A pouco mais de uma semana da realização do Congresso do PCP é portanto natural que o que antecede a sua realização, como até ao fim do evento, quer no plano político quanto à proposta que ai vai ser discutida e aprovada, quer sobretudo à composição dos vários órgão de direcção, e em particular o seu núcleo executivo, suscita natural interesse por parte de toda a esquerda.
Pelas declarações que vêm sendo produzidas por Jerónimo de Sousa (JS), em entrevistas a vários órgão de comunicação, é possível politicamente deduzir, a existência de alguma tensão interna centrada na oportunidade e valor do acordo entre PCP e PS movimento secundado pelo Bloco de Esquerda, os quais permitiram que o PS formasse governo e com base em tais acordos se tornasse possível romper em muitos aspectos com a política de direita, em particular na área social, reformas, pensões, reposição de salários na função pública, direitos, num processo que desde há muito não se verificava na sociedade portuguesa.
É claro que tais acordos não eliminaram diferenças que permanecem nos projectos políticos de cada um dos partidos, quer quanto aos seus objectivos programáticos, ao ritmo e caminho para operar transformações mais profundas na sociedade tendentes a diminuir as diferenças entre os mais desfavorecidos e os possuidores de riqueza acumulada, independentemente das crises económicas que atravessamos porque, sem populismos fáceis, a verdade é que foram os mais desprotegidos que no fundamental a pagaram.
Como noutro plano permanecem diferenças não só quanto ao nosso relacionamento com a EU como quanto ao interesse ou não no projecto europeu. Comungo aliás de muitas das preocupações expressas em relação ao montante da dívida e aos seus encargos como elemento de grande importância a condicionar o nosso desenvolvimento, como também me incomoda que a pretexto da crise, Bruxelas centralizasse poderes que lhes conferem o direito de uma aprovação prévia do nosso OE e por aí adiante o que em muitos casos nos coloca numa situação perto da humilhação.
Mas, aqui chegados, igualmente me preocupam as declarações de JS, quanto à renovação dos acordos, num tom que deixa antever sobretudo as tensões internas em que o PCP se debate, declarações contraditórias até, quando se refere ao bom clima que se observa no relacionamento entre PS e PCP. Creio por tal que a rotura se revelaria um desastre político para o PCP que a esquerda em geral não deseja. Significava isolamento político e mais difícil participação nos assuntos do governo.
É claro que a bem do País todos desejamos a renegociação da dívida como a construção de uma União Europeia mais de acordo com ajudas a processos de desenvolvimento dos países do sul. Menos dominada pelo especulação financeira. Mas a tal processo não se chega com base em bravatas que ignoraram ou subestimam a correlação de forças politicas em presença. Trata-se de um processo lento, que obriga pacientemente a atrair forças para tal objectivo e é para cumprir tal desiderato que o posicionamento das forças à esquerda do PS se devem mobilizar.
Porque ” todas as pessoas que não aproveitam as oportunidades e depois recriminam o destino ” provérbio islâmico do século X com origem em Samarcanda, serve na perfeição para identificar, na minha perspectiva, o que urge fazer.
