Assiste-se a uma diminuição das liberdades individuais sem alguma correlação com este período de pandemia. Um dos factos é a proibição da pesca desportiva no antigo porto comercial de Vila Real de Santo António. Digo antigo, porque o estado de abandono é notório e não se sabe se a Docapesca exerce um qualquer meio de administrar este local que teve os seus momentos áureos entre a sua construção nos anos 30 do século passado e finais dos anos 70. O declínio é bem demonstrado com um remate certeiro no vosso jornal de 9 de maio de 2020, artigo de autoria do Sr. Neto Gomes.
Neste cenário digno de Bagdad Café, a única atracão é a sucata do navio-balizador Charles Babin, construído em 1949 e abatido em 2013. Um navegador visionário Raffin-Cabaisse, quis fazer realizar um projeto louco e transformar o navio num veleiro para seguir os passos de Fernando de Magalhães. Como teve mais olhos que barriga, acabou por vender o espolio a um franco ucraniano, que lhe colou um jacúzi no convés para fazer uma residência flutuante no Danúbio. Como os motores da sucata já não funcionam, atracou um patrulhador para o rebocar até destino final. Ironia do destino, o patrulhador chama-se Phénix, que diz a lenda, podia transportar em voo um elefante nas suas garras, mas este, coitado, lá empurrou o elefante até ao porto de Vila Real de Santo António, e aqui jaz desde o dia 20 de outubro de 2018. A lenda diz que o Fénix renasce das suas cinzas, mas este e o Charles Babin só a ferrugem os sepultara…
Neste cenário de desolação, existe um parque de estacionamento para autocaravanas, frequentados por estrangeiros, maioritariamente franceses. Estes tinham como único lazer a pesca desportiva. Mas ultimamente a polícia marítima teve uma frenesia securitária contra o pacato cidadão e decidiu proibir a pesca desportiva. O mesmo aconteceu no porto de pesca de Olhão, com multas e publicação nos jornais, como se um crime horroroso se tratasse.
Durante décadas, o povo pescou neste porto. Os marinheiros do navio da marinha nacional, quando este está esporadicamente atracado, também pescam.
Esta proibição não tem fundamento porque o local onde se pesca não tem nenhuma atividade marítima.
Os nossos amigos autocaravanistas franceses, revoltados com esta decisão arbitrária, levantaram ancora e fizeram um apelo no Facebook para que não venham estacionar no porto comercial de Vila Real de Santo António.
Solicitei ao Sr. Capitão-tenente Vasconcelos de Andrade, responsável pela Capitania e Polícia Marítima um encontro para abordar este assunto. Não tive resposta. Talvez um artigo no Jornal do Algarve abane certos preconceitos…
António Oneto