“Que optem pelo melhor e não pelo pior e mais barato”

ouvir notícia

O cirurgião plástico David Rasteiro tem uma experiência e um histórico profissional de uma década, também com trabalhos na área da estética. Agora representando o grupo Lusíadas Saúde no Hospital Lusíadas Albufeira, o médico natural de Lisboa desmistifica a profissão e a escolha de cada um de ter o corpo que quiser, sempre a pensar na saúde em primeiro lugar. Em conversa com o JA, David Rasteiro, de 42 anos, revela que o grupo vai abrir uma nova clínica em Vilamoura e que acredita que o Algarve poderá ser um destino mundial de turismo médico

JORNAL do ALGARVE (JA) – Onde e como foi a sua formação profissional?

David Rasteiro (DR)A minha formação foi feita em Lisboa, tendo estado depois no Hospital de S. José. Toda a formação de cirurgia plástica e estética é feita num hospital público que tenha idoneidade para formar. Precisa de ter um serviço que tem acesso ao bloco operatório, internamento e onde as pessoas mais velhas fazem a formação a pessoas mais novas. Tudo isto demora seis anos, depois faz-se o exame e as pessoas escolhem as suas especialidades. Estive seis anos no internato cirúrgico e por lá fiquei mais sete anos. Passei parte da reconstrução mamária e na cirurgia plástica pediátrica, mas fui seguindo o meu caminho paralelamente com atividade em clínicas privadas de cirurgia plástica e estética. Fui crescendo e também fiz grande parte da minha formação no estrangeiro como no Brasil, Suíça, Holanda e Estados Unidos da América.

JA – Como surgiu a cirurgia plástica e estética no seu caminho?

DR – O curso de medicina é bastante teórico, mas achei que me faltava ainda mais prática, ou seja, é onde entra a cirurgia, a parte de resolver problemas de uma forma mais célere. A cirurgia plástica surgiu não só pelo gosto de aliar uma reconstrução ou uma modificação estética, mas também a possibilidade de abordar várias áreas. Olho para um nariz e sei que a parte anatómica é fundamental, mas na mama ou no abdómen não é menos importante. Mais do que saber reparar muito bem o osso de um dedo, é obviamente importante saber usar a técnica.

JA – Há diferenças na cirurgia plástica e estética entre países?

DR – Anatomicamente as pessoas são todas iguais mas há aspetos culturais, como a pele, que são diferentes. Os holandeses, por exemplo, são todos muito altos e os chineses são mais pequeninos.

JA – Porque decidiu trabalhar no Algarve?

DR – Depois de trabalhar em várias clínicas, há cerca de um ano achei que devia de tomar o passo de ter uma clínica própria, no sentido de trabalhar de uma forma independente e em nome próprio. A certa altura achei interessante criar uma clínica e convidar amigos para trabalhar, que fui conhecendo ao longo do percurso. Eu já vinha ao Algarve, mas falei com o grupo Lusíadas Saúde e acolheram-me de braços abertos, trazendo aqui um pouco das ideias e da filosofia que eu sempre pensei e fui fazendo ao longo do meu trajeto, entre as quais questões como a segurança, a tecnologia, fazer exatamente as mesmas cirurgias que fazemos pelo mundo aqui no Algarve, com um parceiro que dê condições para isso. Precisamos de um parceiro que nos dê esta questão da segurança, nomeadamente no bloco operatório e o apoio de internamento. Foi um desafio grande. Escolhi o Algarve porque gosto bastante, a minha avó era de cá e há aqui uma ligação. Acho que também há um défice, ou seja, há população interessada e o acesso não é tão amplo. A cirurgia estética é uma área que eu achei que podia investir e que, juntando um bocadinho o útil ao agradável, era algo que me interessava e me dá um momento de reflexão e pausa, com mais tempo para trabalhar, sem trânsito e outra qualidade de vida. Trabalha-se muito bem. Dotámos as equipas de conhecimento e mandei trazer para cá alguns equipamentos para as cirurgias, os implantes mamários e os ferros, para as coisas serem feitas como eu acho que devem ser feitas.

JA – O que é feito antes e depois de uma cirurgia?

