Reino Unido expulsou adolescente vítima de tráfico sexual

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Katya foi espancada, torturada e violada

Reconhecendo que houve grave negligência dos serviços de emigração, o ministério do interior vai pagar uma elevada indemnização a uma jovem moldava

 

Uma jovem moldava a viver no Reino Unido vai receber uma substancial indemnização do Home Office, ou ministério do interior, por os serviços de emigração não se terem apercebido de que era vítima de tráfico humano quando há anos a detiveram e repatriaram para o seu país. Nessa altura, em 2003, a jovem tinha dezoito anos. Ao regressar à Moldávia foi espancada, torturada, violada e quase morta pelos mesmos que originalmente a haviam traficado. Só escapou por os seus torturadores quererem continuar a ganhar dinheiro com ela.

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O caso é um de vários que ultimamente têm embaraçado as autoridades britânicas. Conforme um chefe de polícia explicou antes do julgamento que não chegou a haver (o ministério do interior preferiu pagar uma pequena fortuna a ver os seus erros expostos abertamente numa sala de audiências) na época em que Katya foi repatriada havia um conflito mais ou menos permanente entre quem combatia o tráfico de pessoas e quem desejava simplesmente correr com o maior número de emigrantes ilegais. Os serviços de emigração ignoraram sinais óbvios e despacharam o caso, porque para isso estavam mentalizados.

A história começa anos antes, quando duas adolescentes de catorze anos foram convidadas para um piquenique por dois homens. Katya – o nome é fictício – e a sua amiga aceitaram. O calvário começou. Os homens arranjaram forma de tornar as jovens inconscientes, e levaram-nas através da Hungria e da Eslovénia até Itália, onde as venderam, cada uma a um homem diferente. Ambas passaram a viver fechadas num apartamento, saindo à rua só para se prostituir. Katya só voltou a saber da amiga quando um dia descobriu que tinha morrido.

Fugas e castigo

Pela sua parte, aguentou a situação até ao dia em que conseguiu escapar. Escondeu-se na embaixada da Moldávia e conseguiu arranjar uma casa que a acolheu. Quando viu que estava grávida, resolveu ir ter o filho na terra natal. Mas aí os traficantes apareceram. Bateram-lhe, submeteram-na a violações (bem como ao seu irmão), mataram o cão da sua família. O terror resultou. Ela aceitou voltar a prostituir-se, primeiro na Turquia e depois em Londres.

Foi um raid ao bordel onde trabalhava neste último país que levou à sua expulsão. Embora as autoridades compreendessem como ela tinha chegado ali, não quiseram saber. E mal ela chegou à Moldávia a violência recomeçou, dessa vez pior que nunca. Além de lhe baterem, fizeram-na escavar a sua própria sepultura. Então passaram-lhe uma corda à volta do pescoço e penduraram-na de uma árvore, antes de cortarem o ramo.

Seguiu-se uma violação de grupo. E quando Katya quis recusar-se a um homem, ela arrancou-lhe um dente a frio com alicate. Nessa condições, era inútil resistir. A prostituição escrava voltou a ser o quotidiano de Katya. E só quando voltou a ser presa em 2007 é que uma ONG a encontrou. Ouvindo a sua história, decidiu apoiá-la, mudando a sua vida. No processo que se seguiu, e cujo réu foi o Estado, ficou clara a extensão da negligência cometida em relação a Katya, como a inumeráveis outras vítimas.

Hoje Katya diz que continua a haver muitas jovens na mesma situação em que ela se encontrava. Garante que as reconhece quando as encontra na rua ou no metro, todas arranjadas e pintadas logo de manhã.

Outros casos de tráfico

Entretanto, outros casos de tráfico humano vieram à luz e fizeram manchete. Em Março, uma antiga diretora de hospital foi condenada a uma pena de prisão por haver mantido uma mulher tanzaniana como sua escrava doméstica durante anos. Reteve o seu passaporte, proibia-a de sair à rua, não lhe pagava, dava-lhe duas fatias de pão por dia. E quando ela se queixava, ameaçava-a e à família.

Já esta semana, quatro mulheres nigerianas em Londres obtiveram uma indemnização por motivos semelhantes. Trabalhavam das seis da manhã à meia-noite e nunca tinham férias, ordenado ou liberdade. E uma versão ainda mais sinistra do tráfico humano começa a ser conhecido com a informação de que adolescentes de origem estrangeira nascidas no Reino Unido estão a ser ‘criadas’ para a exploração sexual.

Ao que parece, isso é feito a coberto de uns ‘namoros’ que lhes arranjam com homens mais velhos que as levam de casa. Um desses homens foi agora condenado a uma pesada pena de cadeia.

Luís M. Faria (Rede Expresso)

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