Almargem regista o facto de nas duas grutas localizadas nas Áreas de Paisagem Protegida Local (APPL) da Rocha da Pena e da Fonte Benémola, criadas em grande parte devido à importância da zona para a fauna de morcegos, a situação actual ser “muito negativa”.

“Na Rocha da Pena, a entrada da gruta do Algar dos Mouros encontra-se obstruída e em risco iminente de derrocada e, apesar dos apelos efectuados ao longo dos últimos anos quer pela Almargem quer por outras entidades, nem o ICNF nem o Município de Loulé (que gere a APPL desde 2008) se têm mostrado capazes de resolver o problema”, denuncia a Almargem.

Para a quela associação, a situação nas grutas da Salustreira, situadas na APPL da Fonte Benémola (igualmente gerida pelo Município de Loulé), é ainda mais grave. “Em 25 anos desapareceram quase por completo as vastas colónias reprodutoras de morcego-de-peluche, de morcego-rato-pequeno e de morcego-de-ferradura-mourisco. Caso uma boa parte dessas colónias não tivesse transitado para o abrigo ‘Loulé I’, possivelmente estaríamos hoje com uma situação de declínio grave das três espécies no Algarve”, sublinham os ambientalistas.

A Almargem recorda que apresentou ao Município de Loulé, em 2010, uma proposta de revisão do Regulamento das APPL da Rocha da Pena e Fonte Benémola, que incluía a classificação das grutas da Salustreira e do Algar dos Mouros como “Zonas de Protecção Integral”, de preferência implicando a aquisição e vedação dos terrenos onde se situam esses abrigos. O objectivo era garantir a segurança e criar melhores condições para uma recuperação a médio prazo das populações de morcegos dessas grutas.

No que respeita o abrigo “Loulé I”, também situado no interior do Sítio Barrocal da Rede Natura 2000 mas fora de qualquer área protegida local, a Associação Almargem já por diversas vezes fez chegar ao ICNF e ao Município de Loulé a necessidade urgente de uma intervenção que garanta a salvaguarda duradoira deste local com importância crescente na sobrevivência de muitas espécies de morcegos cavernícolas algarvios.

“Infelizmente, em nenhum destes casos, as propostas da Almargem tiveram qualquer consequência prática”, lamanta a associação.

“Entre a passividade do ICNF e a falta de interesse da maior parte dos municípios envolvidos, assim se vai definindo o destino cada vez mais incerto das populações dos morcegos cavernícolas em Portugal e, em particular, no Algarve, justamente numa altura em que, um pouco por toda a Europa, a situação das populações de morcegos parece apresentar uma ligeira tendência de melhoria”, alertam os ambientalistas.

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