Obama quer “degradar e destruir” o Estado Islâmico

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Há cerca de um ano, Barack Obama pensou em bombardear as tropas do regime sírio, socorrendo as forças rebeldes lideradas por simpatizantes da Al-Qaeda, que evoluiriam para uma organização chamada Estado Islâmico (EI).

Esta madrugada, era ainda noite de quarta-feira em Washington, o Presidente americano mudou a agulha e anunciou o alargamento da estratégia de ataques aéreos contra as forças do EI, na Síria e no Iraque.

“Hoje, já com um novo Governo em Bagdade, posso anunciar que a América irá liderar uma vasta coligação e enfrentar esta ameaça terrorista”, disse. “O objectivo é claro: degradar e destruir as forças terroristas através de uma estratégia de contraterrorismo compreensível e sustentada”.

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A reviravolta na política externa dos Estados Unidos confunde o “regular Joe” (o cidadão comum), que, nas ruas e bares, se confessa perplexo com o ritmo dos acontecimentos.

Apesar disso, segundo as últimas sondagens, mais de 70% dos americanos apoia o um plano de ataque.

“É confuso, mas a verdade é que vivemos num mundo complexo. Ainda hoje pensava na chegada de John Kerry à Arábia Saudita… Não é interessante? O nosso secretário de Estado a passar o 13º aniversário do 11 de Setembro em território saudita. E não me digam que o mundo não é complexo”, diz, ao Expresso, Norman Ornstein, perito em ciência política no American Enterprise Institute e considerado um dos 100 maiores pensadores globais pela revista Foreign Policy.

Embora a maioria seja a favor da intervenção, há um grupo significativo de pessoas que, ainda, insiste numa solução negocial para o problema.

Ali Al-Ahmed, director do “Institute for Gulf Affairs”, em Washington, é um deles. “Têm sido os aliados dos Estados Unidos a patrocinar grupos violentos como o EI. Falo dos regimes da Jordânia, Qatar e Arábia Saudita. Este último, por exemplo, é um bom cliente dos EUA. Ainda em 2010 gastou mais de 60 milhões de dólares (46,5 milhões de euros) na compra de equipamento militar americano”.

Com a intenção de tranquilizar os críticos, Barack Obama prometeu que a intervenção será “muito diferente das guerras no Iraque e no Afeganistão”, uma vez que “não envolverá tropas de combate americanas no terreno”.

O plano terá quatro pontos: Uma campanha sistemática de ataques aéreos e missões específicas de caça ao homem, reforço do contingente de conselheiros militares no Iraque (475 irão juntar-se brevemente aos 500 já no terreno), aumento das medidas de contraterrorismo, que passam pelo corte do financiamento do EI e, por fim, incremento da ajuda humanitária aos refugiados.

Estava tudo à espera

A decisão de avançar já era esperada, principalmente depois da opinião pública americana se ter indignado com as execuções dos dois jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.

“Se não achamos que as duas mortes são ataques contra a América, então devíamos ter vergonha”, explicou-nos, há dois dias, Joseph Dittmar, um dos sobreviventes dos ataques contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque, durante uma entrevista a propósito do 13º aniversário dos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA.

Por outro lado, Ornstein explica que a expectativa de uma intervenção aumentou depois da cimeira da NATO, na semana passada, e da entrevista de Obama ao programa “Meet the Press”, no último domingo. “Ficou claro que a América volta ao ataque, em vez de ficar à espera que algo aconteça no seu território”.

Impossível derrotar o Estado Islâmico

No vigésimo primeiro discurso à nação, desde que chegou ao poder em 2008, o Presidente dos Estados Unidos disse também que a nova missão baseia-se nas “experiências de sucesso no Iémen e na Somália”, onde os ataques da Força Aérea Americana “complementam os esforços dos parceiros locais na linha da frente”.

Dada a ausência de tropas americanas no terreno, vários peritos militares avisam que os objectivos da operação não devem ser, excessivamente, optimistas.

“Sem soldados na frente de batalha não é possível derrotar o Estado Islâmico”, perspectiva Lawrence Korb, ex-vice secretário de Defesa da Administração Reagan, entre 1981 e 1985. “É por isso que o Presidente não deve cair no erro de usar a palavra derrota. O que deve ser dito, e ele disse-o, é que o objectivo é degradar o EI e trabalhar com os países muçulmanos daquela zona, tendo em vista uma destruição gradual da narrativa extremista. Vamos ter de trabalhar com muita gente de que não gostamos, caso do Irão”.

Korb entende que seria errado prometer o fim do EI até porque “nunca na história os bombardeamentos aéreos, por si só, conseguiram vencer conflitos”.

Quanto ao facto da opinião pública se ter insurgido contra as execuções do jornalistas americanos e ter acordado para o fenómeno do Estado Islâmico, Korb pede que se perceba uma realidade: “Nunca nos livraremos em definitivo do terrorismo. Antes do 11 de Setembro, o maior ataque em solo americano tinha sido levado a cabo por Timothy McVeigh, um antigo militar nosso. O terrorismo tem várias faces”.

Receio de um ataque contra os EUA

Ontem, o Congresso americano reuniu o Comité de Segurança Interna e, de manhã à noite, ouviu vários peritos sobre o grau de ameaça que o Estado Islâmico representa para o território dos EUA.

Francis Taylor, vice-secretário do “Department of Homeland Security”, explicou que o “raio de acção do grupo é, acima de tudo, regional”. Porém, deixou o aviso: “Com o número significativo de europeus e americanos a combater na Síria e Iraque, essa ameaça pode vir a manifestar-se na Europa ou até mesmo nos Estados Unidos”.

Lawrence Korb faz uma análise diferente. “O risco de um novo ataque em solo americano levado a cabo por ex-jihadistas não aumentou. Até porque estão todos identificados e qualquer regresso dificilmente passará despercebido”.

Se no Congresso a discussão era técnica, no Senado ela era acima de tudo política, com os republicanos a criticarem o “Presidente fraco e indeciso” e os democratas a elogiarem a “maturidade” de Obama na análise do problema.

“Longe vai o tempo de irmos para uma Guerra sem consenso, baseada em mentiras, como fomos para o Iraque a conselho do senhor Dick Cheney”, acusou o líder da esquerda americana no Senado, Harry Reid.

Por falar no antigo vice-presidente americano, ontem, numa conferência no American Enterprise Institute, Cheney fazia uma antevisão do discurso do líder dos Estados Unidos. “Frequentemente, o Presidente Obama responde às crises, dizendo todas as coisas que não irá fazer. Esperemos que essa atitude termine hoje. O Presidente tem de perceber que estamos em Guerra e que ele deve fazer o que for preciso para a vencer”.

Parecendo uma resposta directa a esta provocação, Barack Obama recordou no discurso de ontem que, ao contrário do que sucedeu no passado, “o poder americano não age sozinho e de forma unilateral.”

RE

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