Portimão despediu-se de Pacheco, um dos nossos maiores nas coisas do futebol…José Barão: 1904-2004, escreveu Fernando Reis

A um sábado, de 30 de Março de 1957, nascia o Jornal do Algarve, inspirado pelo bondoso e inteligente pensamento de José Barão e será outra vez a um sábado [que aí vem a 30 de Março], que o Jornal do Algarve, comemora 67 de vida, de luta, de independência e de liberdade, mas sobre a exaltação deste acontecimento, diga-se, que comprova a resistência do saudoso Fernando Reis e agora de Luísa Travassos, voltaremos ao tema.
Por agora, e ainda sobre José Barão, fazemos emergir, o que na JA MAGAZINE, de 26 de Agosto de 2004, já lá vão 20 anos, escreveu no seu Editorial, Fernando Reis, precisamente sobre José Barão, com o título: José Barão: 1904-2004 [e que agora fosse vivo, faria 120 anos]
«Apesar de ter nome de rua em Vila Real de Santo António e ser recordado, periodicamente, por ocasião do aniversário do Jornal do Algarve, que fundou, em 1957, com um grupo de vila-realenses ligados às artes gráficas e às letras, na sua maioria auto-didactas, José Barão ainda não recebeu, até hoje, a homenagem que a sua acção em prol do Algarve e, em particular, do desenvolvimento turístico justifica. Fosse ele estrangeiro ou daqueles forasteiros nacionais que por aqui se radicam e, muito provavelmente, já teria o seu busto numa praça da capital algarvia e merecido o reconhecimento da Região e, quiçá, do país. Mas, infelizmente, é algarvio e, ainda por cima da ponta mais esquecida do sotavento. Aliás, acontece com José Barão o mesmo que continua a verificar-se, ainda hoje, com a pleíade de algarvios que se vão distinguindo na ciência, nas artes, nas letras, na medicina, no desporto e em muitas áreas, sem que deles e da sua obra se faça o indispensável estudo e divulgação que é, ao fim ao cabo, a massa com que se fabrica a verdadeira identidade regional. Mas deixemos este tema para uma outra reflexão.
Não é exagerado afirmar-se que muito do que o Algarve é, actualmente, enquanto região turística, deve-se a José Barão e ao Jornal do Algarve. Os primeiros anos do Jornal, estávamos nos finais dos anos 50 início dos anos 60, foram dedicados a promover as potencialidades turísticas da região e a sensibilizar os investidores para o interesse desta actividade. Assim, nasceu a «Operação Algarve Turismo» e, graças a ela, os primeiros hotéis algarvios; o Vasco da Gama, em Monte Gordo e o Algarve, na Praia da Rocha.

Editorial do nossa saudoso Director Fernando Reis, no JA Magazine, de 26 de Agosto de 2004, em homenagem ao nosso saudoso fundador e Director José Barão


O Jornal do Algarve, sob a inteligente orientação de José Barão, numa época em que a imprensa vivia amordaçada pelas grilhetas da censura, assumia uma dimensão verdadeiramente regional, que ainda hoje mantém, e uma vocação reivindicativa, sob a máscara de um bairrismo que a ditadura até estimulava. O Jornal do Algarve cumpria, assim, a sua vocação inicial, expressa no editorial do primeiro número “ser um grito, que partindo do um extremo da terra algarvia se ouça por toda ela…]
Com persistência, quase semanalmente se reivindicava um aeródromo, uma universidade ou o desassoreamento do Guadiana1. Com a habilidade e as forças possíveis, num quadro de ditadura, o Jornal conseguia, ainda, dar voz a muita gente que clamava por liberdade e democracia.
Regionalista convicto tinha um conceito de jornalismo, aprofundado na “escola” de O Século, onde se distinguiu como repórter, bastante avançado para a prática existente então na generalidade da imprensa regional. Mantendo as características de proximidades próprias dos jornais de província, patente em muitas secções e notícias pessoais, conseguiu criar um semanário regional moderno, que rapidamente se tornou o jornal de referência que ainda hoje é.
Como já o temos afirmado, o segredo de continuarmos na liderança da imprensa regional algarvia2 está na forma como assimilámos o projecto jornalístico iniciado por José Barão. Para a Viprensa, a aquisição do título, em 1983, foi mais uma herança que uma compra.
Fiéis a esse legado, tivemos, apenas, que adaptá-lo, com preciosa colaboração de José Manuel Pereira e Maria do Amparo Romão, depositários desse passado, a uma nova era de liberdade e democracia e fazê-lo avançar ao ritmo da evolução das novas tecnologias, como um projecto economicamente autónomo, independente e pluralista.
Com o centenário do seu nascimento, chegou a hora de se homenagear, finalmente, José Barão com a dignidade e a dimensão que a sua acção justifica.
Pela nossa parte, para além deste Magazine Especial e de uma conferência que queremos realizar em Setembro próximo, sobre o Jornal do Algarve e José Barão, com a presença de prestigiadas figuras do jornalismo algarvio que fizeram escola no Jornal, vamos instituir um prémio com o seu nome, para premiar os melhores textos jornalísticos dos alunos das escolas algarvias, no âmbito de um concurso que pretendemos organizar.
Há, contudo, uma divida para com José Barão, que só uma distinção de carácter regional poderá saldar. A do organismo máximo do turismo algarvio- RTA.
Aqui fica o desafio!»

