og narren er meg em norueguês

Ainda não coloquei a vista em cima da primeira série portuguesa da Netflix, que salvo erro e omissão se chama Glória que espero que safe bem, felizmente. A Netflix (como a HBO etc. etc.) são as meninas dos olhos dos tugas e hoje não ter um desses provedores globais (vulgo, plataforma) de filmes e séries de televisão via streaming (como consta na Internet), é mais ou menos como não ter telemóvel nos idos dos noventa.

Só um gajo como eu (e tantos outros), apenas um grau acima da indigência mental pode não ter como principal objectivo de vida, consumir horas diárias de uma dieta contínua de series e mais séries. Mas não vou discutir aqui qual é melhor, se as séries se o cinema que, meus amigos, esse é um mundo onde há de tudo como na farmácia (ou havia). Escrevo-vos, pensando em “Fina Finança” uma série (agora na temporada 2, que terminou a apresentação recentemente) norueguesa que passou recentemente na RTP2, sobre quatro amigos financeiros.

Tudo aquilo tem um fundo de realidade e a série baseia-se em entrevistas e declarações que reportam situações reais: aqui, convém fazer um parêntesis, a realidade, enquanto mote para filmes, séries e livros está muito sobrevalorizada. A ideia de se inventar uma situação passível de ser escrita ou filmada parece, hoje, completamente démodé. Parece só se poder inventar, exagerando, como os heróis da Marvel ou os mortos vivos.

Estamos no meio de um mundo demasiadamente literal em que – parece – só o real pode contrariar o extraordinário e no meio termo está uma terra que ninguém vai perceber ou gostar. Mas sendo a série, uma leitura de um estilo de vida, safa-se muito bem. Quatro amigos (e isso fica-nos sem alguma espécie de dúvida) apresentam a sua vida caótica, inescrupulosa e – muito – endinheirada, onde se gasta rios de dinheiro em festas privadas, que no caso vertente, se passam num apartamento que as respectivas mulheres (que aparecem como meros figurantes, talvez bem mais do que isso, mas só no final da segunda temporada) desconhecem em absoluto. Falta só referir as omnipresentes lagostas (ás refeições) que são a par da droga (sempre), o combustível consumido em quantidades industriais pelo quarteto maravilha. A questão que faz a série, em minha opinião muito boa mesmo em termos absolutos, é que nos baralha as ideias sobre o bem e o mal, mais a moral que está implícita (e muitas vezes explicitamente) em cada uma daquelas acções. Sei que todos nós bons cidadãos – alguns – até tementes a Deus e praticantes das diferentes religiões à escolha, devíamos estar diametralmente contra aqueles desalmados, mas não é que – muitas vezes – simpatizamos com aqueles noruegueses? Isto mostra bem o que se pode pensar sobre a natureza humana e estou a falar por mim.

Para fechar a coisa penso que há outro pormenor que vos lembro: habitualmente dizemos que a língua portuguesa (ou outra qualquer que não seja o omnipresente inglês) é impeditiva que se façam melhores trabalhos e aqui está um exemplo do contrário: o norueguês parece-me uma língua, no mínimo difícil, para estas coisas e no entanto aqui está um bom exemplo de como a coisa funciona. Como aqueles restaurantes que estão no fim do mundo; se a comida for boa estão cheios.

Fernando Proença

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