DR – A preparação das cirurgias começa com um momento de consulta. Damos ainda acesso a uma simulação tridimensional, que é algo super interessante, sabendo gerir as expectativas e mostrando os problemas, porque a cirurgia plástica não é magia. Felizmente é pouco provável algo correr mal, mas quando corre menos bem, o mais importante é saber como vamos resolver. Na consulta fazemos uma boa avaliação, mostro sempre casos semelhantes, uma iconografia para as pessoas saberem o que é o antes e o depois e o que é a expectativa de resultado. As pessoas ficam internadas entre um ou dois dias, no máximo, e por vezes são cirurgias em ambulatório, que é algo que no generalizado da cirurgia faz-se muito. Isto era impensável quando eu comecei a estudar e é seguro, pois as pessoas vão para perto dos seus familiares. O que interessa é o bem-estar do paciente. A cirurgia plástica sempre foi muito adepta das operações relativamente rápidas e seguras, mas há timings que têm de ser respeitados. Damos também acesso uma rede de acompanhamento com fisioterapia em todo o Algarve, que eu montei, com vários fisioterapeutas que recebem os meus pacientes.

- Publicidade -

JA – Como surgiu esta oportunidade no grupo Lusíadas no Hospital Lusíadas Albufeira?

DR – Esta parceria com a Lusíadas Saúde surgiu de uma forma bastante natural, encontrando o espaço de abertura para trazer a minha palavra, mas também disponível para ajudar e para dinamizar, sobretudo agora com a abertura de mais uma unidade em Vilamoura, que tem a componente versátil ambulatória, o Hospital Lusíadas Vilamoura. A saúde é o bem mais essencial. O acesso e o valor à saúde ainda foi mais posto à prova com a covid-19. Os grupos esforçam-se para estar na vanguarda em termos de equipamentos, mas é importante não desvalorizar a parte humana dos profissionais e dos pacientes. A unidade de Vilamoura será um projeto muito interessante e que eu acho que vai crescer a sua visibilidade em termos de qualidade. Vamos manter um bom nível, um bom acesso aos portugueses e estrangeiros. São bons locais e temos condições para fazer quase tudo o que se faz no mundo inteiro e, portanto, não tenham medo de aceder aos serviços do hospital na área da cirurgia plástica e estética na Lusíadas Saúde.

JA – A cirurgia plástica e estética passa por modas e tendências?

DR – A parte da cirurgia plástica tem modas, mas não é tão de moda. Uma cirurgia de aumento de mama faz-se atualmente de forma muito semelhante como se fazia há alguns anos para cá. Nós não podemos estar a fazer experimentalismos. Tenho de fazer uma coisa que tenha historial, estudos e experiência e não posso inventar. Na estética das unhas, por exemplo, as pessoas podem ir pela moda, mas as cirurgias não podem ser por modas. Há tendências. Por vezes está mais em foco um determinado detalhe. Já em termos de marketing temos mais em foco a recuperação, o formato da prótese ou o tipo de soutien que se utiliza. Mas o percurso tem de ser todo responsável e bastante certificado. Não há inúmeras novidades cirúrgicas todos os dias e a toda a hora, há sim incertezas e depois há evoluções, incrementos e melhorias. As cirurgias não evoluem como os computadores ou a inteligência artificial. A cirurgia estética também evolui e tem tendências mais versáteis, além de uma sazonalidade. Já as técnicas de redução mamária que têm 20 ou 30 anos, apenas têm pequenos pormenores novos. Mas a base está lá e é a mesma. Isto não é como escolher uma roupa, é uma coisa bastante séria e tem uma lógica.

JA – Este tipo de intervenções ainda sofre de preconceito?

DR – Ainda existe preconceito em Portugal, ao contrário do Reino Unido, onde já é uma questão cultural. As cirurgias plásticas estão em crescimento e as pessoas percebem as suas vantagens e sabem quem sabe ou não sabe fazer. As gerações mais novas estão muito mais à vontade de falar, não de fazer. De fazer não há assim tanto preconceito. As pessoas simplesmente espalham mais a palavra. Sabemos que na cultura africana ou americana estão muito mais disponíveis para falar, enquanto em Portugal existe algum pudor, mas fazem.

JA – Que tipo de intervenções são mais procuradas pelos algarvios?