Portimão despediu-se de Pacheco, um dos nossos maiores nas coisas do futebol…
Centenas de pessoas, que ocorrerem de vários lugares do Algarve e do País, participaram nas cerimónias fúnebres de António Pacheco, que nos deixou no passado dia 20, após sofrer um enfarte, e que ao longo da sua carreira, além de ter vestido a camisola da Selecção Nacional, pela Torralta, Portimonense, Belenenses, Reggiana, Santa Clara, Atlético e Estoril, sofreu um enfarte no dia 12 deste mês.

António Pacheco, velha glória do nosso futebol, que nos deixou no passado dia 20. (Foto que fomos buscar ao arquivo do amigo e jornalista Armando Alves)


Benfica, com Rui Costa, Portimonense, Fernando Rocha, Sporting, com Sousa Sintra, antigo Presidente e que esteve no centro da grande polémica, quando conseguiu as transferências de Pacheco e Paulo Sousa, do Benfica, para o Sporting, assim como muitas outras figuras ligadas ao futebol e à cidade de Portimão, com destaque para Isilda Gomes, Presidente da Câmara, a quem coube a leitura de algumas fases da homilia, despediram-se de António Pacheco, num cerimónia arrepiante, carregada de emoção e de gente a sofrer com lágrimas…
Antes, durante e depois das cerimónias, que tiveram lugar na Igreja do Colégio, em Portimão, foram escutados alguns trechos ligados ao momento, por uma violinista que não conseguimos identificar, mas que foram instantes de enorme solenidade, cujos trechos musicais trouxeram o mais profundo silêncio e emoção a cada um de nós.
António Oliveira (Toni), Rui Águas, César Brito, Diamantino Miranda, Paulo Madeira, Augusto, Rui Manuel, José Carlos, José Manuel Proença, Amílcar Fonseca, Luís Saura, Hélio, veterano do Portimonense, Delgado, ex. jogador e ex. secretário técnico, Paulo Sérgio, treinador do Portimonense, Armando Alves, jurista e jornalista do Record, amigo de infância de Pacheco, foram muitas das figuras, entre outras tantas da vida publica e desportiva do Algarve e do Pais, que marcaram presença no adeus a Pacheco.
Todavia, o momento mais arrepiante, foi quando sua filha, Matilde Pacheco, leu um texto de sua autoria, arquitectado no amor, na emoção, na afectividade, exaltando a memória de seu pai, num sentimento, que foi buscar ao fundo de todas as suas forças, dizendo em certo momento: “Foste um melhor pai do mundo, nunca mais esquecerei o teu sorriso, o teu carinho e o teu colo. Tudo faremos eu e o mano, para honrarmos a tua memória…”
Cruzei-me com António Pacheco, enquanto secretário técnico do Portimonense e com ele mantive, embora à distância, a amizade e o respeito, que consagram duas gerações, que ao longo de um ano, andaram sempre no mesmo barco, o Portimonense Sporting Clube…
Pacheco, nome de jogador. António para a família. Já tenho saudades tuas…

1 Atenção são. As notas são da responsabilidade do autor do «Remate Certeiro». Só este ficou sempre para trás até hoje. É por estas e por outras, que a democracia tem dias que cheira mal.
2 E ainda hoje é, apesar de algumas perseguições.

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