O museu está instalado nos celeiros da antiga Federação Nacional de Produtores de Trigo, que foram construídos na década de 1950, entraram depois em desuso e foram agora transformados num edifício cultural, que conta também com loja, cafetaria, auditório com capacidade para 50 pessoas e centro de documentação, explicou Rute Silva, presidente da Câmara de Vila do Bispo.
Como o espaço estava sem uso, a Câmara de Vila do Bispo “achou que seria lógico construir um Museu” a “contar toda a história do território”, criando uma “narrativa expositiva da herança” de todo o município, e avançou para a construção do espaço, com um investimento de 2,9 milhões de euros, financiado em 70% pelo Programa Operacional do Algarve CRESC 2020, quantificou a autarca no dia da inauguração.
“Começamos com a questão da geologia, passamos pela paleontologia, porque temos lá a questão dos fósseis e dos dinossauros, nomeadamente os da [praia da] Salema, depois começamos com os vestígios culturais da presença humana identificados pela arqueologia, não só em Vale do Boi, que é muito rico em escavações e onde foi feito muito trabalho [sobre o período neolítico], mas também a arqueologia subaquática, com os naufrágios e as batalhas navais que ocorreram ao longo das nossas costas”, adiantou.
Rute Silva indicou que pode também ser visto “muito material da Boca do Rio, da parte da romanização”, e das idades do ferro e do bronze, mas o espólio abrange também “um contexto mais atual”, debruçando-se sobre a etnografia local.
O objetivo é também mostrar “aquilo que é efetivamente o concelho hoje em dia, com a questão da pesca, da agricultura e a relação com as pessoas”, assinalando a “riqueza destas memórias etnográficas”, justificou.
Rede entre pontos de interesse cultural
Com a criação do novo Museu, a autarquia quer também “criar uma rede” que permita a circulação de pessoas entre os vários pontos de interesse cultural do concelho, como o centro de interpretação de Vila do Bispo, que o município quer renovar, o centro de interpretação da lota e a Fortaleza de Sagres ou o forte do Beliche.
“A ideia é criarmos uma rede que permita aos visitantes e aos locais terem acesso à cultura do nosso território e ter mais pontos de interesse. Temos muito turismo que visita a fortaleza anualmente e queremos fazer o desvio de parte destas pessoas para que comecem a visitar este edifício” na sede de concelho, afirmou.
Preservando a arquitetura pré-existente, este novo espaço museológico inclui uma narrativa expositiva/interpretativa acerca da herança coletiva do concelho, desde a sua fundação geológica, aos paleontológicos icnofósseis de dinossauros, aos mais remotos vestígios culturais de presença humana identificados pela Arqueologia, passando pela História e pelos seus acontecimentos e personagens, pela Arqueologia Subaquática dos naufrágios e das batalhas navais, pela riqueza e singularidade da biodiversidade local e pela memória etnográfica das “Gentes do Cabo” e da sua mística finisterra de mar feita.
Sede de investigação, conservação, valorização e divulgação do riquíssimo e diversificado património local, o Museu de Vila do Bispo – Celeiro da História assume-se como um projeto “participativo e inclusivo”.
O Museu de Vila do Bispo – Celeiro da História foi inaugurado numa cerimónia integrada nas comemorações do Dia do Município – que se assinala no dia de São Vicente, a 22 de janeiro – e dirigida às entidades oficiais, na qual foi descerrada uma placa alusiva ao evento pela autarca e pelo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário.
Foi também feita uma visita ao espaço, seguida de almoço. No domingo (21 de janeiro), realizou -se uma segunda inauguração, dirigida a todos os que quisessem conhecer o espaço, com a presença de doadores de peças que integram o espólio museológico.
A empreitada museográfica esteve sob a alçada de Paulo Monteiro e do arqueólogo municipal Ricardo Soares.
JA | LUSA