1 – O JORNAL do ALGARVE tem orientado o seu trabalho, desde a sua fundação, com um objetivo muito marcado pelo desenvolvimento sustentado da região. Passados estes 66 anos de luta, como vê e sente o Algarve? Que avaliação faz do Algarve que temos? Quais são os seus principais problemas?
Paulo Águas – Nos últimos 66 anos o Algarve sofreu uma profunda transformação, com a substituição das atividades económicas primárias (agricultura e pescas) por atividades económicas terciárias (turismo, comércio e imobiliário). Em termos globais, a região prosperou com a população residente a registar um crescimento três vezes superior ao verificado para Portugal, 48% e 16%, respetivamente. Em percentagem, a população do Algarve passou de 3,5% (censos de 1960) para 4,5% (censos de 2021) do total nacional. Significa que a região teve capacidade de criar emprego. Aqui chegados, temos que reconhecer que as vantagens comparativas conduziram a uma excessiva dependência da atividade turística.
2 – A liderança que temos tido e os representantes políticos, quer autárquicos, quer deputados, têm defendido e lutado o suficiente por esta região?
PA – A classe política algarvia tem procurado defender a região. É corrente afirmar-se que o Algarve não tem peso político a nacional como outras regiões. É natural que assim seja, pois é uma região com uma reduzida expressão demográfica no contexto nacional, sem tradição de elites e periférica em relação aos principais centros de decisão. À nossa escala, e considerando o contexto, devemos reconhecer o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos nossos representantes políticos.
3 – Para que haja desenvolvimento, tem que haver uma estratégia. Que estratégia preconiza para a região?
PA – Em termos gerais, a estratégia da região, tal como a estratégia de qualquer outra região, tem que assentar no conhecimento e na inovação e na qualificação dos seus recursos humanos. Nos últimos anos, em comparação com a média nacional, os níveis de qualificação da população residente têm progredido de forma menos intensa, assistindo-se igualmente a uma divergência na percentagem da despesa em investigação e desenvolvimento em relação à riqueza gerada. Assim, as políticas públicas devem priorizar recursos para a educação e ciência e para atividades económicas produtoras de bens e serviços transacionáveis e de elevado valor acrescentado, as quais se encontram identificadas na estratégia de especialização inteligente da região.
4 – Fala-se muito em descentralização e/ou regionalização. Que tipo de liderança precisa o Algarve?
PA – Não consigo prever quando tal acontecerá, mas a regionalização será uma realidade. A defesa e o aprofundamento da democracia assim o exige. Só a regionalização permite a responsabilização perante as comunidades e garante o surgimento de lideranças que promovam o desenvolvimento integrado, não fragmentado, do Algarve.
5 – Há “massa crítica” capaz de revolucionar o Algarve, transformando-o, efetivamente, numa região diversificada, multicultural, onde é bom trabalhar e viver, com uma boa saúde e oferta cultural para além do sol e praia?
PA – Acredito que sim. Embora seja necessário reforçá-la. A priorização do conhecimento e da inovação, a diversificação da economia para atividades mais inovadoras e uma nova organização administrativa decorrente da regionalização contribuirá para o reforço da massa crítica capaz de transformar o Algarve num território inclusivo, que proporcione qualidade de vida aos seus residentes, preservando os recursos naturais e promovendo a identidade cultural.
*Reitor da Universidade do Algarve
Concordo. Só a diversificação da base económica, assente no cluster do conhecimento e na inovação, permitirá a diversificação do próprio turismo, reduzindo a sazonalidade e afirmamando o Algarve , de forma sustentável, como a região mais internacionalizada do País. A estratégia de especialização inteligente e de desenvolvimento harmonioso da Região está definida. Falta reionalizar os instrumentos de decisão necessários para que ela seja cumprida.
*regionalizar