Novo Cineteatro António Pinheiro causa polémica em Tavira

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O projeto arrancou em 2018, mas muitos têm sido os entraves (e as polémicas) que têm adiado a reabertura das portas do Cineteatro António Pinheiro, em Tavira. O JA falou com a presidente da autarquia e responsável pelos projetos e obras municipais, Ana Paula Martins, que fez um ponto de situação acerca do estado atual da obra que leva cerca de três anos de atraso. A conclusão da obra, que divide os tavirenses quanto à estética e localização do projeto em plena zona histórica, está prevista para o final do ano

Inicialmente, de acordo com a presidente do município de Tavira, a obra estava prevista estar concluída “dentro de um prazo de 750 dias”. Numa primeira fase, os atrasos estiveram relacionados com “questões de arqueologia e pedidos para receber novas prospeções no local” por parte da Direção-Regional de Cultura. A isso, somam-se os atrasos decorrentes da pandemia, “momento que em as obras pararam”, explica a autarca. Mais recentemente, “a escassez das matérias-primas e atraso na entrega dos materiais” juntou-se à lista dos motivos que levaram os tavirenses a questionarem os atrasos na obra.

Na última conversa que teve com o empreiteiro, Ana Paula Martins revelou ao JA que lhe foi dada uma previsão para a entrega da obra, “demasiado otimista”: o mês setembro do corrente ano. Na sua perspetiva, considera que “o final do ano poderá ser um prazo mais realista para a obra estar concluída”, diz.

O Cineteatro António Pinheiro, reconstruído em 1968, está a ser redesenhado para “acolher espetáculos de qualquer disciplina artística e dar resposta à programação municipal nas diversas disciplinas de arte” – uma das premissas do caderno de encargos, segundo a socialista.

As obras de requalifcação começaram em 2018

Programação cultural será assegurada durante todo o ano

“Vamos ter um teatro de qualidade que permitirá assegurar uma programação cultural regular e variada durante todo o ano”, garante, algo que, por agora, “o Executivo tenta manter durante o inverno com alguma criatividade para encontrar espaços que assegurem a atividade cultural. Queremos dar uma resposta cultural completa ao Sotavento”, sublinha.
No que toca ao número de postos de trabalho que podem resultar com a reabertura daquele espaço cultural, a presidente diz que a autarquia vai “reforçar postos de trabalho e catalisar recursos humanos já agregados ao município”, existindo também a possibilidade de “contratações em prestação de serviços”. Apesar da informação partilhada com o JA, Ana Paula Martins opta por não avançar com números, “uma vez que a autarquia está a preparar um documento com essas informações”, adianta.
Em conversa com o JA, a presidente da Câmara Municipal de Tavira frisou ainda que “está em vista a possibilidade de estabelecer protocolos artísticos com a Companhia Nacional de Bailado e com outros teatros”, exemplifica. Para além disto, “o serviço educativo para as crianças e a criação/captação de público será uma das prioridades do dispositivo cultural”. A autarquia pretende dotar o Cineteatro António Pinheiro com condições de “segurança e salubridade, assim como adaptar o espaço às necessidades que decorrem das diversas atividades culturais, tornando-o num equipamento polivalente”.
A ação prevista funciona como “uma mais-valia para a dinamização da atividade cultural, proporcionando a criação de uma sala de espetáculos à escala da cidade, preparada não só para produções de alguma envergadura técnica e artística como também para a utilização por parte de associações, coletividades e população em geral”.