DR – Uma mulher com pele muito clarinha que viva no Algarve vai ter certamente mais problemas de pele e vai ter um desgaste maior. O envelhecimento cutâneo numa região que tem mais sol, para mulheres brancas, claramente é pior. Mas a procura pelos procedimentos não é assim tão regional. As pessoas procuram o que querem, as suas expectativas, e vêm aquilo que os médicos podem fazer. Essa adequação da gestão das expectativas é o mais importante da cirurgia plástica. As pessoas, às vezes, vêm com fotografias e os médicos têm de dizer que não é possível. Tenho bastantes pessoas com envelhecimento cutâneo a quererem liftings, rejuvenescimento da pele, vitaminas, peelings, lasers e preenchimentos. Mas essas pessoas vão à praia e querem colocar os peitos para cima. Sabemos que quando há praia e exposição corporal e solar, há uma grande procura. Até há uma grande população estrangeira que vem para o sul de Portugal, de origem inglesa, escocesa ou francesa que têm estas questões e já têm uma cultura, do ponto de vista da abertura espiritual para cirurgia, grande. Os homens acabam por procurar tratamentos capilares enquanto as mulheres muitas vezes procuram intervenções depois da gravidez, pois querem voltar a sentir-se bem e a ter auto-estima. Os mais jovens procuram lipos com muita definição e depois há mulheres entre os 30 e os 40 anos que já não têm mais bebés e querem voltar a ter os seus corpos de volta, o chamado mammymakeover, com a reconstrução da mama, redução mamária, lifting mamário, barriga com a correção da diástase, para ver-se livre das estrias e de gorduras. Às vezes consegue-se fazer tudo apenas numa só cirurgia. A nível da cara depende também das idades, mas eu gosto de dividir em dois tipos: embelezamento e anti-envelhecimento. Uma rinoplastia é para embelezar ou harmonizar. Com a idade começam a cair as peles da cara e da papada e temos opções não cirúrgicas e outras cirúrgicas mais efetivas que envolvem outro tipo de recuperação. Nós fazemos cirurgias porque as pessoas querem, não porque precisam, e isto dá mais responsabilidade parte a parte, mas fundamentalmente elas precisam de se sentir bem. Acho que as pessoas do Algarve são bastante trabalhadoras, têm um ritmo de trabalho grande e sazonal, aproveitamento essa sazonalidade para gerir a sua vida. É uma zona de grande trabalho, ninguém vem para o Algarve descansar, nem os que residem nem os que vêm para trabalhar. Quem vem cá vem à procura de uma recuperação de uma vida de trabalho, de um momento para si. Acaba também por ser um bom local de recuperação porque há vários serviços de enfermagem e de fisioterapia bem montados, que dá segurança.

JA – E há sazonalidade em algumas das intervenções?

DR – Uma cirurgia na face que tenha a necessidade de pouca exposição ao sol, é preferível que se faça no inverno, por exemplo. Por outro lado, há cirurgias que são todo o ano como a mamária, que juntamente com as lipos e as rinoplastias são as mais fortes. Gosto muito de cirurgias que façam transformações grandes e que tenham impacto na vida das pessoas, mas às vezes basta uma cirurgia de uma hora para isso acontecer. No pico do verão acabamos por não fazer tantas cirurgias porque há a questão do sol, mas são cirurgias rápidas que não envolvem uma oclusão solar total, entre abril e agosto. O preço deve estar no fim das nossas preocupações, em termos de saúde. Eu pretendo ter um serviço de exceção. Tenho pessoas de fora que vêm de propósito.

JA – Quais são os maiores receios e medos dos utentes?

DR – O maior medo das pessoas é sempre a anestesia, porque é a falta de controlo. Mas nós temos uma boa e experiente equipa. São pessoas que desde o primeiro dia estão habituadas a colocar uma pessoa sob anestesia e não saem da cabeceira. O bloco operatório é o sítio onde qualquer problema pode ser resolvido desde uma alergia, uma reação menos simpática, com toda uma equipa e um carro de emergência completamente preparado.

JA – As redes sociais aumentaram a procura por estas cirurgias?

DR – As redes sociais vieram aliviar as perguntas acerca do meu histórico de cirurgias. Eu tento ser muito sério nisso e desde sempre que sou um pioneiro nessa área em Portugal, além de ter um site próprio e quis sempre mostrar aquilo que consigo fazer, sem Photoshop ou demasiados floreados. Vou ser clínico, mas humano, esse é o meu tom. Quero ser uma pessoa próxima e desmitificar a ideia do cirurgião completamente rígido e que só faz aquilo que quer. Acabo por estar sempre muito envolvido nesse processo. Sou eu que filmo as coisas, maior parte das vezes. Tento não ser exagerado nem sensacionalista. Faço sempre o exercício de não enganar ninguém. Temos de ter alguma calma quando falamos com o público em geral. No entanto houve uma grande diferença com o aparecimento das redes sociais. Já havia diferença com as antigas influencers das revistas e filmes. Há muitos anos, os cirurgiões mais antigos operavam as personalidades e faziam toda uma sessão fotográfica, isso ainda existe, mas de uma forma mais viral. As redes sociais aumentaram muito o acesso das pessoas ao conhecimento no geral. As pessoas quando chegam aqui já sabem muita coisa. Ainda bem que há acesso e conhecimento e a nossa função às vezes é filtrar e saber explicar muito bem. As selfies alteraram tudo e foi super rápido. Não sei se alterou o público-alvo, mas alargou.

