O papel do Algarve na construção da identidade cultural do país

Sara Brito
Sara Brito
Docente na Pós-graduação “Segurança, Saúde e Felicidade no Trabalho”- ISEC Coimbra Mestre em Literatura Comparada; Pós Graduada em Multiculturas e Gestão de Relações Interculturais

Antes da chegada dos Árabes à Península Ibérica em 711, já o Algarve era porto de abrigo de mercadores que faziam escala entre o norte da Europa e o Mediterrâneo. Éramos visitados por Cartaginenses, Romanos e Bizantinos e, só mais tarde, por Sírios e Berberes árabes. Os Árabes ocupam toda a região e dão-lhe o nome de Al – garbe, o Ocidente. Silves, Tavira, Loulé, Faro e Aljezur são as cidades mais importantes de então.


Quase cinco séculos depois, em 1189, D. Sancho I conquista o Algarve, mas os mouros reconquistam-no dois anos depois. Passados cinquenta anos, D. Sancho II e D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de Santiago e comendador de Alcácer do Sal, ajudados pelo mercador Garcia Rodrigues, iniciam a reconquista. Conquistam Alvor e Estombar cortando estrategicamente a comunicação entre Silves e o mar (forma privilegiada de comunicação numa altura em que os caminhos e os meios de transporte eram deficitários). Aceitam a troca do castelo de Cacela, pelos primeiramente conquistados, proposta por Aban-Afan e, pouco tempo depois, atacam e conquistam Tavira, Salir, Paderne e novamente Alvor e Estombar. Estávamos em 1242. Dezoito anos mais tarde, D. Afonso III cerca Faro, Loulé e Aljezur e, um ano depois, Albufeira. A 1 de Março de 1268, Afonso III eleva o Algarve à condição de reino autónomo e nomeia-se Rex Portugallie et Algarbii passando a usar nas suas armas, em memória de Paio Peres, os castelos conquistados.


Muitos dos árabes vencidos ficaram por cá, trabalhando em actividades servis, mas a sua cultura, o seu modo de vida, as suas habitações em taipa, as chaminés, as árvores de frutos, os instrumentos de trabalho e os vocábulos que designavam sítios e utensílios mantiveram-se, inclusivamente o nome Algarve. Entre outros contributos, as influências árabes são ainda hoje visíveis na nossa agricultura, técnicas de rega, artes de pesca, construção naval, literatura e matemática.


Não vieram cavaleiros nem nobres casar com os locais. Vencedores e vencidos conviviam lado a lado aprendendo e trocando experiências.


E é essa amálgama que faz dos retalhos do nosso território aquilo a que hoje chamamos a génese e a origem da nossa identidade enquanto algarvios e enquanto portugueses.

Sara Gomes Brito

  • Mestre em Literatura Comparada Pós Graduada em Multiculturas e Gestão de Relações Interculturais

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1 COMENTÁRIO

  1. Senhora Brito,
    muito obrigado pelo vosso artigo.
    Justamente hoje, altura de false nacionalismo, é necessário lembrar a história como baseado em composição – património para uma cooperação dos povos em vez de combate.
    Na história dos povos antigos da região interesso-me também nos Tartessos, que já antes cooperaram com os Fenícios (Sidónios) e Grecos – em benefício mútuo, como se pode ler e ver nas exposições nos museos em Tavira ou Huelva – ou já antes por ligação Internet:
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Tartesso (PT)
    https://en.wikipedia.org/wiki/Tartessos (EN)
    Agradeço os vossos futuros artigos.
    Melhores cumprimentos
    Gunther Häberlen

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