Pernóstico

A guerra entrou em velocidade de cruzeiro e, não fosse ir-nos ao bolso de uma forma descarada, já tinha passado para a gaveta das meias de Inverno, aquela que só por um torpe engano ou por hábito não é suposto ser aberta antes de Outubro/Novembro. Sobre o problema atrás descrito, cada vez me lembro mais daquela frase (salvo erro de escritor Joseph Roth) em que se lê, salvo erro, “as guerras não se ganham, perdem-se” e porventura terá saído daqui “as finais não se jogam, ganham-se” de José Mourinho. Por acaso (mas só por acaso) e não tendo bolas de cristal, mas um dedo adivinhador que não, não é o mindinho, dá-me a ideia de que a guerra vai acabar (segundo o actual formato) com metade da Ucrânia na mão dos russos, um país (as duas metades) completamente destruído, muitos milhares de mortos e Zelensky a pedir que o Ocidente pague a factura. No meio, penso que alguém devia meter na cabeça dos responsáveis, que as perdas vão ser enormes e que, feitas as contas, todos vamos perder. Penso que alguém se deveria ter chegado à frente, seja lá o que isso for, para ir convencendo os políticos que como na anedota, os custos de investimento e manutenção não justificam os fins. Quem berra diariamente “vamos para a frente até à vitória final”, provavelmente a lembrar-se das glórias da segunda guerra mundial, em que os bons ganharam aos maus, devia pagar cinquenta flexões, só para começar, seguido de mobilização para o combate no prazo de quarenta e oito horas. Esta é gente muito bem instalada (apesar de querer demonstrar o contrário) na vida que, mais uma vez, não reconheceria a realidade, nem que chocasse de frente com ela. Tenho a certeza que vamos continuar numa espiral inflacionista, a pagar as sanções, comprando o petróleo russo a intermediários (que, segundo parece, o compram à Rússia), mais caro hoje, amanhã e depois. A despropósito: ouvi uma comentadora, dizer a respeito de uma corrida às bombas para antecipar – mais – uma subida dos combustíveis, que “as pessoas foram apanhadas – desculpem-me a expressão – de surpresa”. Embirro solenemente com estas minudências sobre o português. Qual é o mal de se dizer que “as pessoas foram apanhadas de surpresa”? Será uma frase digna de gangues na abertura do noticiário na CMTV? Como é que isso se entenderia no livro de estilo da estação em causa? “As pessoas foram informadas com demasiada aproximação à hora designada, sobre a alteração dos preços em recinto existente para o efeito”? Falar informalmente não deslustra e devolve-nos ao mundo. Por isso causam-me arrepios os paineleiros que se estão sempre a interromper o discurso para afirmar que certa frase sua “tem aspas”, como se fosse inaceitável o uso de expressões abaixo de cuntatório e filaucioso. Por isso os tugas não estranham quando ouvem as telenovelas portuguesas em que ao actores falam como ninguém, na realidade, fala.

Fernando Proença

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