JA – O que o distingue de outros profissionais?

DR – Na minha opinião, trago dispositivos médicos, acessórios complementares à questão do contorno corporal, que acho que são melhores, desde a forma de aspirar, duas máquinas para aumentar a retração da pele para termos mais definição, radiofrequências e ultrassons que se fazem durante a cirurgia. Isto é um conjunto de equipamentos de topo no mundo para complemento às cirurgias mais clássicas. Temos também um laser de CO2 e um conjunto de produtos injetáveis excelentes. O botox tem muitos anos mas há preenchimentos de ultra geração com melhores qualidades e menos reações adversas, os bioestimuladores ou os fios de sustentação.

JA – Ultimamente qualquer gabinete de estética já oferece este tipo de procedimentos, que têm vindo a causar alguns problemas…

DR – Isso não é legal. Nós devemos pensar em termos de saúde pública que as autoridades estão atentas e já encerraram muitos sítios. Estes procedimentos são médicos, que envolvem esterilização, agulhas e produtos que mal utilizados podem causar infeções. Fazem aplicações em sítios errados como artérias ou utilizam produtos que não sabemos o que são efeitos por pessoas que não sabem o que estão a fazer. Têm uma pequena formação que é enganosa. Na verdade, não estudaram e cada um tem o seu papel. As pessoas devem investigar um pouco onde é que se vão colocar. A bandeira é sempre o preço, onde é mais barato, e da conversa de cortar o cabelo e fazer outro tratamento. Banalizam um ato que tem consequências. Já tive pessoas no meu consultório que fizeram injetáveis noutros sítios e depois foram operadas inúmeras vezes com uniformidades nos glúteos. Já tive pessoas a chorar porque fizeram injetáveis proibidos em Portugal e foram induzidas em erro através de um impulso e conselho de uma amiga. Estes produtos podem causar sintomas sistémicos, dores articulares, dores de cabeça e dificuldade de concentração. Há uma série de problemas graves. Já fiz inúmeras cirurgias reconstrutívas vindas desses problemas e depois envolvem ilegalidade, Polícia Judiciária e advogados. Nós como comunidade médica temos de contribuir e ser ativos, falando, atuando, denunciando e alertando, além de informar a população para ter cuidado em não cair nos impulsos e no que é mais barato. Que optem pelo melhor e não pelo pior e mais barato.

JA – O Algarve pode vir a ser um destino de turismo médico?

DR – O turismo médico sempre existiu e agora está forte. Na Turquia, com os implantes capilares mais baratos, num país com uma economia totalmente diferente, o que interessa é a questão da segurança, o que lhes é dito e o que é que é feito. Eu conheço cirurgiões turcos que são ótimos, mas têm o seu custo. Depois quando é muito barato, vêm com problemas, infeções ou tromboses. No entanto também há muitas pessoas que vêm do estrangeiro para serem operadas em Portugal. Há cirurgiões de nariz ótimos na Turquia e no Egito, que operam pessoas de todo o mundo. As pessoas têm de pensar onde é que vão meter o seu corpo. Têm de fazer as escolhas bem informadas e pensar nas suas expectativas e nos seus sonhos. Cada vez faço mais cirurgias de revisão, têm vindo a aumentar de pessoas que tiveram estes problemas. O Algarve tem todas as condições para ser um local de turismo médico. Quer na hotelaria, bons serviços, bons profissionais em todas as áreas. Não é fácil montar essa empresa grande do turismo médico, mas acaba por ter todas as condições, mas começa a circular.

Deixe um comentário

Tem uma Dica?

Contamos consigo para investigar e noticiar

- Publicidade-
- Publicidade-
- Publicidade-

Agricultura regenerativa ganha terreno no Algarve

No Algarve, a maior parte dos agricultores ainda praticam uma agricultura convencional. Retiram a...

Liberdade e democracia na voz dos mais jovens

No 6.º ano, o 25 de abril de 1974 é um dos conteúdos programáticos...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril -consulte aqui a programação-

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Finalistas do concurso “Três Minutos de Tese” fazem apresentações públicas na UAlg

A apresentação pública dos finalistas do concurso "Três Minutos de Tese (3MT-UAlg)" vai realizar-se...

EMARP lança campanha solidária com o Grupo de Apoio a Toxicodependentes

A Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão (EMARP) lançou a campanha "Fatura...

Tradição do 1º maio cumprida com festa em Odeleite

Este ano voltou a tradição da festa do Dia do Trabalhador em Odeleite, ontem...

Semana Náutica de Faro aproxima-se com atividades para todas as idades

O município de Faro, entidade coordenadora da Estação Náutica de Faro, vai voltar a...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.