…Enquanto fenómeno humano, o desporto sofre, não poucas vezes, de equívocos desencadeados no universo das relações sociais e que se caracterizam num determinado contexto político, irrefutavelmente vinculado ao curso da história, na medida em que tudo é processo e, quando nos movimentamos, certo é que movimentamos mais do que a nós próprios, ou seja, movimentamos também o tempo em que vivemos e somos.
Razão pela qual, se e enquanto, de algum modo, responsáveis pelo passar de valores como o fairplay – hoje tão apregoado -, bem como o respeito pelas regras do jogo, o respeito pelo outro, a responsabilidade, a amizade, a interajuda, e tantos outros, nos cause, para além de natural perplexibilidade, também um determinado nível de preocupação, pela falta de compreensão e solidariedade perante acontecimentos tão insólitos quanto graves.
Fora do nosso burgo, Ciro Immobile, futebolista avançado da Lazio, terá sido agredido verbal e fisicamente por um grupo de adeptos quando deixava o filho de 4 anos na escola. Agressão ocorrida após os órgão de comunicação social afirmarem que o capitão dos romanos terá sido um dos responsáveis pela saída do treinador Maurizio Sarri do clube, após um frente a frente escaldante entre ambos.
Já a assessoria de imprensa do futebolista reagiu e sublinhou que o episódio foi o resultado de “incitamento ao ódio” por parte da imprensa italiana através das redes sociais, e que, acrescentou, com “palavras odiosas” relataram “reconstruções não correspondentes à realidade”. Face ao ocorrido, o jogador de 34 anos, irá apresentar uma queixa-crime contra os responsáveis pela “difamação”.
Por sua vez a Lázio já reagiu manifestando, manifestando “total solidariedade para com o capitão de equipa”.
De igual modo, constituindo-se ‘assistente’ no processo, a Associação Italiana de Futebolistas (AIF) manifestou-se solidária com Immobile e sua família: “Um ato de intimidação que poderia ter gerado consequências graves e o qual a AIF espera que a polícia esclareça o mais rápidamente possível”, acentuou o organismo, concluíndo:
“Tolerar este tipo de comportamento significa perder de vista os valores do desporto”.
Com a agravante de se estar na presença de uma criança de 4 anos, a significar a antítese de que a transcendência, a nobreza dos gestos e atitudes e a superação (designadamente no seio de uma equipa, em comunidade), do que somos, em direção ao que devemos ser: eis, afinal, o sentido da Vida, o sentido do Desporto!
*”Embaixador para a Ética no Desporto”