Redacção 1968

Redacção 1968
Eu gosto muito de Festival da Canção. O Festival é muito bom, porque ganha sempre uma canção que depois vai à Eurovisão. Gosto de ver a Eurovisão na televisão, o futebol que dá três vezes por ano e a final do europeu de Hóquei em Patins, em que Portugal joga sempre, e geralmente perde, com a Espanha, tudo culpa dos árbitros, que são nossos inimigos porque temos pouca influência. No Festival da Canção gosto das gravatas sempre finas e dos penteados das senhoras, sempre grandes. No Eurofestival contamos sempre com a franquista Espanha, que nos oferece doze pontos em troca dos doze que também lhe damos, porque os restantes europeus querem o nosso mal e o fim do glorioso império colonial. A nossa canção só leva treze pontos, mas é a melhor. Trata-se de mais uma vitória moral nas artes.

Redacção 1988
Eu gosto muito pouco do Festival da Canção. O Festival é uma treta porque lá se encontram os resquícios do nacional-cançonetismo, como se os sucessivos vencedores fossem sempre representações de António Calvário, Eduardo Nascimento e Madalena Iglésias. A canção deve ser uma arma contra a burguesia e de certeza que nada disso se encontra num certame comercial que, à semelhança dos horríveis concursos para Miss Portugal, não valoriza o papel da mulher na sociedade. Lá fora continuamos espoliados de boas classificações, mas o que interessa isso?, queremos uma sociedade mais justa. As casas são do povo, o povo ocupa as casas. E no Eurofestival continuamos com problemas: recebemos pontos da Holanda e do Luxemburgo, mas os espanhóis, que nos continuam a ganhar no Hóquei em Patins, já deram para o peditório e só disponibilizam, de vez em quando, dois pontinhos para não dizer que se acabou tudo entre nós.

Redacção 2024
E voltei a gostar do Festival da Canção. Quero dizer, não voltei a gostar, mas hoje há gente, outra gente que passou a gostar do festival. É malta curtida noutros ambientes, inclusivos e sustentáveis e capazes de dar vida a um morto, desde que este declare por sua honra, renegar o uso de qualquer linguagem que não respeite os estreitos limites do politicamente correcto e, por essa via, passível de censura cancelamento. Se não cumprir os limites definidos no parágrafo anterior, então volta para o reino dos mortos. Estamos numa zona definida pela ideologia propalada pela Antena 3, que musicalmente me agrada, mas capaz de num ínfimo espaço de tempo passar para elegível e muito interessante o que até momentos antes era piroso, o que nem sempre é mau, mas nem sempre é bom. E desculpem usar esta redacção em causa própria para algo que me inquieta, mesmo vindo de um vosso criado que nem sempre usa bem as palavras. Por via do que atrás descrevi, por que razão é cada vez maior o número de palavras em inglês usadas, quando existe o termo português à mão de semear? Da treta do último festival das cantigas doméstico, ficou-me o nome dado à sala onde os artistas esperavam pelo veredito do público: Greenroom ou grinrum (riscar o que não interessa, de preferência os dois). Vergonha de ter nascido em Odivelas ou em Vila Nova de S. Bento?, que do Hóquei em Patins já ninguém se lembra.

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