Na morte de Fernando Reis

O Fernando Reis, diretor do nosso JORNAL do ALGARVE, desde os anos 80 do século passado, já não está entre nós. Numa tarde provocadoramente soalheira e cálida, de céu azul como só o nosso Algarve proporciona, vimos como, entre palmas de despedida que agitaram os vetustos e verdejantes ciprestes daquele que é o primeiro cemitério público de Portugal — como aprendemos nos seminários da ADIPACNA de que era fundador —, descia à sepultura simples e terrena, rodeado de família, amigos e leitores.


Fernando Reis fica entre os que caíram prematuramente, levados por esta pandemia terrível como tantas outras que tem assolado a Humanidade e das quias certamente terá dado conta aos seus alunos nas aulas de História, de que era professor.


Quem não o conhecia bem e com ele não tinha outra relação mais próxima, via apenas a sua figura, lia os seus escritos, conhecia um ou outro membro da família, não fazia ideia da capacidade de trabalho e de abrir portas, própria de quem sabe acarinhar amizades, orientar projetos, como o fez nas salinas de Castro Marim com a Baesurisal, empresa a quem dedicava grande parte do seu tempo e com a qual desenvolveu, com outros empresários e a nível europeu, as diligências necessárias para que o produto saísse da designação de mineral e ficasse considerado próprio para a alimentação humana.


Era um homem dinâmico, tolerante, divertido e com grande capacidade para fazer amigos, por todo o Algarve, onde viveu.


Sou colaborador do Jornal do Algarve desde os tempos de José Manuel Pereira, Vicente Campinas, João Leal e Neto Gomes, período em que foi diretor o filho do fundador José Barão, António Barão. Ali desempenhei o cargo de Chefe de Redação no final dos anos 80. Vi chegar à direção do jornal Fernando Reis e José Lança, sócios na nova empresa Viprensa, no ano de 1983, ajudando António Barão a realizar a transição.


Conheci bem a nova aventura da rotatividade entre os dois diretores. A fórmula era boa e o jornal cresceu. Adotaram-se novas tecnologias, a produção do Jornal rapidamente migrou para o digital, primeiro a fotografia, depois as próprias página, permitindo diversificar os locais de impressão, nas naturais flutuações dos mercados. A seguir veio o site da Internet, hoje de atualização diária e muito visitado.


Porque aconteceu tudo isto e antes de muitos outros em Portugal. Porque Fernando Reis era também um diretor aberto ao progresso, tinha o espírito de iniciativa e a capacidade de descentralizar tarefas nas pessoas em quem confiava e, tenho de reconhecer, sempre acreditou em mim como amigo deste jornal que, hoje já com 74 anos, sinto como se a sua essência se tenha agarrado à minha pele.


Lá para o assento ignoto para onde partiu, acredito que apesar da morte prematura, levou o seu papel neste Mundo bem cumprido, uma vida repleta de êxitos pessoais e coletivos, foi afagado pelo calor de uma família maravilhosa e participativa. Levou o reconhecimento de muita gente de todas as áreas políticas e sociais e dou disso testemunho, tanto quanto esse mesmo testemunho valha, e deixará lembrança viva na terra que o viu nascer.


O testemunho passado por José Barão e António Barão foi bem cumprido. No momento em que desceu à sua morada eterna, foi pedida a continuidade desta realidade difícil de acontecer num jornal regional que nunca deixou de sair, nem mesmo na hora da morte dos seus principais responsáveis.


O futuro está à espera também tua honra! Adeus, Fernando. Ficam no meu ouvido as notas do baixo com que acompanhaste o meu canto na sala do Cine-Foz, nos idos de abril. Em boa hora nos conhecemos. Até sempre!

José Cruz

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