A conclusão da obra esta prevista para o final do ano

Os prós e os contras
Por estar inserido em pleno centro histórico, ladeado por imóveis classificados em regime de proteção e valorização do património cultural imóvel – como é o caso da Igreja da Nossa Senhora das Ondas, localizada a cerca de 100 metros do Cineteatro António Pinheiro – está é uma das questões levantadas por aqueles que assumem uma posição desfavorável em relação aos moldes em que a obra foi pensada. Atualmente, está em vigor uma petição “Pela demolição da torre do Cineteatro António Pinheiro em Tavira”, assinada por 81 pessoas e dirigida à presidente da Câmara Municipal de Tavira.
Noélia Simão, primeira peticionária, explica que a petição é “em nome da da salvaguarda e preservação da identidade cultural e da herança patrimonial da cidade de Tavira, nomeadamente do seu centro histórico”. No documento, os signatários requerem à autarca que “que acione os meios e mecanismos necessários, com vista à demolição da torre do edifício, em construção, do Cineteatro António Pinheiro. Torre esta, que ofende, agride, desrespeita e viola a paisagem e a identidade cultural e patrimonial desta cidade e contraria, tudo aquilo que a própria autarquia defende”, contestam.
Perante as críticas e objeções, Alexandre Costa, um dos arquitetos responsáveis pela requalificação do Cineteatro António Pinheiro, diz que “não se pode agradar a todos” e explica que a estética do edifício “tem a ver com o facto de se tratar de uma construção do século XXI”.
“Neoclássico, Barroco, Idade das Cavernas, Idade do Ferro?”, ironiza. “Todas as épocas tiveram a sua linguagem arquitetónica e o século XXI tem esta. As pessoas podem achar bem ou não, podem achar que é um ‘mamarracho’, mais feio ou mais bonito mas é que o que é. É século XXI”, defende.
Outra objeção da comunidade local diz respeito à paleta de cores utilizada na fachada do edifício, composta por cinzentos, branco e preto. Alexandre Costa disse ao JA que escolheram o branco “por serem a cor mais habitual da cidade” e o preto “por ser uma inversão da ‘caixa preta’ que se gera no interior do edifício e com a necessidade de não existirem cores, apenas com iluminação, passando essa ideia também para a estética exterior”, esclarece. Quanto à volumetria da obra “tem a ver com o facto de ser um teatro e este não poderia ter menos dimensão porque assim não teria todas as valências necessárias de um teatro. Ou seja, aquela torre tem a ver com a caixa de palco e com a subida e descida dos cenários”, clarifica.
Ruben Martins, outra das caras por detrás do projeto de requalificação, defende que, quanto à localização, “o teatro deve estar no sítio onde está” e recorda que “encomenda foi a reabilitação do cineteatro e não outra coisa qualquer”, sublinha, assumindo-se como um defensor de que “o teatro tem que estar no centro da cidade”, afirma.
“Se as pessoas não querem que Tavira seja uma cidade em que o centro está deserto ou que foi vendido a retalho para lojas, têm que perceber que não o centro tem que ser urbano”, reforça. “E é muito mais difícil fazer uma requalificação naquele sítio do que no espaço plano e espaçoso, claro. 65% do edifício tinha de ser mantido”, afirma.
Vítor Cardeira, professor de 64 anos, considera este um projeto “muito bem conseguido” e esteticamente “muito valioso”, referindo-se até ao antigo Cineteatro como um “caixote sem qualquer valor arquitetónico ou estético”, afirma. “O único condicionalismo é estar a ser reerguido no mesmo espaço”, ainda que acredite que a obra “se vai integrar no espaço de forma harmoniosa”, disse o tavirense ao JA.
“Esta será uma estrutura completamente nova na cidade e que vai permitir que esta passe a estar integrada na corrente artística e na rota dos congressos nacionais e internacionais. Será a ‘pedrada no charco’ que vai acordar a cidade”, argumenta. Na sua visão, outro ponto a favor deve-se ao fato de este ser um projeto “desenhado por dois jovens arquitetos tavirenses, um projeto valioso que faz falta à cidade que tem estado morta em termos culturais”, lamenta.
Em relação às cores escolhidas pelos arquitetos responsáveis pela obra não vê “qualquer problema”, isto porque “a ideia de um Algarve branco remota ao Estado Novo e isso é uma ideia ultrapassada. O Algarve também é feito de cores”, assevera.

Antevisão do novo Cineteatro António Pinheiro

Um corpo cénico totalmente modificado
Neste sentido, e de acordo com Ruben Martins, coordenador do projeto, “É preciso redesenhar todo o corpo cénico, o qual prevê a subida e descida de cenários, bem como a correta instalação de todos os equipamentos de som e luz essenciais a um espetáculo atual”. Para além da caixa de palco, prevê-se, igualmente, a criação de quatro camarins, com capacidade para 19 pessoas, uma sala para funcionários e outra de reuniões.
O espaço da plateia contempla uma bancada retrátil que possibilitará o seu uso por pessoas sentadas ou de pé ou, até mesmo, para a realização de um evento com uma ligação mais estreita e direta com o público. A escolha de uma bancada retrátil, em detrimento de uma fixa, e um proscénio elevatório, em vez de um estático, deveu-se ao facto destes elementos permitirem “uma maior versatilidade e polivalência da sala e do palco”, explica.
A reformulação prevista no balcão passa, sobretudo, pela acentuação da sua inclinação e pela redefinição do número de lugares. Assim, de um número base de 208 lugares fixos, estima-se ser possível acolher o máximo de 590 espetadores, conforme o tipo de espetáculo.
No centro da sala, entre o balcão e a plateia, localizar-se-á a nova régie e sob esta a bancada retrátil, quando recolhida. Na restante área referente à antiga plateia ficam as instalações sanitárias, o foyer, a bilheteira (com serviço de informações e vendas ao público), o bengaleiro e um bar. A sala de projeção mantém-se no mesmo local, bem como os respetivos acessos.
No corpo da plateia, onde se situava a entrada principal do original Teatro Popular, surgirá um novo volume que dará lugar a uma nova entrada no edifício que, tal como o primeiro, abrirá as portas para o largo.
Este novo espaço cultural, no exterior, apresentará dois volumes: uma parte mais baixa que confina com a Rua D. Marcelino Franco e que corresponde à localização dos camarins e outra mais alta que abriga a caixa de palco e respetiva área técnica.
O investimento previsto para o projeto rondava os cinco milhões de euros, financiados a 65 por cento pelo Programa Operacional Regional (PO) CRESC Algarve 2020, com mais 900 mil euros destinados a dotar o novo edifício. Contudo, com as revisões de preços e a nova legislação, o valor já é superior, sendo que a obra ascende, de momento, a um milhão e 700 mil euros.
Até ao fecho desta edição, o JA tentou contactar a Câmara Municipal de Tavira para prestar esclarecimentos em relação à estética e à volumetria da construção em pleno centro histórico, mas não obteve resposta.

Joana Pinheiro Rodrigues

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