Portugal pode deixar de ter rating “lixo” na Fitch já em outubro

ouvir notícia

.

A dívida portuguesa pode deixar de ter classificação de ‘lixo’ pela agência Fitch já em outubro depois de hoje ter passado a perspetiva de Negativa para Positiva. Michele Napolitano, diretor da empresa e responsável pela avaliação do Estado português, lembra que “o horizonte desta perspetiva é de dois anos mas isso não significa necessariamente que Portugal tenha que esperar dois anos” e diz que tudo depende da materialização de um conjunto de “gatilhos”.

Estes gatilhos, explica Napolitano em conversa telefónica com o Expresso a partir de Londres, tem a ver com o continuar do esforço de redução do défice, do peso da dívida no PIB, e do défice externo, bem como o início da diminuição do endividamento das empresas – que praticamente não se alterou desde o início do programa – e a confirmação do acesso ao mercado de dívida.

“Se tivermos evidências que esses rastilhos se estão a materializar podem ser considerados já na próxima revisão”, refere o responsável da Fitch. Antes disso é praticamente impossível já que as novas regras europeias impõem um calendário rígido e as agências apenas podem fazer revisões extraordinárias em casos muito excecionais.

- Publicidade -

A subida deverá ser pela margem mínima mas que permitirá Portugal sair do ‘lixo’ (junk bond na denominação inglesa) e não é necessário que todos os rastilhos se confirmem, basta que uma parte significativa se concretize. “Não será mais de um nível, pois os indicadores fundamentais da economia portuguesa são ainda muito frágeis, nomeadamente a elevada dívida pública e privada”.

Questionado sobre o aparente desfasamento entre o olhar dos mercados, que neste momento cobram taxas de 3,9% a 10 anos a Portugal, e as agências de rating que mantêm a dívida abaixo do nível de investimento. Das quatro agências consideradas pelo Banco Central Europeu, apenas uma – a canadiana DBRS não tem Portugal em lixo o que permitirá que os bancos continuem a usar a dívida pública nacional como colateral (garantia) nas injeções de liquidez.

No caso da Fitch, a notação mantém-se em BB+ desde novembro de 2011 e agora apenas mudou a perspetiva. No entanto, as taxas de juro no mercado secundário de então eram bastante superiores. “Os mercados e as agências de rating olham para coisas diferentes”, explica Napolitano. O analista lembra que a avaliação dos investidores é sempre mais volátil e lembra o episódio da crise política do verão passado quando os juros dispararam e os ratings não se alteraram.

“A nossa classificação tem sido consistente. Mantivémos BB+ [desde 2011] porque reconhecemos o progresso que Portugal fez mas com perspetiva negativa porque existem muitos riscos sobre o ajustamento, em particular riscos políticos”, refere. E acrescenta: “Nós olhamos mais para as alterações fundamentais de longo prazo na economia, que demoram mais tempo a materializar-se, por isso as alterações de rating são mais lentas que os movimentos de curto prazo no mercado”.
Sobre o tipo de saída do programa da troika, Michele Napolitano reconhece que “é muito claro que Portugal está em posição de ter uma saída limpa”, que é até a opção mais provável, e “não vê problema nisso” já que os juros no mercado estão muito baixos e a economia real está a melhorar. Sublinha mesmo que “uma saída limpa não terá qualquer impacto negativo no rating”. Ainda assim, considera que “uma linha de crédito cautelar seria benéfica para proteger Portugal contra eventuais riscos”.

RE

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.