Pormaiores

Num exercício de memória, não muito comum em quem não venceria um peixe de aquário, veio-me à ideia os documentários que antecediam os filmes (que passavam nas salas de cinema) antes do vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro. Passavam os ditos – documentários – não me lembro exactamente o momento, um pouco antes ou depois do trailer dos filmes que iriam estar em cartaz e chamavam-se qualquer coisa como, “Jornal de Actualidades” (não tenho a certeza do que estou a dizer, não vou à net espreitar, mas os que se lembram sabem do que estou a falar).

Era um fartote de informação, que veiculava o que o poder da altura entendia que nos fazia bem à tosse: eram novas cá do burgo, mas principalmente notícias das “províncias ultramarinas”; caminhos alcatroados em Luanda, uma nova barragem para Moçambique, ou a inauguração de um chafariz numa das ilhas do arquipélago de Cabo Verde.

Passados cinquenta anos, a RTP1, para comemorar os cinquenta anos do vinte e cinco de Abril, resolveu dar uma volta aos seus arquivos e está a passar (por exemplo no momento em que alinhavo estas palavras) pequenos excertos dos telejornais da altura, dia após dia e que infelizmente se assemelham, aos olhos de quem agora os vê, aos documentários de que lhes falei atrás. Eles, RTP, podem embrulhar o que mostram nas melhores roupagens, mas sem outra intervenção que uma breve explicação e legendagem, o que fica (pelo menos para o Avarias) são puras peças de propaganda sem nenhum trabalho verdadeiramente jornalístico. Para sublinhar as minhas razões, lembro o que aconteceu no dia em que se mostrou a ida de Américo Tomás a Peniche para inauguração de um novo molhe e observação das dragagens do porto. O que se vê na peça exibida, além do habitual fandango das peças televisivas feitas por encomenda, é um pormenor que merece destaque, e o diabo, como os meus amigos sabem, está nos pormenores: nas imagens em que Américo Tomás se passeia junto ao mar vê-se nítida e claramente o forte de Peniche que na altura era prisão e uma prisão alto lá com o charuto, não um presídio normal, mas político, onde era encerrava gente que se atrevia a criticar o sistema político da altura.

Pois se existia algo que, hoje, se pudesse pegar para falar no vinte e cinco de Abril talvez fosse, sobrepor as imagens de Américo Tomás e a sua propaganda (aí não muito diferente do que os governos fazem hoje, também é verdade), com a existência de uma prisão para pessoas que o único “crime” que tinham cometido eram serem adversários do regime fascista da altura. Assim, como as coisas foram feitas, perdeu-se mais uma oportunidade para reconhecer a verdadeira natureza do regime da altura. E, pese o palavreado dos jornalistas de agora, são momentos destes que formam militantes do Chega.

Deixe um comentário

Exclusivos

Agricultura regenerativa ganha terreno no Algarve

No Algarve, a maior parte dos agricultores ainda praticam uma agricultura convencional. Retiram a...

Liberdade e democracia na voz dos mais jovens

No 6.º ano, o 25 de abril de 1974 é um dos conteúdos programáticos...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril -consulte aqui a programação-

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.